Fim do conto de fada

Clarissa segue sem direção, as palavras daquela mulher ecoam na sua mente. "Você achou mesmo que ele estivesse apaixonado por você? Olha para você, uma aleijada" "Uma aleijada" "aleijada". Ela bate com as duas mãos no volante com toda a força.

— Porquê vocês fizeram isso comigo? Por quê? — As lágrimas não param de rolar por sua face, ela logo sai da cidade e continua sem rumo, na estrada ela para em um posto de gasolina e enche o tanque e segue sem rumo. O seu corpo já doía depois de tantas horas dirigindo, ela avista uma placa de motel e resolve entrar. Quando entra naquele quarto de motel, se sente um lixo, uma pessoa que foi usada e logo seria descartada. Ela chora, jogada em uma cama, as lágrimas pareciam não ter fim. Eduarda, como pode ter deixado Guilherme fazer aquilo com ela? Será pelo desejo de trabalhar na Construtora Magalhães? Ela que tinha dado todo o amor que podia a sua irmã, foi enganada pela própria. Ela estava se sentindo traída e machucada. Naquele quarto não estava uma mulher que não via as suas limitações, que não tinha medo de nada e nem de ninguém, ali estava uma mulher destruída pela traição das pessoas que ela amava. Ali estava uma mulher ferida, machucada, traída. Traída por aqueles que ela mais amava. Eduarda, a sua Eduarda, como pode fazer isso com a própria irmã.

Clarissa tira toda a sua roupa e se olha no espelho, nua, como veio ao mundo. É a primeira vez que ela olha atentamente a sua perna, se ficar na ponta dos pés, ela alcança o tamanho da outra, alguém uma vez lhe disse para fazer calçados especiais, mas ela nunca quis, já estava tão acostumada a andar com as suas sandálias rasteiras, sem se importar com as zombarias e as risadas. Pois, nunca se sentiu inferior pela sua deficiência, nunca se sentiu feia pela sua deficiência, nunca se sentiu incapaz pela sua deficiência. Mas ao ouvir aquela mulher dizendo "Você achou mesmo que ele estivesse apaixonado por você? olha para você, uma aleijada" foi como se ouvisse a palavra aleijada pela primeira vez. Ela chora se jogando no chão, pela primeira vez se sentindo uma aleijada.

— Ahhhhhhhh porquê eu nasci assim???? Por quê??? — Ela não consegue parar de chorar, a risada dos amigos de Guilherme, as pessoas a olhando... uma revolta surge dentro dela, uma grande fúria a inunda ela volta a ouvir as pessoas rindo as pessoas zombando, eles sempre a veriam como a perneta, como a aleijada... ela começa a bater na sua perna menor, e sente ódio daquela perna pela primeira vez

— Ahhhhhhhh... perna maldita. Eu te odeio, te odeio, TE ODEIO... Ahhhhhh — Ela chora o restante da noite até ser vencida pelo cansaço, adormecendo ainda nua naquele quarto de motel.

Quando acorda ela vê que o seu telefone está descarregado. Ela coloca no carregador e vai tomar um banho, quando acaba veste o roupão que tinha disponível e pede apenas um café. Ela liga o seu telefone, várias chamadas de Guilherme, Eduarda e até do seu pai. Ela passa uma mensagem para o pai apenas para o despreocupar.

"Pai eu te amo, mas preciso ficar sozinha" Logo que passa a mensagem o seu telefone volta a tocar. Primeiro Eduarda, ela rejeita, logo em seguida Guilherme, ela fica a olhar aquele nome até parar de chamar. Ele insiste uma, duas, três vezes, mas ela não atende. Ela toma o seu café e deita-se na cama, ela tem ciência que não pode ficar ali para sempre, mas não estava em condições de falar com ninguém.

— Mãe... porquê fizeram isso comigo, mamãe? — Clarissa passa a conversar com a mãe como se ela estivesse ali a ouvindo. Era uma forma de colocar para fora toda a sua dor. A sua mãe lhe ensinou tantas coisas, só esqueceu de lhe dizer que o amor pode machucar. Como ela amava Guilherme, e como ele a machucou.

Mais dois dias se passaram e ela continua naquele quarto de motel, tomando apenas café, pois não sentia fome. Ela resolve mandar uma mensagem para o pai, pois sabe que todos devem estar preocupados. Ela resolve mandar um áudio, ela sabe que Eduarda e Guilherme também terão acesso.

"Oi pai, me desculpa por te deixar preocupado. Já deve saber o que aconteceu, espero que o senhor não tenha feito parte disso também, pois será demais para mim. Eu preciso ficar sozinha, por um tempo. Avisa ao Guilherme que um dia eu irei buscar as minhas coisas. Pai, eu amo o senhor."

Como da outra vez, seu telefone toca, mas dessa vez Guilherme não insiste e logo ela recebe uma mensagem

"Eu sei que te magoei, mas precisamos conversar. Eu te amo Clarissa"

Como ela queria que fosse verdade, como ela queria acreditar nele, mas mesmo que fosse verdade, ele mentiu para ela, ele a enganou, deixou as pessoas rindo dela por acreditar que ele a usou. Ele foi cruel, foi mesquinho, foi desumano. Ele permitiu que as pessoas a chamassem de aleijada "Você achou mesmo que ele estivesse apaixonado por você? olha para você, uma aleijada", duvidando que ele fosse capaz de amá-la.

Ela volta a chorar, triste pelo seu conto de fadas ter chegado ao fim.

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Comments

Maria Nascimemto

Maria Nascimemto

como tem pessoas preconceituosas e maldosas,usando termos tão feios,acho eu me desculpem ela que é aleijada de cabeça, ser humano podre

2024-12-29

4

Gilvanise Azevedo

Gilvanise Azevedo

Nossa que tristeza 😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭

2024-12-24

0

Lu e a Estante de Sonhos

Lu e a Estante de Sonhos

Só eu que estou chorando, junto com a Clarice???😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭

2024-12-12

1

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