Hora de enfrentar a realidade

Guilherme continua tentando falar com Clarissa, ela não atende as suas ligações. Segundo o áudio que ela encaminhou para o pai ela está disposta a deixá-lo. Mas ela precisa ouvir o que ele tem a dizer. Sandra o havia procurado, mas não o acusou, pois já estava muito arrasado para que ela pudesse dizer: 'eu te avisei', decidiu apenas o incentivar a conversar com ela e o aconselhou a dar o tempo que ela precisava. Estava sendo difícil para ele, mas ele sabia que para ela, estaria sendo muito pior. Pois, estava sofrendo sozinha em algum lugar, e pela sua voz no áudio, era nítido que as lágrimas ainda não haviam acabado. Ele nem imagina onde ela possa estar, já verificou todos os hotéis das cidades próximas, mas em nenhum ela se hospedou. Ele se pergunta como ela está, pois, é muito difícil ficar sem notícias, a preocupação é grande e o arrependimento pelas atitudes erradas também.

No outro lado da cidade, Clarissa resolve conversar com o gerente do motel, ela decide alugar um quarto por um mês, ela sabe que não irão procurá-la em um motel. Ela decide fazer algo por ela, ficar apenas chorando, jogada em uma cama, sentindo pena de si mesma, não vai ajudá-la a sair do poço que ela se encontra, ela precisa buscar forças e encarar a subida, precisa sair do fundo do poço onde se encontra. Precisa fazer isso por ela, sua mãe não ia querer vê-la entregue a derrota, precisa de uma novo rumo para a sua vida. Ela usa o seu celular para procurar emprego, ela envia o seu currículo a várias empresas, e com um pouco de sorte poderá ser chamada para uma entrevista. Ela sabe que precisa buscar as suas coisas no apartamento de Guilherme, mas ainda não está preparada, pois não quer se encontrar com ele por enquanto. Ela decide sair e comprar algumas peças de roupas, ela compra alguns vestidos simples para ficar no quarto e duas calças pantalonas, uma preta e outra vinho, compra também duas blusas pretas, precisava estar preparada, caso fosse chamada para alguma entrevista. O dinheiro da sua indenização estava guardado, pois, havia pedido para ser mandada embora e como sempre foi uma ótima funcionária, não encontrou problemas. Ela sabe que com o dinheiro que tem guardado, poderá ficar um tempo sem se preocupar com problemas financeiros, mas precisava conseguir um novo emprego, o home office que estava trabalhando, não daria a ela o salário o qual estava acostumada.

Era o final de tarde e estava deitada quando o seu telefone toca "Eduarda" ela rejeita, um dia poderia até perdoá-la, agora não. Guilherme ligava todos os dias, mas ela apenas deixava tocar, e geralmente ficava olhando o telefone enquanto tocava, nunca na sua vida se sentiu tão traída, tão usada, era como se ela fosse a ovelha e ele o lobo que a conquistou. Os dias foram passando e as vezes ela mandava mensagem para o seu pai, mas sem nunca dizer onde estava.

Ainda lhe restava quase duas semanas para permanecer naquele quarto de motel, quando recebeu uma ligação para uma entrevista, em uma empresa de produtos cosméticos. Se sentiu confiante, estava tentando recuperar a sua autoestima, e todos os dias conversava com a mãe em pensamentos. No dia da entrevista, ela arrumou-se, fez uma maquiagem básica, pois não tinha como fazer melhor e foi não tão confiante como gostaria, mas precisava dar o primeiro passo. Ela pediu ao gerente do motel para imprimir algumas coisas para ela e levou tudo organizado.

Acreditou ter ido bem na entrevista, mas pela primeira vez se sentiu insegura devido ao seu problema, era como se as palavras daquela mulher soassem repetidamente em seus ouvidos. Mesmo não se sentindo confiante, tentou não transparecer, precisava recuperar o que havia perdido, a confiança. No dia seguinte, ela recebeu uma ligação da empresa, dizendo que ela havia sido aprovada e se poderia começar na segunda, ela quase perguntou se era sério? Ela mesma estava a duvidar que fosse aprovada, e ao receber a ligação, ela não pode deixar de se emocionar, pois, ela estava a ver uma oportunidade de um recomeço. Ela sentiu-se imensamente feliz e grata, pois era tudo o que precisava no momento, voltar a sua vida.

Quando foi sexta-feira ela precisaria ir embora, estava um mês, longe de todos, iria embora, estava na hora de enfrentar a realidade, ela agradeceu ao gerente pelo que fez por ela. Ela entra no carro e fica um tempo buscando coragem de enfrentar a situação, não ia se mostrar a coitada para ninguém, mesmo que por dentro se sentisse destruída. Respirou fundo e seguiu para o apartamento de Guilherme, não mais conseguia falar minha casa, pois ali não era mais o seu lar. Nos dias que passou sozinha, ela pensou muito no que fazer, e estava decidida a não se prejudicar por ninguém, muito menos por Guilherme, o causador de todo o seu sofrimento. Quando ela chega no apartamento, pega as suas coisas que estavam ainda no quarto dele e leva para o quarto de hóspede, estava decidida a ficar ali até conseguir se consolidar no novo emprego. Depois que arrumou as suas coisas no novo quarto, foi até o escritório e enviou um emal pedindo o seu desligamento da firma para a qual estava trabalhando em home office. Juntou as suas coisas do escritório e deixou tudo organizado. Após tomar um banho sentou-se no sofá para esperar Guilherme. Enquanto espera, decide fazer algo para comer, pois, provavelmente ele já tinha voltado a sua vida de solteiro. Ela acaba de preparar um macarrão simples e após colocar o seu prato se senta no balcão para comer, esperaria ele vendo TV, e se ele aparecesse com alguma mulher, daria com a vassoura nos dois, e se ele não aparecesse... dane-se. Ela acaba rindo dos seus próprios pensamentos.

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