1-Zaya

Apesar da minha irritação, não podia negar o magnetismo poderoso que Hector exalou ao se colocar em pé na minha frente. Sua energia poderosa se amplificava com o tom da sua voz, irradiando uma força palpável que me deixou inquieta. Minha pulsação disparou quando o vi apertar o botão em baixo da mesa acionando-o para abrir a porta.

Reagindo puramente por instinto, acompanhei com os olhos sua mão estendida me mostrando a saída.

- Boa sorte, senhorita Thompson.

Sua voz calma e civilizada com um toque de rouquidão me subiu nos nervos.

" Eu estava prestes a explodir e ele parecia uma estátua de gelo, sem expressar nenhuma emoção e, se eu não tivesse desesperada, certamente o mandaria ir tomar naquele lugar ... mas sou uma moça educada e loucamente desesperada que precisava conseguir a vaga a todo custo, nem que para isso precisasse implorar até ser arrastada pelos seguranças para fora de sua empresa, apenas assenti"

" Pensa Zaya, pensa "

Com os olhos nas abotoaduras de Onix e no relógio que aparentava caro em seu pulso, virei de costas sentindo seus olhos percorrerem minhas curvas, seguindo as linhas do meu corpo até os meus quadris. Ele até poderia ser frio, mas vi na sua íris escura e delatada o desejo controlado desde o momento em que cheguei aqui. Já conhecia aquele olhar, vi diversas vezes iguais a eles serem direcionados para dona Eva, minha mãe. Uma mulher jovem e perfeita que exaltava seu próprio corpo acima de tudo, até da própria família, ao ponto de nos deixar quando eu ainda era uma criança. Não a culpo, entendi ao longo do tempo que algumas mulheres não nascem para formar uma família, enfrentar o peso da maternidade, as mudanças do corpo a responsabilidade que vem atrelado ao casamento. É um direito delas, uma escolha. Minha mãe casou com meu pai, senhor Antônio, muito nova e logo em seguida engravidou de mim. No início, com suas reclamações da barriga flácida e do aumento de peso, eu me sentia culpada. Mesmo muito pequena eu sabia que, de certa forma, eu era responsável pelas mudanças em seu corpo e de seu descontentamento, mas eu sabia o quanto ela me amava, ela só não estava preparada para viver aquela vida. Depois de algum tempo, quando eu completei seis anos, ela decidiu viver sua própria vida longe da gente. Mas nunca deixou de me ligar, de me pegar para passear, ela estava sempre presente quando podia. Eva é uma mãe diferente, e apesar de muitas vezes ser fútil e superficial, tinha seu lado amoroso e carinhoso, isso quando não estava reclamando das minhas roupas, do meu cabelo ressecado, do meu aumento de peso...ou quando jogava na minha cara que homem nenhum iria me querer parecendo um muleque... Meu maior sonho é construir uma família, ser esposa, ser mãe... e criar meus filhos com todo o amor e carinho que meu pai me criou. Mas se algum dia isso acontecer será por mérito do meu caráter e personalidade e não dá futilidade da aparência ou de um corpo bonito.

Sentir esse mesmo olhar ser direcionado para mim, e por aquele homem não despertou o nojo ou a repulsa que eu imaginava, pelo contrário, os poucos minutos que fiquei em sua presença, tive que controlar a pressão súbita que senti entre minhas coxas. Com uma elegância natural, o

Hector transmitia, além de desejo, uma dualidade de sentimentos dominante e agressivo que deixaria qualquer mulher louca de desejo capaz de fazer tudo o que ele mandasse. Eu nunca tinha me sentido tão excitada na minha vida. Nunca tinha sentido tão implacavelmente atraída por outro ser humano.