Zaya

Eu poderia estar xingando o universo por estar conspirando contra mim, com certeza ele estava rindo da minha cara nesse exato momento. Pensei em tudo, mas esqueci de uma coisa; Como eu iria chegar até a empresa se o único meio de transporte que havia na minha vaga de garagem era uma moto? uma Suzuki SV650x preta . Claro que não teria problema se eu não tivesse usando uma saia colada, um troço no pé e esses cabelos que se fosse de moto, provavelmente, chegaria lá todo desgrenhado. MERDA ! O jeito era pedir um táxi, mais um desfalque na minha conta!

vai valer a pena!

Eu nunca seria subordinada de uma rata de bueiro chamada Catarina!

Mentalizando tudo o que aprendi da empresa e o porquê estava fazendo aquilo eu entrei no táxi. Foco e disciplina e qualquer um consegue atingir seus sonhos e objetivos e eu tenho um e vou conseguir, só preciso não chamar a atenção, manter a discrição e nada de falar feito uma vitrola arranhada , era só isso que eu precisava fazer!

👠👠

Pela terceira vez eu olhei em volta do saguão de entrada! Várias e vezes eu tentei olhar através dos vidros das portas giratórias, se vi alguma coisa, nada me preparou para a extensão daquele lugar.

Quatro elevadores, um deixava bem claro através da placa preta com letras douradas a quem pertencia, PRESIDENCIAL !

dois deles eram sociais e o outro não havia nada. A esquerda, na recepção, três loiras igualmente trajadas exibiam seus dentes lindos e perfeitos atrás de um enorme balcão meia lua preto. A direita uma enorme sala de espera com poltronas de couro preto , lustres, quadros, flores artificiais e alguns bancos de três lugares também pretos davam personalidade ao lugar. Apressei o andar quando alguém atrás de mim me deu um toque sinalizando para sair do meio do salão. Pisei em falso, para variar, quase cair, mas segui em frente. Vigésimo segundo andar era para onde eu ia segundo o email, o que eu suponho ser o RH.

Entrei no elevador sentindo o estômago vazio reclamar ou era o frio na barriga que aquele currículo e a carta de recomendação falsa que haviam nas minhas mãos causavam. Tinha convencido o Daniel a me ajudar a falsificar minha identidade, minhas redes sociais, empregos, faculdade e ainda convencido ele a se passar por um antigo empregador caso alguém ligasse para confirmar meus dados.

Tinha ido longe demais, eu sei ... e se alguém me descobrisse não seria só uma multa que eu ganharia e sim alguns dias atrás das grades por falsa identidade. Pensar nisso me fez recuar quando o elevador parou no meu andar que não parecia nada com o RH.

A bonita loira na recepção se levantou depressa para transmitir alguma coisa, mas se calou e ficou me encarando enquanto eu saia da caixa metálica.

- Posso ajudá-la ? - Perguntou com um tom de voz uniforme, lento, calmo e civilizado.

- Estou aqui para entrevista, mas acho que me mandaram para o andar errado.

- Esse é o andar da entrevista, mas, sinceramente, acho que a senhorita está realmente no lugar errado.

Seus olhos azuis me mediram dos pés a cabeça. Fiz o mesmo para não parecer amedrontada, mas diferente do rosto dela, no meu havia um sorriso assustador que a fez recuar como se eu fosse morde-la.