3- Hector freeman

É difícil encontrar pessoas que reconhecem um defeito em si próprio - acabei pensando em voz alta - E qual é o lado negativo de sua memória fotográfica, senhorita?- emendei

- Bom, O negativo é que a maioria das vezes, eu pareço um HD absorvendo tudo que vejo e ouço a minha volta, e assim como todos os computadores, sofro um pani no sistema e começo a falar desenfreada...como eu acho que estou fazendo agora... Eu não disse em voz alta, disse?

-Hurum ...

- Releva...e o lado positivo é que tudo o que o senhor me ensinar ou me pedir não vai precisar repetir mais de uma vez, vai estar tudo gravado na minha cabeça, seja números, nomes, lugares... momentos, tudo!

Cada vez mais inquieto, voltei a me mover sobre a cadeira.

- Quando a senhorita entrou, você olhou em volta da minha sala. Se eu te perguntar o que está a sua esquerda...

Por um instante a vi fechar os olhos, pressionando -os como se puxasse a informação em alguma parte distinta do cérebro. Eu estava torcendo para que ela errasse, essa seria a desculpa perfeita para manda-la sair da minha sala, Mas fiquei atordoado quando seus olhos abriram e um brilho, que não tinha visto antes, aparaceu em suas íris esverdeadas. Minha garganta secou no mesmo instante, e não foi por estar sedento por uma dose extra de uísque caro da minha adega. longe disso. Era para manter o controle e forçar meu corpo a ficar sentado atrás da mesa, mantendo distância da mulher que se eu vacilasse seria minha perdição.

- Existe uma prateleira do chão ao teto, pelo cheiro, e não estou dizendo que seja de morfo, mas de antigos, existem uma centenas de livros que vão de nomes como William Rhodes, o filantropo conhecido como "o banqueiro do mundo" até o livro as "três leis de Newton" do escritor Vitor Zenaide. Mais em baixo, a esquerda, um livro que nunca passaria despercebido, "As aventuras de Huckleberry Finn" de Mark Twain. O primeiro grande romance americano, no meu ponto de vista, Um anti-herói jovem e espirituoso que, graças a condição de desajustado, goza de uma visão privilegiada do mundo.

Meu corpo estremeceu diante de tal percepção em relação aquele livro que assemelha tanto a minha história, O menino que fugiu em busca de liberdade...só que diferente da ficção, eu não encontrei ninguém com quem dividir minha jornada.

Cresci em Riverside, Nova York. Com dezesseis anos descobrir a traição de minha mãe, Eli Freeman. Sem querer magoar meu pai, Jordan Freeman, apenas observei as imprudências dela em silêncio durante dois anos.

" Se você traí seu marido que jurou lealdade diante de Deus, quem dirá as pessoas ao seu redor "

Não suportava estar preso em uma teia de mentiras a qual apenas eu parecia enxergar a verdade, então finalmente eu os deixei... Mas as lembranças nunca me deixaram, e a cada vez que eu olhava para a feição da mulher na minha frente eu via as características físicas da mulher imprudente que me colocou no mundo em seus traços. E apesar de saber que nem todas são iguais, o embrulho no estômago ao lembrar dos dois anos que vivi presenciando a podridão, me mantinha longe de qualquer mulher que me lembrasse dela.

No entanto, havia algo mais na Zaya, no som de sua voz penetrante que depois de quase duas décadas me sentindo morto, preso no passado, fez meu corpo estremecer e criar uma dualidade de conflitos, eu não sabia se a queria por perto ou longe de mim. O que me enfureceu dos ossos até o sangue. Eu havia enterrado o passado, quando cortei relações com minha família, mas a dor e os traumas ainda viviam presos em mim.