Capítulo 20

Yana Kimi

Quando saí com a Cris e seu amigos,  já estava decidida a me afastar de Lívia, sei que prometi que sempre estaria por perto, mas agora eu não conseguia mais. Precisava de um tempo, queria colocar minha cabeça no lugar. Eu não me afastaria por muito tempo, só o suficiente para que eu pudesse enxergá-la apenas como minha amiga. E estava tudo indo bem. Tinha conseguindo me manter distante, mas isso não durou muito. Todo meu plano foi por água abaixo quando Lili apareceu no meu escritório. Ela raramente me visitava no trabalho, imaginei que tivesse acontecido algo sério. O que menos esperava era que ela ficaria chateada pela contratação de Samantha e a nossa conversa acabasse em uma discussão.

Pra quem nunca brigava, nesses últimos meses já tínhamos tido a nossa cota de brigas. E o mais bizarro era que parecia um ciclo sem fim e que nem era sobre nós duas. Brigávamos pelos outros, primeiro foi por Lucas, agora por Samantha.

Eu até quis ir atrás de Lili, mas estava cansada de querer consertar tudo o tempo todo. Talvez fosse melhor assim, talvez fosse mais fácil ficar longe se ela estivesse chateada comigo.

- Com licença. - Sam falou ao entrar na sala.

- Pode entrar. - Ela se aproximou.

- Vi que a senhorita Lívia saiu muito chateada, sei que ela não gosta de mim. Mas de verdade, estou muito triste, não queria causar problemas.

Coitada, ela estava realmente triste com a situação.

- Não se preocupe Sam, você não fez nada. Se não se importa, eu não quero mais falar sobre isso. Vamos continuar o trabalho.

- Tudo bem Chefe, como desejar. - Samantha saiu da sala.

Decidi focar toda a atenção no trabalho. Mesmo que a minha vontade fosse ligar para Lívia, eu não podia mais correr atrás dela o tempo inteiro, a final se ela queria ficar chateada por algo tão pequeno, isso era problema dela.

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A Noite chegou e preferi ir direto para casa ao invés de ir no bar me encontrar com alguns amigos. Não estava com a menor vontade de ficar perto de pessoas. Só queria a solidão do meu quarto. Por mais que tentasse tirar o que aconteceu com Lívia da minha cabeça, mão conseguia.

Meus planos foram interrompido quando meu pai me viu chegando e me chamou.

- Oi Filha, boa noite. Você pode vir aqui um instante?

Caminhei até a cozinha e sentei perto do balcão, onde ele estava cozinhando. Estava contando os minutos para poder subir para o meu quarto.

- Oi pai, tudo bem. O que aconteceu?

- Não é nada meu amor, só quero passar um tempo com você. Não gosto de te ver pra baixo e ultimamente, você não parece muito bem.

Eu pensava que estava conseguindo esconder meus sentimentos com maestria. Mas pelo visto, meu pai estava de olho em mim.

- É só a rotina. Nada fora do normal. - Tentei amenizar a situação.

- Yana, eu sei que não está sendo fácil conciliar tudo o que vem acontecendo. Mesmo assim, estou orgulhoso de você. Está lhe dando muito bem com toda essa situação. Mas eu sei quando você está escondendo alguma coisa de mim, e tudo bem. Não precisa falar se não quiser. Só saiba vou sempre estar aqui, caso você precise.

Estava sendo tão difícil esconder tantos sentimentos. Invalidar os sentimentos que eu sentia por Lili, tentar equilibrar esses sentimentos com a nossa amizade. Mas o pior era manter esse segredo do meu pai. Ele nunca se mostrou preconceituoso, mas como eu iria contar que a filha dele não era quem ele imaginava e que, para piorar, estava apaixonada pela melhor amiga.

- Filha, não precisa falar nada. Vem cá. - Ele abriu os seus braços e esperou até que eu me agarrace aquele afeto seguro e cheio de amor. Eu não queria chorar, não queria ser fraca, mas ao sentir o calor do abraço do meu pai, comecei a lagrimar. Os soluços vinheram logo em seguida. Me sentia exausta, a ponto de explodir.

- Filha, estou preocupado. Não quero invadir sua privacidade, mas nunca te vi assim antes.

- Eu sei pai. - Enxuguei meu olhos com a palma da mão. - Eu só quero dormir. Só preciso dormir. Amanhã vou estar novinha em folha.

Meu pai parecia receoso em me deixar ir. Mas depois de alguns segundos balançou a cabeça mostrando compreensão.

Subi as escadas o mais rápido que meu corpo exausto permitiu. Tomei um banho lento e me enfiei debaixo das cobertas. Deixando com que o tecido macio me envolvesse. Senti meu celular vibrar. Era uma mensagem de Clara. Desde que o pai de Lili morreu, estou em contato direto com Clara. Ficamos bem próximas e neste final de semana ela iria se mudar por conta do trabalho.

"Olá Yana, desculpa mandar mensagem a essa hora. Só queria avisar que já falei com o contato que você me passou da casa para alugar. Está tudo acertado. Neste final de semana vamos nos mudar e recomeçar a vida aí em Santa Catarina. Vamos aguardar você, como o combinado. Obrigada por toda a ajuda que você está nos dando. Sem você não sei como estaríamos."

Apesar de toda a correria que a minha vida estava nessa semana, eu não podia deixar de ir ajudar na mudança. Fazia questão de garantir que eles estariam bem instalados quando chegassem aqui e durante a viagem. Fora que eu estava super apegada nos gêmeos. No início a ajuda era por causa de Lívia, mas agora é por mim. Respondi a mensagem confirmando tudo e fiquei um tempo mechendo no celular.

Lívia não me mandou nenhuma mensagem. Ela também nao estava online. Uma pontinha de preocupação se instalou em mim. Mas logo lembrei do conselho que Cris me deu. Ela disse que se eu sempre estivesse lá por Lívia, ela nunca saberia o que é sentir minha falta. Que as vezes a saudade faz bem e pode evitar que eu me machuque mais ainda. Iria seguir esse conselho.

Lívia Duarte.

O final de semana chegou em um piscar de olhos. Viajei sozinha até a casa dos meus irmãos. O que me deu tempo de sobra para pensar. Nos últimos dias me permiti pensar um pouco mais sobre os sentimentos que estavam crescendo dentro de mim. Ainda não sabia ao certo o que eram ou porque comecei a sentir aquilo. Era uma mistura de raiva, ciúmes e ansiedade. Não sabia que uma só pessoa era capaz de causar tantas sensações diferentes em mim, mas afinal não era qualquer pessoa e sim a Kimi, ela era a pessoas que mais me entendia no mundo inteiro, era em quem eu mais confiava, deve ser normal ficar tão mal com uma discussão com alguém que você considera tão importante.  Não nos falamos desde o nosso desentendimento em seu escritório. Mas assim é melhor, estava me sentindo uma bagunça. As vezes ficava com raiva por ela ter contratado Samantha, mesmo sabendo que eu a odiava, outras vezes eu só queria deixar isso de lado e bater na sua porta para que ela pudesse me abraçar. De qualquer forma, essa situação teria que esperar, precisava ajudar Clara e meus irmãos na mudança. 

Resolvi chegar um dia antes para deixar tudo pronto para a mudança de amanhã. Apesar de toda confusão na minha mente, saber que meus irmãos morariam a poucos minutos de distância da minha casa me deixava muito feliz. Eu queria compensar todos os anos que não estive presente na vida deles. Saí do carro, que minha mãe me emprestou, e caminhei até a porta da frente da casa de Clara. Era estranho saber que meu pai não estaria me esperando como da última vez. Tudo estava me deixando emotiva, e talvez a morte recente dele estivesse me afetando também.

Não tive nem tempo de tirar o meu casaco quando Clara abriu a porta pra mim, meus irmãos correram em minha direção e se jogaram em meus braços. Os abracei com força, a última vez que os tinha visto foi no enterro de Fernando. Eles pareciam maiores, nada muito diferente, mas o suficiente para se notar.

- Nossa como vocês estão crescendo rápido. - Baguncei o cabelos deles.

- Mana, você demorou muito pra chegar. - Gabi fez um biquinho de chateação.

- Sim mana, só faltava você para a gente poder comer. - Gabriel segurou em minha mão e me puxou em direção a cozinha.

- Calma crianças, deixem a irmã de vocês respirar um pouco. - Clara veio em minha direção e me abraçou. - A viagem foi boa.

- Sim Clara, tudo tranquilo. Obrigada. E como vocês estão?

- Estamos bem, na medida do possível.

- As coisas vão melhorar. - Falei demonstrando solidariedade.

- Vem mana, vamos logo. A Tia Yana está aqui também. - Quando Gabi falou o nome de Kimi, me coração acelerou e parecia que ia saltar pela minha boca. Não tive muito tempo para me acalmar, pois já estava entrando na cozinha e dando de cara com Kimi.

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