capítulo 16

YANA KIMI

Finalmente consegui, depois de várias noites mal dormidas, livros intermináveis e críticas sem fim, eu estava me formando. A minha vontade era que tudo aquilo terminasse e, enfim pudesse seguir com a minha vida. Contudo depois da cerimônia na faculdade, tive que aceitar a festa de comemoração que o meu pai insistiu em fazer. Não era uma festa íntima e simples, ele alugou um barco enorme com bar, show exclusivo, piscina, fogos de artifício. Sim, era nesse nível de humilhação. Mas prometi que aceitaria qualquer presente de formatura, e ali estava a festa do sonho de qualquer formando, menos a minha que sou um pouco reservada e odeio ser o centro das atenções. Na empresa consigo esconder minha timidez, mas na faculdade era diferente. A maioria dos anos de formação fiquei trancada na biblioteca estudando. Mesmo assim, parecia que a faculdade inteira estava aqui, vi até alguns professores.

— Kimi, até que fim te achei. — Lívia me abraça. Tem um tempo que não ficamos tão próximas e no mesmo momento sinto seu cheiro invadir minhas narinas. Como senti falta daquilo. — Parabéns amiga! — Ela grita para que eu escute, pois, a música está muito alta.

— Obrigada Lili. Papai exagerou na festa como sempre, mas vou sobreviver.

— Seu Roberto e suas festas de arrasar o quarteirão, ou melhor, os mares. Lembro do seu aniversário de 18 anos, foi tão divertido passar a noite em uma ilha. Nunca vou me esquecer.

— É, meu pai sabe dar uma festa. Pena que não conheço metade das pessoas que estão aqui. Ainda bem que você veio.

— Não perderia sua formatura. Estou tão feliz por você. — Lili se jogou em meus braços e eu a levantei do chão. — Você merece tudo de melhor que a vida tem a oferecer minha amiga. Torço muito para o seu sucesso.

— E eu pelo seu. — Era tão bom tê-la em meus braços. Nunca existiu lugar mais gostoso. — você quer dançar? — Perguntei já sabendo a resposta. Lili adorava dançar e era algo que fazíamos desde sempre. Eu só vencia minha timidez por ela e no trabalho, é claro.

— Não precisa falar duas vezes. — Fomos até a pista, que estava lotada. De verdade não sabia de onde apareceu tantas pessoas. Começamos a mexer nossos corpos no ritmo acelerado em que a música estava tocando. A banda estava tocando “River”. Nisso meu pai acertou, eu adoro Rock. Conforme a batidas ficavam mais fortes a sensação de nostalgia me atingia. Aquela música era ótima. Em seguida todos cantaram ao som de “Believer”, mas a melhor parte foi gritar e bater cabelo com a música “Welcome Tô Te Jungle”, logo em seguida ficamos loucos com "System Of A down”. 

Após duas horas de muito Rock and roll o DJ subiu no palco e tocou vários estilos de música, do funk ao brega. Dançamos e bebemos muito.

Meu celular começou a tocar, vi que era a Cris e atendi.

— Oi Cris.

— Cadê você bandida?

— Tô perto do palco, do lado direito na área vip.

— Tô chegando aí. Me espera. — Ela não parecia bêbada. Acho que acabara de chegar. 

— Ta bom, vem que pedirei uma bebida para você. — Desliguei o celular.

— Quem é Cris? — Lívia perguntou.

— Uma amiga do escritório. — Disse somente aquilo.

Não demorou muito e Cris estava ao meu lado me abraçando e desejando sucesso. Agradeci e lhe entreguei sua bebida.

— Lívia, essa é a Cris, e Cris essa é a Lívia, minha melhor amiga.

— Oi. — Lili disse.

— Olá Lívia, é um prazer finalmente conhecer você.

— A Kimi já falou de mim para você?

— Sim, ela fala bastante sobre você. — Cris falou sugestiva e eu tive que intervir na conversa.

— O que vocês acham de voltarmos para a pista de dança? Já não está tão lotada. — Sugeri.

— Vão indo, eu vou daqui a pouco. Meus pés estão me matando. — Lili disse.

— Tudo bem, deixa só eu conseguir uma mesa para você. — Chamei a atenção de um garçom e pedi para ele conseguir uma mesa para Lili e que deixasse a área vip apenas com pessoas que estivessem sentadas. — Você pode pedir o que quiser. — Falei para Lili e depois segui para a pista de dança com Cris ao meu lado.

— Nossa, agora entendo sua situação. — Cris comentou.

— Do que você está falando?

— Você é muito cadelinha. — Ela riu.

— Não sou cadelinha. Apenas gosto de cuidar dos meus amigos. — Comento olhando para Lívia.

— Pela menos disfarça. Esse seu olhar na engana ninguém. — Cris me puxou mais para o meio da pista e começamos a dançar. A música era ritmada e foi bem divertido.

— Não vi o seu pai. Ele não veio? — Cris perguntou.

— Ele estava aqui no início da festa, mas já está tarde e ele foi para uma das cabines dormir um pouco.

— Também vou querer uma cabine, já vi que nessa festa tem muita mulher bonita.

— Você não perde tempo né. — Brinquei.

— A noite é uma criança meu amor. Falando nisso, deixa eu começar minha diversão. — Cris beijou meu rosto e sussurrou. — Você devia fazer o mesmo. — Ela olhou sugestiva na direção de Lili que estava sentada tomando seu drink.

— Acho que isso não vai acontecer. — Comentei.

— Se você ficar aí parada não vai mesmo. — Cris se afastou e sumiu entre a multidão. E se ela tivesse razão? Talvez eu devesse falar com Lívia sobre meus sentimentos. Mas prometi para mim mesma que lhe trataria apenas como amiga. Já estava cansada de tanta decepção.

— Yana? — Virei para ver quem estava me chamando e lá estava Samantha.

— Oi Sam, tudo bem?

— Tudo ótimo. — Samantha me abraçou e desejou feliz aniversário. — Faz tempo que não te vejo, você sumiu. — Ela comentou.

— Estive muito ocupada com a Faculdade e o trabalho.

— Imagino. Ainda bem que descobri sobre a sua festa. Na verdade, é impossível que alguém da Universidade não esteja aqui hoje. — Ela brincou.

— Desculpa não ter levado seu convite pessoalmente é que não tenho seu número e não sabia como te achar.

— Quer dizer que você me procurou. — Samantha se aproximou e envolveu seus braços ao redor do meu pescoço. Ela entendeu minha educação como um incentivo para chegar mais perto. Na verdade, eu não pensei nela em nenhum momento, mas não falaria aquilo, seria indelicado.

— Você já bebeu alguma coisa? - Perguntei para mudar de assunto.

— Já sim! Mas ainda não dancei. — Ela me puxou para um canto mais isolado e encostou seu corpo no meu. Começamos a nos movimentar conforme a música, que agora era lenta e tranquila. Podia jurar que ela combinara aquilo com o DJ. Não tive reação, apenas deixei com que ela nos guiasse.

— Samantha, o que você tá fazendo aqui? — Me assustei quando vi Lívia.

— Lívia, você por aqui? — Samantha falou debochada. Ela não se afastou de mim, pelo contrário, se aproximou ainda mais. — Se não percebeu, estou dançando com a aniversariante. — Comecei a ficar nervosa com aquela situação.

— Não estou me referindo a isso. É evidente que você não foi convidada. Tá querendo chamar atenção? É melhor fazer isso em outro lugar. — Nunca tinha visto Lívia daquele jeito.

— Não seja boba Liviazinha, quem está querendo chamar atenção é você. Não está vendo que estou dançando. Não seja mal-educada.

— É uma pena estragar a sua festa, mas eu preciso da Kimi agora. — Lívia me puxou pelo braço, mas antes Samantha colocou um cartão em minhas mãos.

— Isso é para você me ligar mais tarde. — Ela piscou para mim.

— QUEM VOCÊ PENSA QUE É... — Lili já estava gritando, mas eu a segurei e disse.

— Vamos Lili, já está tarde é melhor você descansar um pouco. — Levei minha amiga para o andar de baixo. Não estava surpresa com a reação de Lívia, afinal ela odiava a Samantha.

— Me solta, eu estou bem. — Lívia falou quando chegamos na suíte que estava reservada para mim. Ela parecia bêbada.

— Vem, tem um banheiro aqui, você precisa de um banho para ficar melhor.

— Já disse que estou bem. — Fui até ela, mas ela se afastou.

— Não sabia que a Sam estaria aqui. Sei que você não gosta dela.

— Sam? Agora vocês se tratam por apelidos? — Lívia parecia muito aborrecida.

— Lili, porque você está agindo assim? — Perguntei.

— Você mesma disse, eu odeio a Samantha.

— É, mas só porque você a odeia não significa que tenho que odiar também. — Me arrependi do que falei na mesma hora, pois Lívia me olhou com tanta raiva que pensei que iria me xingar até amanhecer.

— POIS BEM! ENTÃO PODE VOLTAR PARA ELA, ME DEIXA SOZINHA. — Lili estava muito chateada e até agora eu não entendia o que eu tinha feito de tão errado.

— Você está com ciúmes? — Tomei coragem e perguntei.

— Não é uma questão de ciúmes, você sabe que odeio aquela menina. Ela fez da minha vida um inferno no trabalho e agora que a demitiram ela dá um jeito de aparecer em todos os locais que estou, parece que nunca vai me deixar em paz. Além de tudo ainda faz questão de ficar grudada em você. Isso me irrita.

— Porque ela ficar comigo te irrita tanto? — Perguntei esperançosa.

- Por… que no trabalho ela sempre deu um jeito de tomar tudo para si. Mas eu sabia que fora de lá eu ainda teria você. Que ninguém poderia me tirar isso, mas agora… — Ela parou de falar.

— Agora o que Lili?

— Você gosta de garotas e elas estão a todo momento em cima de você, incluindo a idiota da Samantha. Você não tem mais tempo para mim. Quase não falou comigo essa semana.

— Lili. — Me aproximei e toquei seu rosto. — Eu sempre estarei aqui para você. — Ela estava buscando uma reafirmação da nossa amizade. Então eu daria para ela. Apesar daquilo me despedaçar por dentro. — Você sempre será a minha melhor amiga. Assim como você namora e continua sendo minha amiga eu também conheço algumas meninas e isso não muda nada o que sinto por você. — E de fato, não importava com quem eu ficasse, não conseguia deixar de amá-la, mas ela não queria ouvir isso. Ela queria se sentir segura com a nossa amizade. — Você é a minha melhor, minha amiga e nada mudará isso.

— Eu sei, desculpa por ser tão boba. — Lili me abraçou. — Você também é minha melhor amiga e nada, nem ninguém mudará isso.

Naquele momento eu soube que Lívia só me enxergava como sua amiga. O melhor que eu tinha a fazer era esquecer a paixão que nutria por ela. Por que só ficaria mais machucada. Mas como eu iria bloquear tantos sentimentos?

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