capítulo 07

YANA KIMI

o voo do meu pai chegou no horário previsto e quando ele saiu na área de desembarque veio me abraçar. Me agarrei ao pescoço dele como se tivessem passado um ano e não apenas 4 dias.

- Eu estava com tanta saudade minha filha. - Falou me abraçando mais forte.

- Eu também Papi. Como foi a viagem?

- Foi boa. Tenho novidades, mas agora só quero ficar um tempo com você sem pensar em trabalho. Vamos almoçar? - Perguntou todo sorridente. Seu Roberto era, sem dúvida o melhor pai do mundo. Não lembro de uma vez sequer em que ele tenha se alterado ou ficado irritado comigo. Em todas as minhas lembranças ele estava sorrindo.

- Claro pai. Meu carro está logo ali. - Apontei para a rua.

- Porque você não deixou seu carro no estacionamento? - Perguntou confuso.

- E ter que pagar estacionamento? Não muito obrigada. Isso é desperdício do meu dinheiro. - Meu pai voltou a rir. Eu estava certa. Achava um abuso ter que pagar estacionamento quando não usava a vaga nem por 30 minutos.

- Você não muda mesmo né? Por isso que vai ser uma ótima administradora. - Falou todo orgulhoso e seguimos para o carro.

-

O restaurante que escolhi era o nosso preferido. Eu não lembro quando essa tradição começou, mas meu pai sempre me trazia aqui e eu gostava daquele lugar. A única coisa que ele me dizia é que quando era mais novo frequentava esse lugar com a sua alma gêmea, mas ele nunca falou quem era, talvez fosse minha mãe. O ambiente era tranquilo com uma decoração rústica. Um lugar confortável e acolhedor. Fizemos os nossos pedidos e papai começou a falar sobre sua viagem. Eu também contei sobre os meus últimos dias e quando falei sobre o jantar com a mãe da Lili ele se mostrou animado.

- Isso seria ótimo filha. Vou ligar para a Lena e definir uma data para o nosso jantar. Você e a Lívia vão nos acompanhar? - Perguntou todo alegre.

- Acho que não papai, mas vai ser bom para o senhor sair com uma amiga. Faz tempo que você não se diverte. E eu acho que a Lena precisa de um pouco de diversão também.

- Você tem toda razão filha. Vou ligar pra ela ainda hoje. Mas me fala, como estão as coisas na faculdade?

- Estou escrevendo meu TCC e falei com o meu orientador semana passada. Ele gostou das minhas ideias e vai me ajudar durante esse últimos 3 meses.

- Que notícia maravilhosa Yana, estou tão orgulhoso de você. - Acho que papai só não chorou porque estávamos em público, mas seus olhos ficaram marejados.

- Calma pai, também não é pra tanto. É só um Trabalho de conclusão de curso. Não é nenhum prêmio importante.

- Pra mim é importante filha. Esse será o seu primeiro diploma. Depois, tenho certeza, que viram muitos outros. - Falou todo sonhador.

- Vamos aos poucos tá. Deixa eu me formar primeiro. Depois falamos de mestrado, doutorado e assim por diante.

- Tá certo. Só saiba minha filha que eu sempre vou estar aqui com você.

- Obrigada pai. O senhor é maravilhoso. Te amo muito. - Falei beijando seu rosto.

- Ai Yana, acho que agora não vou conseguir segurar minhas lágrimas. - Ele já estava com o rosto molhado. Dei mais beijinhos em seu rosto e Ele começou a rir.

Nosso dia foi perfeito. Passamos a tarde em casa conversando sobre tudo. Eu adorava meu pai. Mesmo que as vezes quisesse saber sobre quem era minha mãe, a verdade é que ele sempre supriu todas as minhas necessidades.

LÍVIA DUARTE

- Você vem me buscar que horas?... ok, até depois... beijos...

Desliguei o telefone e comecei a me arrumar. Hoje eu teria um encontro com o Lucas. Ele me chamou para jantar em um restaurante super chique. Depois de muita insistência aceitei. Usei o resto da tarde para hidratar meu cabelo e fazer as unhas. O final de semana era o único momento que eu tinha pra cuidar de mim.

Já estava quase na hora que marquei com o Lucas. Desci as escadas e encontrei minha mãe toda arrumada na sala.

- Alguém tem um encontro. - Falo sugestiva.

- O Roberto me chamou pra jantar. Comentei sobre isso com a Kimi ontem, mas não sabia que ia ser tão rápido.

- Isso é porque o seu Roberto não perde tempo. Ele é um conquistador de primeira.

- Que isso filha. Essa não são as intenções do Roberto e nem as minhas. Somos apenas bons amigos. - A certeza em sua voz quase me convenceu.

- Tudo bem. Aproveita o jantar com a seu "amigo".

- E você filha, também vai sair?

- Sim, o Lucas já deve estar me esperando. - olho pela janela e vejo seu carro estacionado ao mesmo tempo em que recebo uma mensagem sua.

- Lívia, quero que tenha cuidado. Eu não confio nesse rapaz. - Falou séria.

- Mãe , você nem conhece ele.

- É exatamente por isso que não confio nele. Ele poderia muito bem te buscar aqui na porta de casa em vez de ficar em um carro te esperando. - continuou a falar categórica.

- Vamos fazer assim. Da próxima vez ele vai vir se apresentar pra senhora e vai ficar tudo bem. - Sugeri tentando amansar a fera.

- Tudo bem, mas eu ainda não gosto dele e nem acho que vou gostar.

- Depois conversamos sobre isso mãe, estou atrasada. - Beijei seu rosto e saí rápido antes que ela tivesse tempo de falar mais alguma coisa. Só ouvi ela dizer "juízo Lívia".Ri ao fechar a porta e caminhar até o carro de Lucas.

-

O jantar com Lucas foi bom. Ele era simpático e já estávamos saindo a quase um mês. O conheci na faculdade, ele era tão lindo. Várias noites eu sonhava com ele. Sempre quis que ele se interessasse por mim. Desde o início do curso eu o observava. Ele sempre sentava no fundo e dava respostas divertidas para os professores. Todas as garotas da sala eram afim dele. Um dia eu tomei coragem e me apresentei, quase morri de nervoso, mas valeu a pena porque nos aproximamos e ele me chamou pra assistir a um jogo de futebol. Apesar de odiar futebol eu aceitei porque passei o jogo todo olhando para aqueles olhos verdes.

Depois do jantar Lucas e eu caminhamos até uma praça. Ele se sentou em um balanço e me convidou pra sentar em seu colo. Nos beijamos por alguns minutos.

- Princesa, você me deixa louco. Você é tão linda.

- Você também é bonito Lucas.

- Você me acha um cara legal?

- Claro, você é muito legal.

- Quer saber uma coisa? - Falou se aproximando para me dar outro beijo.

- O que? - Perguntei curiosa.

- Acho que já está na hora de você ser minha namorada. - Era um sonho ou Lucas estava mesmo me pedindo em namoro?

- Então gatinha, você aceita ser minha namorada?

YANA KIMI

Depois de duas horas escrevendo meu TCC, resolvi descansar um pouco. Liguei a televisão e fiquei passando os canais sem prestar atenção em nenhum.

Meu pai estava jantando com a Lena e só chegaria mais tarde. Eu estava feliz que ele foi tão receptivo com a ideia de sair para se divertir um pouco. Ele nunca trouxe nenhuma mulher pra casa e também nunca me apresentou a nenhuma. Se eu pensar melhor, acho que papai não se envolveu em nenhum relacionamento desde que eu nasci. Já estava na hora dele encontrar alguém e a Lena era muito legal.

Pensar em Lena me fez pensar em Lili. Ontem o dia foi perfeito. Depois o nosso passeio no parque e todas as coisas que conversamos. Talvez eu esteja enganada, talvez Lili sinta alguma coisa além de amizade por mim. Pensar naquilo me fez sorrir. Como se tivéssemos uma conexão meu celular começou a tocar e era Lili. Atendi rapidamente.

- Oi Lili. Tudo bem?

- Oi Kimi. Estou bem. Na verdade, mas do que bem. Estou ótima. - Sua voz estava muito alegre.

- Sério? Posso saber o motivo? - Perguntei empolgada.

- É claro, eu liguei para te contar a novidade.

- Então me conta que já estou curiosa.

- Finalmente aconteceu Kimi. - Lili estava falando muito rápido.

- Finalmente aconteceu o que Lili?

- O Lucas me pediu em namoro. - Senti meu estômago embrulhar. Meu sorriso se desfez e eu não sabia o que dizer.

- E o que você respondeu? - Perguntei já sabendo a resposta.

- Que sim é óbvio. Eu quero isso desde sempre. Ele é tão lindo, simpático, divertido...

- Lili, podemos falar sobre isso outra hora é que o meu pai tá me chamando.

- Pensei que o Roberto estivesse com a minha mãe.

- Quer dizer... Ele está me ligando... é... Eu tenho mesmo que atender. Tchau. - desliguei o celular e o joguei no sofá. Andei de um lado para o outro na sala. Não acredito que Lili estava namorando o Lucas. Não acredito que ela estava namorando qualquer pessoa. Meu estômago começou a doer e corri para o banheiro. Abri a tampa do vaso e vomitei até não aguentar mais. Senti as lágrimas caindo descontroladamente. Como eu sou idiota? Como pude acreditar que teria alguma chance? Não sei quanto tempo fiquei no banheiro, mas isso não importava. Lili estava namorando e não era comigo. Nunca seria comigo.

Fui para o meu quarto e deitei me enrolando nas cobertas. Fiquei olhando para um ponto qualquer no teto. Será que Lili está feliz?... Ela parecia feliz no telefone. Talvez o Lucas a faça feliz. Eu não seria uma boa amiga se ficasse infeliz com a felicidade dela. Tenho que ser forte e apoiar minha amiga. Eu prometi. Disse que a apoiaria em tudo e que sempre estaria ao seu lado. Porquê é tão difícil cumprir esse tipo de promessa?

- Filha, você está acordada? - ouvi a voz do meu pai na porta. Fiquei calada, não queria conversar agora. Depois de um tempo ouvi o barulho da porta sendo fechada.

Não sei como iria conseguir, mas a partir de amanhã eu teria que esconder mais ainda meus sentimentos de Lívia. Talvez eu pudesse trabalhar mais dias na empresa para não ter tempo de pensar. Também seria uma ótima desculpa para não ter que conversar com a minha amiga. O que eu estou dizendo? Eu posso ser cautelosa em tudo menos quando o assunto é a Lívia. Não sei da onde vou tirar forças, mas eu preciso tentar. Perder minha amiga não está em jogo. Se ela está feliz eu também preciso ficar. Ou não?

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