Capítulo 19

LÍVIA DUARTE

No caminho de volta para casa não falei muito. Estava me sentindo estranha. Minha mãe tentou puxar assunto, mas quando viu que eu não estava com vontade de conversar, colocou uma música na rádio e cantarolou enquanto dirigia em direção ao nosso bairro.

Quando cheguei em casa fui direto para o meu quarto e deitei na cama. Olhei para a parede que tinha a rosa azul que Kimi fez para mim. Já tinha olhado diversas vezes para aquela rosa, mas dessa vez foi diferente.

A sensação estranha, que senti no carro, voltou a me incomodar. Me peguei tocando no presente de aniversário que kimi me deu. E sem querer imagens da boca de Kimi tão perto da minha invadiram a minha mente. Os pelos do meu braço arrepiaram e meu peito ficou pesado. Que sensação era aquela?

Fiquei um tempo mais olhando para a Rosa azul, até que meus olhos ficaram pesado e aos poucos deixei de resistir a vontade de dormir.

" Toques delicados e carinhosos, era isso que eu estava sentindo. Era tão bom, como se a cada toque eu me sentisse mais relaxada. Meu corpo correspondia a cada toque. Que mão delicada, parecia como uma lençol de seda deslizando na minha pele. E tudo melhorou quando senti macio e molhado tocar em meu pescoço, eram lábios cheios e atrativos que agora exploravam cada ponto sensível da minha pele. Nunca tinha me sentindo tão segura, e o mais estranho era a necessidade que eu sentia em manter aqueles toques cada vez mais próximos de mim. Uma saudade tão grande, que eu nem me dei conta que estava sentindo. Não era só excitantes, mas também se revelava uma sensação de completude. "

Depertei aos poucos, não parecia que tinha dormido por tanto tempo, mais olhei pela janela e já estava escuro. A sensação de bem estar do sonho maravilhoso que tive, foi substituída rapidamente por dúvida. A imagem de Kimi veio em minha mente, o que estava acontecendo comigo? Não devia pensar na minha amiga daquela forma.

Levantei e fui direto para o banheiro, iria tomar um banho longo e colocar a minha mente no lugar. Com certeza, só estava confusa com tudo que aconteceu nos últimos dias. A carência por estar solteira também estava bagunçando os meus pensamentos.

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Cheguei ao trabalho com olheiras enormes. Não consegui mais voltar a dormir depois daquele sonho. Que até agora estava tentando entender.

Coloquei meus materiais na minha mesa e sentei. Olhei um tempo para o computador e pensei em mandar uma mensagem para Kimi. Estavamos tão distantes no último mês, com exceção de ontem, não tínhamos mais saído juntas. Ao mesmo tempo, é melhor não ficar perto de Kimi agora, não com todos esses pensamentos me atormentando. O que eu estava pensando? Não podia deixar minha mente tomar este caminho, eu não enxergava Kimi daquele jeito, ela era minha melhor amiga.

Me forcei a focar no trabalho e me desligar de qualquer outro pensamento. O que pra minha surpresa, foi extremamente difícil.

O dia passou lentamente, quando dei por mim já era noite e eu estava no elevador da empresa da minha amiga. Tentei ignorar a falta que eu estava sentindo dela, mas aqui estava eu, prestes a chegar no seu escritório e não sabia o que iria dizer nem o que eu vim fazer aqui.

Não era a primeira vez que vinha ao trabalho de Kimi, por isso Dona Vanessa me recebeu com um enorme sorriso. Ela era uma senhora muito simpática e educada.

- Lívia, tudo bem minha querida? - Ela se aproximou e me abraçou.

- Estou bem Vanessa, e como vai a senhora?

- Estou bem. Você veio ver a Kimi?

Eu ainda não sabia ao certo o que iria dizer. Eu nem devia estar aqui, mas alguma coisa não me deixava dar meia volta.

- Sim, quero ver a Kimi. - Me peguei respondendo.

- Acredito que ela esteja na sala dela. Você pode ir até lá. - Vanessa me deu um crachá de acesso e me acompanhou até o corredor onde ficava o escritório da Kimi.

O caminho era curto, mas a cada passo a sensação estranha em meu estômago aumentava. O que estava acontecendo comigo? Era apenas a minha amiga, já nos vimos tantas vezes antes, mas porque dessa vez eu me sentia tão nervosa?

Ao nos aproximarmos da porta ela se abriu sozinha e a última pessoa que eu esperava ver, agora estava saindo da sala da Kimi.

- Samantha? - Falei mais pra mim do que pra qualquer um ouvir. O que aquela mulher estava fazendo aqui? Ela não cansava de aparecer na minha vida? Mas porque aqui, logo a lembrança de Samantha dançando com Kimi veio a minha mente, o que me deixou com um olhar nada amigável.

- Oi Lívia. - Ela falou com tom denochado. Vanessa não percebeu o clima estranho e disse.

- Oh, vocês já se conhecem? Que bom, assim a Samantha pode avisar a senhorita Yana que a amiga dela está aqui para uma visi- Vanessa estava falando quando ouvi a voz de Kimi.

- Sam, você pode digitalizar estes documentos pra - Kimi parou de falar assim que me viu. Primeiro ela pareceu surpresa, depois sorriu e me abraçou. - Que surpresa Lívia. - Não me passou despercebido que ela não me chamou pelo meu apelido.

- Oi Kimi eu estava aqui por perto e decidi vir te fazer uma visita, mas estou vendo que você está ocupada. Outra hora nos falamos. Não quero atrapalhar.

- Não, não estou acupada. Venha vamos tomar um café na minha sala. - Kimi segurou a porta para que eu passasse. Olhei na direção de Samantha e ela me olhava com desdém. Não deixei de retribuir na mesma moeda.

Quando entramos na sala, Kimi me serviu um café, mas recusei.

- Aconteceu alguma coisa?

- Porque Samantha está aqui? - não fiz questão de esconder o descontentamento na minha voz.

- Ela se candidatou a vaga de secretaria e eu a contratei. - Kimi falou tranquila.

- Porque você fez isso, sabe que eu não suporto ela. - Minha voz estava um pouco alterada.

- Eu sei, mas ela é uma excelente profissional e era perfeita para a vaga.

Ouvir Kimi falando tão bem de Samantha me irritou de uma forma que eu nunca tinha ficado antes.

- Perfeita? Excelente? Ela não é nada disso.

- Sim Lívia, ela é uma ótima secretária.

- Não acredito que você está falando isso. Sabe muito bem como eu me sinto eu relação a ela. O quanto ela me irritava e debochava de mim no meu trabalho.

- Não achei que você fosse se importar dela trabalhar comigo. Pensei que só não aguentava ela no seu ambiente de trabalho. Não foi minha intenção te chatear Lívia.

- Para de me chamar assim! - Explodi. - O que tá acontecendo, porque você está tão fria? - Não sei se era a raiva misturada com decepção que me fez gritar com Kimi, mas eu não estava mais aguentando essa indiferença nas palavras dela. Ontem ela estava super carinhosa e hoje era esse poço de formalidade.

Kimi me olhou surpresa, eu nunca tinha gritado com ela antes. Estava me odiando por agir assim, mas não conseguia me controlar. O clima ficou muito pesado.

- Me desculpa, eu não queria ter gritado com você, é só que eu fiquei- Minhas palavras foram interrompidas por batidas na porta, seguidas pela voz do pai de Kimi.

- Oi Filha, eu só queria. - Seu Roberto percebeu minha presença e disse. - Perdão meninas, eu estou interropendo?

- Não seu Roberto, eu já estava de saída. - Falei rápido demais.

- Que isso Lívia, fica a vontade eu só vim buscar uns relatórios. Você já tomou um cafezinho?

- De verdade, muito obrigada, mas eu preciso ir. Minha mãe está me esperando para o jantar. Boa noite. - Caminhei apressada até a porta. Só queria sair dali o mais rápido possível. Fechei a porta e segui até o elevador.

- Você não cansa de ser inconveniente ? - Falei ao encontrar Samantha me encarando perto do elevador.

- Eu não tenho culpa se você está no meu local de trabalho. - Ela era muito sínica.

- A mim você não engana, sei que não é essa menina boazinha que todos acreditam que seja.

- Nossa, sinto cheiro de inveja. Está com ciúmes porque eu estou o tempo inteiro com a Kimi e ela me adora?

A vontade que eu tinha era de voar no pescoço daquela cobra, me segurei para não me rebaixar ao nível dela.

- Não tenho ciúmes de alguém que não tem a menor importância pra mim.

- Então porque você parece tão incomodada? - Ela só podia estar testando minha paciência. Afinal é o que ela sempre fazia. Não tinha um dia que ela não zombasse de mim quando trabalhávamos na mesma empresa.

- Não se sinta especial, você não é relevante ao ponto de me fazer ciúmes. Eu sei muito bem qual é o meu lugar na vida da Kimi. Já você, devia se colocar no seu lugar de funcionária. - Passei por ela sem vacilar, o elevador se fechou atrás de mim e deixei escapar um suspiro de frustração.

O que estava acontecendo comigo? Porque gritei com Kimi daquele jeito? Estava sentindo um misto de sentimentos e não conseguia alinhar os meus pensamentos.

Quando cheguei em casa, pensei em ligar para Kimi e me desculpar. Mas recebi uma ligação de Clara. Ela me disse que pediu transferência de empresa, que estava de mudança para Santa Catarina no final desta semana. Logo me ofereci para ajudar e combinei de ir até ela para organizar tudo e cuidar dos meus irmãos. Ficamos até tarde conversando. Na hora de dormir, eu me neguei a pensar em Kimi, mas a minha mente me traía e ela sempre estava invadindo os meus pensamentos.

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