A primeira sessão

Capítulo 11

Saiu da casa da Sra. Martelli era quase seis horas, não ia dar tempo de ir para casa e tomar banho para ir ao estúdio. Dentro do carro ficou na dúvida se ia ou não vê-lo trabalhar. E se fosse outra mulher fazendo um ensaio sensual ?

Sua mente estava totalmente confusa, havia um milhão de coisas fervilhando na sua cabeça, ainda mais agora por causa das cartas.

Ligou o carro e resolveu seguir sua intuição, mesmo sabendo que isso levaria à loucura. Levou quinze minutos para chegar ao endereço e mais cinco para achar. Estacionou o carro próximo do local, era um prédio velho e estranhou, é claro.

Apertou o interfone e ouviu-o.

- Quem é?

- Paola Castilho.

- Você veio?

- Sim.

- Vou abrir e você sobe, ok.

Ela assentiu e só então se deu conta que estava falando pelo interfone, mas Charles já havia desligado e resolveu subir, Charles já estava a esperando na porta.

- Oi.

- Oi. Que bom que veio. – ele falou assim que entraram para dentro.

Ela sorriu.

- Estava indecisa. Sua cliente já está aí?

- Sim. Está se trocando... – ele contou.

Foi então que viu que não estavam sozinhos. Havia um homem ali e foi apresentada. O local era grande e havia um local preparado para tirar fotos em tela branca e do outro lado tipo um cenário com sofá, cadeiras e até cama.

Teve que se controlar para não imaginar coisas. Agora não tinha dúvidas que ele realmente tirava fotos sensuais.

Ia fazer uma pergunta, mas uma mulher apareceu e ficou sem graça ao ver que a cliente era uma mulher grávida.

Sorriu por dentro aliviada, imagine fazer um ensaio sensual com um homem do lado.

- Se quiser pode... Fica à vontade. – ele falou e se afastou indo até o casal.

Paola resolveu sentar numa poltrona e só observar. Resolveu dar uma olhada no celular, Luiza havia lhe mandado mensagem querendo saber onde ela estava, contou que estava num estúdio e sem que ninguém percebesse tirou uma foto do cenário.

Sorriu logo em seguida com a mensagem.

“ Está querendo reviver o fim de semana”.

Respondeu sua amiga.

“ Não, só vim conhecer o local”.

E só então olhou para os três que conversavam. O homem que estava ali iria participar do ensaio e a moça estava muito bonita com o barrigão à mostra.

Ficou encantada com as poses do casal e alguns ela tirou sozinha, e por incrível que pareça ela tirou fotos na cama, poltrona e na banheira que não tinha visto.

Passou a maior parte do tempo olhando para Charles, parecia um produtor descolado tirando fotos e quando era pega olhando ele sorria. Quando terminou eram quase oito horas da noite, a paciência que Charles tinha para fazer aquilo era impressionante.

- Está com fome?

- Com certeza.

- Posso pedir uma pizza. – ele falou já pegando no celular. – Ou prefere outra coisa?

- Pizza está ótimo.

Ele sorriu se afastando indo até onde estava o equipamento, enquanto falava ao celular mexia em algumas coisas. Sem pensar, se aproximou e desligou o celular.

- Quer uma ajuda?

- Não. Eu deixo tudo aí... Só o equipamento que levo.

- Hum, achei interessante. Não pensei que fizesse ensaios para gestantes.

- Preciso de grana, aceito tudo. – ele falou quando ambos se aproximaram de um balcão com um notebook.

- Então por que quer me dar um ensaio?

Ele a encarou e sorriu malicioso.

- Quero ver o outro lado seu... De novo.

- Como assim?

- Você é ousada, só está guardado aí... Dentro.

- Mas eu estava bêbada.

- Acho que tem algo aí dentro que precisa ser libertado. – ele falou dando uma piscadela.

Paola fez bico e apontou o dedo para ele.

- É assim que você consegue fazer as mulheres se encantarem e fazer fotos sensuais.

- Não. A maioria vem aqui com esse pensamento. – ele contou mexendo no notebook. – Vem matar a sua curiosidade.

- É sério?

- Aham, vou deixar você ver as fotos que não coloco nas redes sociais.

Paola se aproximou até ficarem um do lado do outro e viu o abrir uma pasta. Engoliu em seco e nervosa por estar finalmente vendo um trabalho profissional e ficou chocada com as fotos. Havia todos os tipos de mulheres que podia imaginar e não viu nenhuma fazendo topless, algumas de lingerie, apenas camisas ou roupas sociais, mas de maneira sexy.

- Gostei dessa. – ela apontou o dedo para uma morena deitada na banheira cheia de espuma com algumas pétalas e segurava os seios com as mãos. – Como você tira fotos... Assim?

- Faz o ensaio e você vai saber.

Ela deu uma cotovelada nele fazendo o rir.

- Já disse que estou pensando.

- Se eu fosse você não pensava duas vezes.

- Acho que você teve sua chance.

Ele fez careta.

- Isso quer dizer que não tenho mais chance.

- Talvez.

- Um talvez é melhor que um não.

O interfone tocou. Era a pizza, enquanto ele ia buscar a pizza e deu mais uma olhada nas fotos até ver Alicia na foto.

- Sua irmã já fez um ensaio sensual ? – ela indagou quando ele voltou.

- Já sim. Ela foi a terceira que fiz. – respondeu colocando a pizza no balcão.

- Hum... E quem foi a primeira?

Charles fez careta, como se estivesse pensando, mas sabia que ele não esqueceria da primeira.

- Não tem foto dela aí.

- Você apagou?

Ele assentiu.

- Era sua namorada?

- Não. Só saímos algumas vezes. – contou todo sem graça. – Ela era minha professora.

- Saiu com sua professora?

- E qual o problema? – disse pegando um pedaço da pizza. – Nunca saiu com alguém mais novo ou bem mais velho que você?

- Mais novo não.

- Ela não era tão velha. Uns sete anos mais velha que eu e muito bonita.

- Por que apagou as fotos?

- Não sei dizer.

- Ela te trocou por outro?

- Sim.

- Então está explicado. Bem vindo ao clube dos deixados de lado. – ela tentou brincar. – Por curiosidade, um homem mais velho?

- Bem mais velho. Vamos falar de outra coisa.

- Conversei com sua mãe hoje. – ela contou, fazendo-o ficar surpreso. – Ela quis ler cartas pra mim.

Ele a encarou.

- E você deixou?

- Sim. Tem algum problema?

- Não. Ela faz isso o tempo todo.

- Quer dizer que tudo o que ela disse não vai acontecer?

- O que você perguntou?

Ela bufou.

- Perguntei sobre o meu trabalho e sobre relacionamento.

- Se você acredita, pode ser que aconteça. Ela falou pra você seguir sua intuição?

- Sim.

Charles sorriu.

- Minha avó sempre fez isso, ela dizia que uma taróloga tem que cobrar algo para ler. – ele suspirou. – Agora minha mãe começou com isso e diz que é mito, que tudo é questão de energia.

- Sua família é o que?

- Liberal.

Ele riu em seguida fazendo a rir.

- Eu não sei. Minha mãe tem uma vibe hippie né. – ele contou.

- E seu pai?

Ele fez careta.

- Não gosto de falar dele.

- Vocês não conversam?

- Não.

- Ele traiu sua mãe?

Charles assentiu.

- Ele é um idiota. E os seus pais?