O ar frio da noite envolveu Liana assim que a porta automática do hospital se abriu. Seu coração apertou. Ela não queria sair dali. Ali, pelo menos, ela podia contar com Rodolfo e, principalmente, podia ver Camille. Agora, estava sendo levada para um lugar desconhecido, cercada por pessoas que não confiava.
A cadeira de rodas parecia desnecessária, mas ela não discutiu. Sabia que qualquer demonstração de força poderia levantar suspeitas. Manteve o corpo relaxado, os dedos pressionando levemente os apoios da cadeira enquanto Rodolfo a empurrava pelo corredor.
À frente, Artur caminhava com passos firmes e pesados, como se carregasse uma tempestade dentro de si. Ele sequer olhava para trás. Desde que a vira rindo com Rodolfo mais cedo, sua expressão era fechada, perigosa.
Quando chegaram ao carro, foi Artur quem a pegou no colo, ignorando a tentativa de Rodolfo de ajudá-la. As mãos dele estavam firmes e dominantes.
— Eu cuido disso. — disse ele, a voz cortante.
Rodolfo hesitou, mas não insistiu. Apenas observou enquanto Artur a acomodava no banco do carro com delicadeza forçada.
Durante o trajeto até a mansão Sherman, Liana permaneceu em silêncio. Ela sentia o olhar de Artur sobre ela de tempos em tempos, mas fingiu não notar. Em sua mente, ecoavam perguntas sem respostas. O que realmente aconteceu com Camille naquela noite? Por que ele estava tão desesperado para tirá-la do hospital?
O carro preto de Artur passou pelos portões de ferro da Mansão Sherman e estacionou diante da escadaria de mármore.
Liana sentiu um arrepio ao olhar para o casarão.
Ela nunca estivera ali. Camille sim. Mas agora, ela precisava ser Camille.
Artur desceu primeiro e, sem dizer nada, abriu a porta e a ergueu nos braços outra vez.
— O que está fazendo? — Liana perguntou, surpresa.
Ele a olhou nos olhos.
— Você não pode subir escadas sozinha.
Antes que ela pudesse contestar, ele a segurou com mais firmeza e começou a subir os degraus. Liana sentiu o calor do corpo dele contra o seu, o perfume amadeirado e masculino preenchendo o espaço entre eles.
Nunca estivera tão próxima de um homem assim.
Scott e Rodolfo eram as únicas exceções em sua vida, os únicos que ela permitia se aproximarem dela sem medo. Mas Artur era diferente. Havia algo nele que a fazia prender a respiração.
Por um momento, ela se pegou olhando para ele de um jeito que jamais olharia para outro homem. E quando percebeu isso, desviou o olhar rapidamente.
Artur franziu a testa.
Camille nunca o olhou assim.
Antes, ela teria preferido rastejar por essas escadas do que aceitar sua ajuda. Ele se lembrou de uma noite, anos atrás, quando Camille torceu o tornozelo. Mesmo ferida, recusou-se a deixá-lo carregá-la.
Agora, aquela mulher nos seus braços não parecia a mesma.
Ao chegar ao quarto, ele a colocou na cama e ficou em pé, observando-a por um instante. Havia algo de diferente nela, e isso o intrigava e irritava ao mesmo tempo.
Mas o que veio a seguir não foi gentileza.
Com um olhar sombrio, Artur a segurou pelo pulso e a puxou para fora da cama, sem dar tempo para qualquer reação. Ele a arrastou até o banheiro e, sem aviso, abriu o chuveiro no jato mais frio.
— O que você está fazendo?! — Liana gritou, se debatendo, enquanto a água gelada encharcava suas roupas e gelava sua pele.
— Quero ter certeza de que você está bem limpa. — Artur disse, a voz baixa, perigosa. — Sem marcas… daquele doutor.
Liana arregalou os olhos.
— Você está louco?!
Ele se inclinou, segurando seu rosto molhado com uma mão firme.
— Escuta bem, Camille… — Sua voz saiu baixa, carregada de posse. — De agora em diante, todos os seus sorrisos pertencem a mim.
Liana sentiu um frio na espinha.
E dessa vez, não foi por causa da água gelada.
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Atualizado até capítulo 38
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