Hospital de Caldwell – Quarto de visitas
O silêncio pesava no quarto como uma névoa espessa. Liana sentia o olhar perfurante de Artur sobre ela, mas manteve sua expressão perfeitamente vazia, os olhos piscando com lentidão, como se estivessem tentando processar o que viam.
— Camille… — Artur repetiu o nome, a voz carregada de algo indefinível.
Ela franziu a testa levemente — Esse nome… — murmurou, piscando algumas vezes. Sua própria voz soava estranha para ela.
Artur avançou alguns passos, parando ao lado da cama. Ele parecia prestes a dizer algo, mas Rodolfo o interrompeu.
— Senhor Sherman, tente não forçar nada agora. A amnésia é uma resposta comum a traumas cerebrais. O cérebro dela pode ter bloqueado informações para se proteger.
Artur virou o rosto lentamente para encarar Rodolfo, seus olhos cinzentos escuros e afiados — Amnésia?
— Sim. — Rodolfo manteve a voz firme. Era essencial que sua atuação fosse impecável. — É um fenômeno que pode durar semanas, meses… até anos.
Artur franziu a testa. Aquilo não fazia sentido — Então… ela não se lembra de nada? — Ele olhou de volta para Liana, que o observava com um olhar perdido.
Ela inclinou a cabeça um pouco para o lado — Eu… eu deveria lembrar?
A respiração de Artur ficou pesada. A mulher que ele conhecia como sua esposa sempre evitava olhá-lo nos olhos. Mas agora, essa Camille o encarava, completamente vulnerável, como se estivesse realmente vazia. Era perturbador.
— Eu sou seu marido. — Ele finalmente disse.
Liana piscou. Suas sobrancelhas se franziram levemente. — Marido? — A palavra soou estranha em sua boca.
Artur fechou os olhos por um momento e soltou um longo suspiro. Ele passou a mão pelo rosto, visivelmente desconfortável — Isso é um pesadelo… — murmurou, como se estivesse tentando processar a situação.
Liana abaixou o olhar — Me desculpe… — sussurrou, sua voz carregada de confusão e culpa.
Artur se virou de repente, a frustração evidente.
— Não peça desculpas. Não é sua culpa.
Ela o observou por um instante, antes de abaixar o olhar para suas mãos. Elas pareciam estranhas. Como se não fossem dela.
— Então… eu sou Camille Sherman. — Sua própria voz tremia ao dizer o nome.
— Sim. — Artur confirmou, a voz mais fria agora.
Ela respirou fundo — E… como era antes?
Artur hesitou. Por algum motivo, não sabia responder essa pergunta.
Porque, para ele, Camille sempre foi um mistério
Sempre distante. Sempre fechada.
Ele abriu a boca para falar, mas Rodolfo o interrompeu novamente.
— Acho que isso é o suficiente por hoje. Camille precisa descansar.
Artur olhou para Rodolfo, os olhos carregados de emoções conflitantes. Mas ele apenas assentiu e se virou para sair.
Antes de passar pela porta, sua voz ecoou baixinho pelo quarto: — Eu voltarei amanhã.
E então, ele desapareceu.
O outro médico no cómodo aproveitou o momento para sair também.
Liana soltou um longo suspiro assim que a porta se fechou. Seu corpo inteiro estava tenso.
Ela tinha conseguido enganá-lo.
Mas o pior ainda estava por vir.
————
Mansão Sherman
Na mansão Sherman, Helena e Lorenzo conversavam em tom baixo na sala de estar.
— Então… Camille finalmente voltou. — Lorenzo brincou, tomando um gole de seu uísque.
Helena, sentada com as pernas cruzadas, girava sua própria taça de vinho sem muita expressão.
— Sim.
— Você não parece feliz.
Helena suspirou, olhando pela janela.
— Não sei. Algo está estranho.
Lorenzo ergueu uma sobrancelha.
— Como assim?
Ela demorou um momento para responder.
— Eu só… esperava que as coisas fossem diferentes.
Lorenzo soltou uma risada baixa.
— Você queria que ela voltasse tão quebrada que nunca mais fosse uma ameaça, certo?
Helena o encarou com frieza.
— Não seja dramático. As coisas não mudarão, de qualquer forma ela não se atreve a tentar nada com Artur.
Lorenzo riu novamente, mas seus olhos estavam afiados.
— Vamos ver até quanto tempo... Afinal da última vez eles até tiveram uma noite apaixonada.
Helena sorriu de lado.
— Sim… vamos ver, eu mesma vou cuidar para que nunca mais se aproxime do meu Artur
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Atualizado até capítulo 38
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