Capítulo

Ágata entra no vestiário, o corpo tremendo e o coração acelerado. O nervosismo a toma por completo, e sua amiga Antonella percebe imediatamente.

— Amiga, o que houve? — Antonella pergunta, se aproximando com um olhar preocupado.

Ágata, com as mãos trêmulas, tenta se controlar, mas a pressão é demais.

— Acabou tudo. Louis descobriu tudo. — A voz dela sai baixa, carregada de frustração e medo.

Antonella franze a testa, confusa, enquanto olha para Ágata.

— Como ele descobriu? — Antonella questiona, tentando entender.

Ágata, sem palavras, tira algumas notas de euro do bolso e as mostra para Antonella. A quantidade de dinheiro é impressionante, mais do que qualquer uma das duas poderia esperar.

— Amiga, são muitos euros... — Antonella exclama, surpresa com a quantia.

Ágata suspira profundamente, sua voz rouca ao explicar.

— São... mas foi ele que jogou para mim no palco. Ele estava lá, na plateia, e me viu dançar.

Antonella dá um passo para trás, incrédula.

— O quê? Ele está aqui? — Antonella pergunta, tentando processar a informação.

Ágata não consegue mais esconder a angústia que sente.

— Estava. Ele me viu. — Ela balança a cabeça, desesperada. — Agora já era.

Antonella tenta acalmá-la, tentando encontrar uma solução, mas a situação parecia sem saída.

— Calma, amiga. A gente pode inventar uma desculpa para ele, algo que faça sentido... — Antonella sugere, com a esperança de reverter a situação.

Ágata solta uma risada seca, sem qualquer humor.

— Qual desculpa? Me diz qual? Já era... — diz ela, sentindo-se perdida.

Antonella tenta se aproximar mais, colocando a mão no ombro de Ágata, tentando acalmá-la.

— Fica calma, Ágata. Não vai ser o fim do mundo, ok? — Antonella diz, tentando transmitir alguma confiança.

Ágata solta um suspiro frustrado, e seu olhar fica vazio.

— Como vou ficar calma? Droga! — Ela grita, antes de se levantar abruptamente.

Sem dizer mais nada, Ágata sai do vestiário e da boate pelos fundos. Ela coloca seu casaco, que mal a protege da noite fria e da chuva que começa a cair torrencialmente. Ela olha para o céu, como se pedisse algo, uma resposta, uma solução para o caos que se formou ao seu redor.

— Por que não me leva agora mesmo? — ela murmura, sua voz embargada pela dor. — Desde que eu vim para essa cidade, não dou sorte com nada...

A chuva começa a cair forte, e a maquiagem de Ágata começa a escorrer pelo rosto, misturando-se com as lágrimas que não conseguiram ser retidas. Ela se sente completamente sozinha, perdida, como se não houvesse mais saída.

Com o coração pesado, ela se senta em um banco na rua deserta, olhando para a chuva que não parava de cair, esperando que o mundo ao seu redor se acalmasse, assim como seus pensamentos.

Ágata permanece sentada no banco, a chuva forte caindo sobre ela, quando uma senhora elegante aparece e se senta ao seu lado. As duas ficam em silêncio, observando a chuva cair por alguns minutos. A senhora, com um sorriso suave, quebra o silêncio e pergunta:

— Está aguardando a chuva passar?

Ágata, com o olhar distante e cansado, responde:

— Eu estou querendo desaparecer daqui.

A senhora solta um leve sorriso, mas com um tom curioso e acolhedor:

— Mas o que houve de tão grave para querer desistir da vida, menina?

Ágata suspira profundamente, as palavras pesadas saem quase como um desabafo:

— Desde que pisei meus pés em Paris, as coisas estão dando errado pra mim. Achei que teria sorte nesse lugar...

A senhora, com uma expressão calma e sábia, diz:

— Mas lugares não vão lhe dar sorte. Você é quem tem que construir a sua sorte.

Ágata ri sem humor, com uma pitada de amargura:

— Se depender de mim para construir minha sorte, eu estou ferrada.

A senhora observa com cuidado e, então, diz algo que faz Ágata parar por um momento:

— Tenho certeza de que sua frustração não é somente com sorte, mas com alguém que você está sentindo algo diferente.

Ágata balança a cabeça, tentando desviar da conversa, mas não consegue esconder a inquietação dentro dela:

— Claro que não... Eu... Eu estou com um grande problema e preciso resolver, só isso.

A senhora a encara com sabedoria e, com um tom gentil, fala:

— Você, nesse momento, está sentindo o sentimento da perda, como se alguém tivesse entrado em seu coração sem que você percebesse e agora sente como se essa pessoa estivesse indo embora.

Ágata, desconcertada, tenta se defender:

— Eu tenho um namorado e não sinto medo de perdê-lo.

A senhora, com um olhar tranquilo, corrige:

— Eu não falo do seu namorado. Estou falando de alguém que entrou na sua vida e que você agora não consegue tirar da sua cabeça.

Ágata, visivelmente incomodada, respira fundo e diz:

— Eu só entrei na vida desse alguém por interesse, de me ajudar. Só isso.

A senhora ri suavemente e balança a cabeça:

— Você entrou com essa intenção, mas seu coração diz outra coisa...

Ágata para por um momento, refletindo sobre as palavras da senhora. Ela sente que algo ali faz sentido, mas ainda tenta negar.

— Está tão claro assim? Que eu não consigo mais tirar aquele Louis Beaumont da cabeça?

A senhora sorri levemente, como se soubesse exatamente o que Ágata estava passando:

— Está vendo que eu tenho razão? Quando eu era jovem como você, me apaixonei por um médico, mas eu era muito pobre e achava que ele nunca iria olhar para mim. Eu fingia ser estudante de medicina, mas uma hora ou outra ele acabou descobrindo tudo.

Ágata, com um olhar triste, responde:

— Esse foi meu problema de agora mesmo.

A senhora, então, dá um conselho que parece simples, mas ao mesmo tempo profundo:

— Quer um conselho? Seja você mesma pra ele... Conte quem você é. Se ele for embora, isso significa que você ganhou. E se ele ficar, isso significa que você ganhou também. O homem que era médico ele acabou aceitando quem eu sou, infelizmente ele morreu a pouco tempo mas vivemos uma linda história de amor.

Ágata, com um tom de dúvida, responde:

— Mas ele não vai querer mais saber de mim se eu mostrar a Ágata de verdade.

A senhora, com uma leve risada, responde:

— Se ele não gostar da Ágata de verdade, significa que você ganhou, porque se livrou de alguém que não vai gostar de você como você é.

Ágata suspira, com um olhar melancólico:

— Ele é um cara refinado, elegante e muito rico. E eu...? — Ela puxa uma cartela de cigarros do bolso e diz, com um tom de desânimo — Eu sou uma fumante, nada elegante, eu arroto depois que bebo refrigerante igual a um porco, olha minhas unhas sujas, eu trabalho em uma lanchonete...

A senhora, com um olhar gentil, diz:

— Ágata, Ágata, você precisa se acalmar. Ouça meu conselho, mostre pra ele a Ágata de verdade.

A senhora então se levanta do banco, abre seu guarda-chuva e começa a caminhar, deixando Ágata sozinha com seus pensamentos. Ágata, sentindo um misto de gratidão e dúvida, diz, quase em um sussurro:

— Obrigada pelo conselho... e não sei se vai me servir...

A senhora, sem parar de caminhar, apenas acena com a cabeça, como se soubesse que cada pessoa precisa seguir seu próprio caminho para encontrar as respostas.

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Ioneide Martins

Ioneide Martins

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2025-03-23

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