Capítulo

A madrugada estava fria e úmida. A chuva fina caía sobre Paris, encharcando as ruas e tornando o vento ainda mais cortante. Ágata subia as escadas estreitas e rangentes do prédio velho onde morava com Heitor. Seu casaco comprido estava pesado de umidade, o cigarro pendia de seus lábios, e em suas mãos havia algumas sacolas com mantimentos baratos.

Ela empurrou a porta do apartamento com o ombro e entrou, já tirando o cigarro da boca. Mas ao levantar os olhos, viu Heitor sentado no sofá, imóvel, olhando fixamente para a parede.

— O que aconteceu? — perguntou, franzindo o cenho.

Heitor sequer piscou. A voz saiu rouca:

— Eu vou morrer.

Ágata revirou os olhos e jogou as sacolas sobre a mesa.

— Para de drama, Heitor. Como assim morrer? Descobriu alguma doença grave?

Ele soltou um riso amargo e se levantou. A luz fraca do abajur iluminou seu rosto, revelando os hematomas nos lábios e na bochecha. Ele ergueu a camisa, mostrando as marcas de socos espalhadas pelo tronco.

Ágata arregalou os olhos.

— O maior mafioso agiota de Paris me pegou hoje — Heitor disse, a voz trêmula.

Ela tragou o cigarro, tentando conter o nervosismo.

— Lembra daquele Yanick? Logo quando você chegou aqui, eu precisei pegar dinheiro emprestado com ele.

— Eu lembro sim — respondeu, exalando a fumaça.

— Pois é, ele me achou e me ameaçou.

Heitor se aproximou, seus olhos carregados de desespero.

— Tenho 40 dias pra pagar um milhão de euros. Se eu não conseguir… Ele vai me matar. E matar você também.

O coração de Ágata disparou. Ela passou as mãos pelos cabelos molhados, sentou-se pesadamente no sofá e balançou a cabeça.

— Eu não acredito, Heitor. Isso é impossível…

— Eu sei. Mas eu não sei o que fazer… Eu vou tentar fugir.

Ágata virou-se para ele, furiosa.

— Você sabe que se tentar fugir vai ser pior! E isso ainda sobra pra mim! Caralho!

Ela sentou ao lado dele, enquanto Heitor pegava o cigarro de sua mão e tragava fundo. O silêncio entre eles era carregado de tensão.

Ele soltou a fumaça devagar, como se já aceitasse seu destino.

— Vamos morrer da maneira mais horrível possível.

Furiosa, Ágata socou o braço dele várias vezes.

— Tudo por sua culpa! Apenas sua culpa!

Heitor baixou a cabeça.

— Eu sei que é culpa minha… Mas quer que eu faça o quê?

O apartamento mergulhou em um silêncio denso, apenas o barulho da chuva contra a janela preenchia o vazio.

Ágata mordeu os lábios, os pensamentos a mil.

— Que droga… — murmurou.

Eles estavam encurralados. E precisavam encontrar uma saída. Rápido.

O dia foi um tormento para Ágata. A ameaça de Yanick ecoava em sua mente, tornando cada momento uma tortura. Na lanchonete onde trabalhava, seus olhos estavam sempre em alerta, observando cada cliente que entrava, temendo que algum capanga do mafioso surgisse para acabar com ela.

Quando a noite chegou, ela seguiu para seu segundo trabalho na boate. Mas, diferente das outras vezes, sentia um peso nos ombros, um medo constante.

No vestiário, Ágata abriu o armário, jogando sua bolsa dentro, mas antes mesmo de começar a se trocar, olhou ao redor, desconfiada.

Antonela, sua colega de trabalho, estava em frente ao espelho, retocando o batom vermelho quando percebeu sua inquietação.

— O que houve? Está assustada, Ágata? — perguntou, arqueando a sobrancelha e se aproximando.

Ágata desviou o olhar e forçou um sorriso.

— Eu só estou ansiosa hoje.

Antonela riu, balançando a cabeça.

— Mas você faz isso há dois anos. Esses olhares dos clientes são normais.

Ágata olhou ao redor mais uma vez e então segurou a mão de Antonela, puxando-a para um canto mais afastado. Ela sussurrou:

— Não estou preocupada com isso.

Antonela franziu o cenho.

— O que houve?

Ágata olhou para os lados antes de responder, a voz carregada de desespero:

— Eu estou desesperada. Desesperada!

— Por quê?

— Um agiota maldito está ameaçando o Heitor e eu de morte.

Antonela arregalou os olhos.

— Eu te falei que o Heitor iria te colocar em uma enrascada! Mas você é louca, apaixonada por esse homem…

— Para de me dar sermões e escuta o que estou te dizendo! — Ágata cortou, impaciente. — Eu tenho 40 dias pra conseguir um milhão de euros, ou ele vai matar o Heitor e a mim!

Antonela ficou em silêncio por um momento, assimilando as palavras. Então suspirou.

— Amiga… Eu queria te ajudar, mas um milhão é muito dinheiro.

Ágata mordeu o lábio inferior, os olhos marejados.

— Eu sei. Então é o mesmo que estar morta.

Antonela observou sua amiga por alguns segundos e então abriu um sorriso malicioso.

— Já sei! Você pode se tornar acompanhante de luxo.

Ágata arregalou os olhos, sentindo o estômago revirar.

— Isso não! Eu nunca aceitei ser…

— Calma! Não estou falando de qualquer um! — Antonela a interrompeu, animada. — Estou falando de homens milionários, dispostos a pagar qualquer coisa por uma mulher linda como você.

Ágata balançou a cabeça.

— Isso não está certo…

— Você prefere morrer?

O silêncio de Ágata foi resposta suficiente.

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Comments

Claudia

Claudia

Eita que situação 🤔🤔♾🧿

2025-03-24

0

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