Máscaras no Altar

A recepção do casamento estava perfeita. O salão da Mansão Hernandez resplandecia sob a luz dos lustres de cristal, e a decoração impecável trazia o toque sofisticado que um evento daquela magnitude exigia. Os convidados conversavam animadamente, brindavam, riam. Para qualquer um de fora, aquele era o retrato de um casamento feliz.

Mas quem olhasse com atenção para os recém-casados perceberia que havia algo fora do lugar.

Liz transitava pelo salão com sua postura impecável, o sorriso educado e a elegância natural de sempre. Felipo, por outro lado, mantinha uma expressão séria, o cenho levemente franzido enquanto a observava. Algo estava errado. Ele sentia isso, mesmo que não conseguisse colocar em palavras.

E ele sabia exatamente quando tudo havia mudado.

Depois que Liz o flagrou no escritório com outra mulher.

Ele não esperava que ela fizesse uma cena. Liz nunca demonstrava o que sentia. Mas, de alguma forma, seu silêncio era mais perturbador do que qualquer escândalo.

Ela simplesmente o ignorou.

Sem discussões, sem acusações, sem olhares de ódio ou mágoa. Apenas afastou-se, seguiu com a festa como se nada tivesse acontecido e o tratou com uma frieza cortante.

E aquilo estava o irritando de um jeito que ele não conseguia entender.

Felipo, acostumado a estar no controle de todas as situações, agora sentia que a própria esposa o estava descartando sem o menor esforço.

"Ela não vai nem brigar comigo?"

Ele esperava alguma reação. Qualquer coisa. Mas Liz parecia inatingível, e isso estava começando a mexer com ele.

Liz

Liz continuava cumprindo seu papel de anfitriã com perfeição. Conversava com os convidados, sorria, recebia os cumprimentos e agradecia os elogios sobre a cerimônia. Mas, por dentro, sentia como se estivesse anestesiada.

Não sentia raiva. Não sentia dor. Não sentia nada.

Era isso que a assustava.

Quando flagrou Felipo com outra mulher, esperava sentir ódio, indignação, qualquer coisa. Mas tudo o que veio foi um vazio imenso, uma confirmação silenciosa de que nunca deveria ter criado expectativas.

Ela não era ingênua. Sabia exatamente com quem estava se casando. Mas, em algum momento, permitiu-se acreditar que talvez houvesse algo além daquela formalidade imposta.

Que tolice.

Soffie percebeu a mudança em Liz. Desde o flagra, sua amiga estava mais calada, mais reservada. Quando ficaram a sós por um instante, Soffie não conseguiu se segurar:

— Você está bem?

Liz ajeitou a alça do vestido e respondeu sem emoção:

— Estou ótima.

Soffie cruzou os braços.

— Não minta pra mim, Liz.

Liz soltou um suspiro, desviando o olhar para o salão lotado.

— O que eu poderia dizer? Que vi meu marido com outra mulher na noite do nosso casamento? Que me sinto uma completa idiota por ter acreditado, por um segundo sequer, que ele poderia mudar?

Soffie fechou a mão em punho.

— Eu vou matar esse desgraçado.

Liz soltou uma risada seca.

— Não vale a pena.

— Você vai deixar isso assim?

— Eu não vou dar a ele o prazer de ver que me magoou.

Soffie cerrou os dentes.

— Você gosta dele, não gosta?

Liz hesitou.

— Não importa mais.

Felipo

Felipo estava cada vez mais inquieto. Desde que Liz começou a agir daquela forma, ele sentia uma irritação crescente. A forma como ela conversava com os convidados, como ria educadamente, como simplesmente o apagava da própria existência…

Ele tentou ignorar. Tentou se convencer de que não se importava.

Mas quando viu Liz conversando com Dean, o sangue ferveu em suas veias.

Dean segurava uma taça de uísque e sorria para Liz como se estivesse completamente à vontade. Liz, por sua vez, também parecia confortável, até demais para o gosto de Felipo.

Sem pensar, Felipo se aproximou.

— O que vocês estão conversando? — sua voz saiu mais ríspida do que pretendia.

Dean ergueu a sobrancelha.

— Relaxa, Felipo. Só estou dizendo para sua esposa o quão magnífica essa recepção está.

Liz virou-se para Felipo, os olhos frios como ele nunca vira antes.

— Algum problema?

Felipo cerrou a mandíbula.

Ela nunca o olhou daquela maneira.

— Você passou a festa inteira me ignorando, Liz. Acho que eu tenho o direito de perguntar o que está acontecendo.

Liz inclinou a cabeça, um sorriso irônico surgindo em seus lábios.

— Ignorando você? Ora, Felipo… Não somos um casal apaixonado? Não somos marido e mulher? Não está tudo perfeito?

Felipo sentiu um gosto amargo na boca.