Cap. 18

_Papai! Liz gritava batendo na porta com força.

Heitor e Laura trocaram um olhar alarmado antes que ele corresse para abrir a porta. Liz estava ali, com os olhos arregalados e o rostinho vermelho de tanto chorar.

_ O que foi filha? Ele perguntou preocupado.

_ Papai… Eu tive um sonho ruim! Soluçou, agarrando-se ao pai. _ Não me deixe papai, não me deixe sozinha...

Heitor a pegou nos braços sem hesitar, sentindo o corpo pequeno tremer contra o seu.

_Está tudo bem, meu amor, foi só um pesadelo. Falou tentando acalmá-la.

Laura se aproximou, colocando uma das mãos nas costas da menina de forma delicada.

_Você quer nos contar o que aconteceu no sonho? Perguntou com a voz suave e acolhedora.

Liz, confusa, olhou para ela por um breve instante antes de esconder o rosto contra o peito do pai.

_ Papai… eu posso dormir com o senhor? Pediu baixinho, com a voz embargada pelo choro.

Heitor sentiu o coração se quebrar ao ouvir a voz trêmula da filha, detestava vê-la sofrer. Sem hesitar, ele a segurou com mais firmeza, não negaria o pedido da filha.

_Claro que pode, princesa. Ele carregou Liz até a cama e se deitou, sentindo filha segurar a sua roupa com força, fechando os olhos enquanto Heitor acariciava seus cabelos.

Laura estava fechando a porta quando encontrou a boneca que ela tinha dado a Liz caída do lado de fora Laura pegou boneca e a entregou para a Liz, que abriu os olhos lentamente, aceitando o brinquedo.

_Foi só um pesadelo, Liz. Nada vai acontecer com você . Disse Laura mais uma ve, tentando tranquilizá-la.

Liz abraçou a boneca com força e, aos poucos, seu corpo relaxou. Laura observou a cena em silêncio, seu coração se apertando diante da vulnerabilidade da menina e do amor incondicional que Heitor demonstrava, mas ela sabia que algo tinha acontecido e não ia descansar até descobrir.

_ A babá... Disse sabendo que ela poderia estar envolvida na mudança de humor da menina, e se realmente tivesse, ela ia descobrir e não deixaria barato.

No meio da noite, enquanto Heitor dormia, ele não percebeu que Liz acordadou. Laura, apesar da hora, ainda estava acordada. Deitada no sofá, sua mente girava em torno dos acontecimentos dia, tentando entender os medos da menina e a mudança repentina em seu comportamento.

Quando viu Liz se remexer na cama e se levantar devagar, Laura se ergueu a cabeça olhando para ela.

_Está tudo bem, Liz? Liz se assustou com a pergunta e, por um instante, não soube o que dizer.

_Eu... eu estou com fome. Disse baixinho olhando para os pés.

Laura lembrou que Liz mal tinha tocado na comida durante o jantar, e provavelmente a fome que estava sentindo estava dificultando seu sono. Com um sorriso, Laura se sentou no sofá e estendeu a mão para Liz

_Vamos até a cozinha que vou preparar algo para você comer. Sussurou.

Liz hesitou por um momento, seus olhos avaliando a mão se Laura. Sua expressão ainda carregava resquícios de receio, mas, depois de alguns segundos, ela cedeu, segurando a mão de Laura. Juntas, caminharam silenciosamente para fora do quarto, tomando cuidado para não acordar Heitor.

Na cozinha, Laura ajudou Liz a se sentar, e foi até a geladeira ver o que poderia preparar para a menina comer, pensando em aproveitar aquele momento para se aproximar dela.

_ O que você quer comer? Um sanduíche? Uma fruta? Posso fazer leite quente, ajuda a dormir melhor.

Liz não respondeu, apenas brincou com os dedos no colo. Laura, percebendo a hesitação, decidiu preparar um pouco de tudo.

Enquanto esquentava o leite, tentou conseguir que a menina conversasse com ela.

_ Liz, por que você está com medo de mim?

A menina olhou para ela surpresa com a pergunta. Liz mexeu os pezinhos no ar, visivelmente desconfortável.

_ Não precisa ter.medo, sou amiga...

_A tia Elaine... ela disse que você está aqui só por causa do meu papai… e que você vai fazer ele se esquecer mim...

_ O que? Laura parou por um instante, sentindo o peso daquelas palavras. Ela respirou fundo e voltou-se para Liz com um olhar cheio de carinho. _Liz, olha para mim.

A menina ergueu os olhos lentamente com medo.

_Eu jamais faria algo assim. E o seu pai... ele te ama mais do que qualquer coisa neste mundo. Você é a pessoa mais importante da vida dele, e nada vai mudar isso.

Liz piscou algumas vezes, absorvendo aquelas palavras que pareciam mais sinceras do que as da babá, fazendo seu coração começar a se acalmar.

_Mas… e se ele gostar mais de você do que de mim? Questionou com a inocência de uma criança que temia perder seu lugar no coração do pai.

Laura sorriu, se aproximando mais, ajeitando os cabelos dela com carinho.

_Isso nunca vai acontecer... O amor que seu pai sente por você não se divide, Liz, ele só cresce. Seu pai sempre será seu, e eu nunca tentaria tirar ele de você, não precisa ter medo...eu juro.

A menina olhou para baixo, pensativa, enquanto Laura colocava a bandeja na bancada com tudo que havia preparado para ela comer.

_ Coma... Incentivou Laura

Depois de um tempo, Liz pegou o sanduíche  e começou a comer, ainda sem dizer nada.

Laura percebeu que talvez a menina precisasse de tempo para processar tudo. Por isso, em silêncio, ela permaneceu ao lado dela, oferecendo companhia e segurança, e carinhosamente deu um beijo no topo da sua cabeça.

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Enquanto isso, Heitor acordou sentindo um espaço vazio ao seu lado. Ele piscou algumas vezes, tentando se situar, até perceber que Liz não estava mais na cama e que Laura também não estava no sofá.

Um pequeno alarme soou dentro dele, que rapidamente se levantou, passando a mão no rosto na tentativa de espantar o sono saindo do quarto rapidamente.

Primeiro, Heitor passou no quarto de Liz, e viu que ela não estava lá. Preocupado, ele  desceu as escadas correndo. Ao chegar a sala, viu que a luz da cozinha estava acesa. Heitor caminhou até a cozinha e, ao se aproximar, encontrou uma cena que o fez parar por um instante.

Laura estava escorada na bancada, seu corpo relaxado enquanto conversava com Liz, que estava comendo um sanduíche. A menina balançava os pezinhos no ar, visivelmente mais tranquila do que antes, enquanto Laura a observava com um sorriso acolhedor.

Heitor observou Laura por mais tempo do que deveria. A forma como ela estava ali, tão natural e acolhedora com sua filha, fez algo dentro dele mudar ainda mais. E ele começou a observar o jeito que os cabelos dela caíam suavemente sobre os ombros, realçando os traços delicados de seu rosto, e até mesmo a forma descontraída com que se apoiava na bancada, tudo nela parecia exalar uma sensualidade envolvente e uma ternura que o atingia em cheio.

Ele engoliu seco, desviando os olhos rapidamente, tentando disfarçar o efeito que Laura começava a ter sobre ele. Mas era impossível ignorar. A conexão que ela estava criando com Liz apenas tornava tudo ainda mais intenso, e difícil.

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