Cap. 14

Enquanto o carro começava a se mover, Laura olhou discretamente para Liz, que observou a troca de palavras entre as duas mulheres com uma expressão curiosa. A menina não disse nada, apenas apertou o ursinho que segurava e olhou pela janela.

Laura queria entender o que se passava na cabeça da menina. Queria saber porque Liz parecia fugir dela, porque olhava com tanta curiosidade, mas hesitava em se aproximar. E, acima de tudo, queria saber o que exatamente porque Elaine estava tentando evitar que as duas se aproximassem.

No caminho até a escola, Laura notou que Liz mexia no cabelo de tempos em tempos, ajeitando a presilha como se estivesse desconfortável.

_O que foi, gatinha? Perguntou Laura, observando a menina.

Liz hesitou por um instante antes de responder, ainda mexendo nos cabelos.

_Tá um pouquinho apertado...

_Quer que eu arrume para você? Ou que eu faça outro penteado no seu cabelo? Perguntou Laura com um sorriso.

Liz a olhou por alguns segundos e por fim, concordou balancando a cabeça timidamente.

Laura virou-se para ela, sentindo o coração dar um salto ao perceber que Liz estava permitindo que ela se aproximasse. Com delicadeza, soltou o elástico que prendia o cabelo da menina e começou a penteá-lo com os dedos, sentindo a maciez dos fios.

_Você tem um cabelo lindo, sabia? Comentou, enquanto separava mechas para fazer  tranças, estilo boxeadora.

Liz observava seus movimentos atentamente, curiosa.

_O que você vai fazer?

_Duas tranças. Você vai ficar ainda mais linda, e vai poder correr e brincar sem se preocupar.

A menina sorriu e ficou quieta enquanto Laura trabalhava com paciência, entrelaçando as mechas de forma delicada e cuidadosa. Ao terminar, Laura pegou o celular para Liz ver o resultado.

_Gostou? Perguntou Laura, esperando sua reação.

Liz passou a mão nos cabelos e abriu um sorriso verdadeiro, um sorriso que Laura não tinha visto antes.

_ Gostei muito...

Laura sentiu o peito se encher de um sentimento que ela não sabia nomear. Era um pequeno avanço, mas para ela significava muito.

Assim que o carro parou em frente à escola, Laura desceu primeiro e contornou o veículo para abrir a porta para Liz desafivelando o cinto de segurança da cadeirinha. Ela estendeu a mão e Liz a segurou, descendo com cuidado, e as duas seguiram caminhando juntas até a entrada da escola.

O coraçãozinho de Liz batia forte novamente, a mesma sensação estranha que sentia sempre que Laura estava por perto. Mas, dessa vez, não parecia algo ruim.

Ao chegar à porta, Laura abaixou-se para ficar na altura dela.

_Boa aula, Liz. Laura se inclinou  dando um beijo carinhoso em sua testa.

Liz olhou para ela por um instante e, sem pensar muito, retribuiu o gesto, dando um beijo rápido na bochecha de Laura antes de correr para dentro da escola.

Laura ficou parada, observando Liz sumir pelos corredores, sentindo o coração pulsar forte.

_ O que é isso? Se perguntava.

Em seguida, Laura dispensou Carlos, fingindo seguir a pé para o seu compromisso, mas ela  permaneceu no entorno da escola, observando cada detalhe. Queria entender melhor o ambiente em que Liz passava boa parte do dia, analisar as pessoas que trabalhavam no lugar, e os pais que deixavam seus filhos. Caminhou discretamente pelo quarteirão, parando em uma cafeteria próxima, onde pediu um café e ficou sentada perto da janela, de onde podia ver parte da entrada da escola.

Quando percebeu, pensamentos estavam tomados por Liz. O sorriso encantador da menina ao ver o penteado novo permaneceu em sua mente, e a lembrança do beijo carinhoso que recebeu dela a fazia sentir uma emoção difícil de explicar. Aos poucos, parecia que uma barreira invisível estava se desfazendo entre elas.

Depois de algum tempo, Laura foi a outros lugares. Ao passar perto de uma loja de brinquedos pensou em Liz e entrou, pensando em comprar algo para ela.

 E assim a tarde passou voando.

Perto do horário de Liz sair da escola, Laura pegou o celular e digitou uma mensagem para Heitor.

"Pode me buscar nesse endereço antes de pegarmos Liz?"

A baixo, ela anexou a localização de onde estava e enviou para Heitor

Do outro lado, Heitor estava no escritório quando o celular vibrou. Ao ver o nome de Laura na tela, seu corpo ficou tenso por um segundo. Respirou fundo antes de abrir a mensagem e, ao ler o conteúdo, suspirou pesadamente, passando a mão pelo rosto.

Ele se perguntava como deveria agir diante dela. Laura mexia com ele de uma forma diferente , e quanto mais tentava afastá-la dos pensamentos, mais ela se fixava.

Por fim, sem outra opção, Heitor pegou a chave do carro e saiu do escritório. Ele não sabia ao certo como seria aquele encontro, mas uma coisa era certa: era impossível ignorá-la.

Quanso ele chegou, Laura observou Heitor descer do carro com a mesma postura firme de sempre. Ele contornou o veículo e abriu a porta para ela, um gesto cortês que a pegou de surpresa. Havia algo no jeito que ele fazia até as coisas mais simples que a deixava desconcertada.

_Obrigada. Agradeceu ao entrar no carro segurando uma sacola, sentindo o olhar dele sobre ela por um segundo antes que ele fechasse a porta e voltasse para o banco do motorista.

O silêncio se instalou entre os dois enquanto ele dirigia, mas não era um silêncio desconfortável. Era carregado de algo não dito, uma tensão sutil que Laura não conseguia decifrar completamente.

_Encontrou algo suspeito? Heitor quebrou o silêncio primeiro.

Laura suspirou, olhando pela janela por um instante antes de responder.

_Ainda não, mas tem algo me incomoda… Por isso preciso ter acesso às câmeras da casa. Quero ver quem entra e quem sai, entender melhor a rotina da Liz, observar se há algum comportamento estranho dos funcionários

_Vou instalar o aplicativo de monitoramento no seu celular. Assim, você pode acompanhar tudo em tempo real.

Laura virou o rosto para ele, surpresa com a prontidão em ajudá-la.

_ Vai ser de grande ajuda.

Heitor desviou o olhar rapidamente para ela antes de voltar a focar na estrada.

_ Sei que você precisa ter todas as ferramentas para fazer uma boa investigação.

Ela percebeu a forma objetiva como ele lidava com as coisas. Sempre prático, sempre focado na segurança. Mas, por trás daquela postura rígida, havia algo mais. Um pai verdadeiramente preocupado com sua filha.

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