Cap. 12

Heitor estava parado no hall, ajustando a gravata em frente ao espelho, enquanto mentalmente se preparava para os compromissos do dia. Liz havia voltado para a sala de brinquedos, e o som da risada dela ainda ecoava pela casa, trazendo uma suavidade que contrastava com a tensão silenciosa entre ele e Laura.

_ Liz, já estou indo. Avisou Heitor.

A menina apareceu correndo, abraçando as pernas do pai com força. Ele se abaixou, afagando os cabelos dela.

 _ Hoje o papai não volta para o almoço, mas eu vou te buscar escola. Disse Heitor antes de dar um beijo de despedida na filha.

_ Está bem papai, eu te amo.

_ Eu também te amo. Liz voltou para a sala de brinquedo e Heitor pegou a chave do carro para sair.

Laura, notando alguns olhares sobre ela, se  aproximou de Heitor. Quando ele  estava prestes a abrir a porta, sentiu a leve pressão da mão de Laura em seu braço. Ele se virou, surpreso, e encontrou os olhos dela fixos nos seus.

_ Não vai se despedir? Perguntou Laura, que sem hesitar, inclinou-se ligeiramente, e encostou os lábios no canto da boca dele em um beijo rápido e inesperado. Foi um gesto aparentemente casual, mas que carregava uma tensão elétrica.

_Eles estão olhando... Sussurrou se referindo aos funcionários da casa. _Bom trabalho, amor… Disse Laura em um tom que ecoou pela sala, alto o suficiente para que as empregadas próximas pudessem ouvir.

Os olhos de Heitor se arregalaram por uma fração de segundo, e o ambiente pareceu congelar. O silêncio ao redor foi quebrado apenas pelos passos apressados de uma das funcionárias, que tentava parecer ocupada.

Heitor piscou, atordoado, sentindo o coração acelerar. Sua primeira reação foi ajustar o paletó, como se o gesto pudesse mascarar o efeito que o beijo tele sobre ele.

_Tenha um bom dia, Laura. Ele respondeu com um tom mais firme do que pretendia.

Assim que a porta principal se fechou atrás de Heitor, Laura permaneceu no mesmo lugar, fingindo uma serenidade que não refletia as batidas descompassadas do seu coração. Ela sabia que ainda haviam olhares sobre ela, os funcionários cochichavam pelos cantos.

A tensão do momento ainda pairava no ar, mas Laura manteve a postura. Com passos lentos e calculados, virou-se e caminhou de volta para a sala. Ao se sentar em uma poltrona próxima, Laura respirou fundo, cruzando as pernas com elegância fingindo mexer no celular. O calor ainda percorria seu corpo despertando sensações que ela não sentia há muito tempo.

Assim que todos saíram da sala, Laura foi para a área externa em busca de ar fresco, esperando que o ambiente aberto ajudasse a dissipar a inquietação que sentia. O jardim era impecável, com plantas bem cuidadas, a piscina de tamanho considerável estava tampada para a segurança se Liz, e uma fonte próxima a entrada fazia um som suave e relaxante. Contudo, a mente dela não conseguia relaxar.

_ Foco, Laura...

Enquanto caminhava pela área externa, Laura observava tudo com atenção, buscando sinais de câmeras de segurança ou, quem sabe, até mesmo alguma câmera escondida. Seus olhos analisavam cada canto disfarçadamente, passando pelas paredes externas, cantos do teto e até o entorno das árvores.

Enquanto fazia isso, Laura começou a sentir uma presença. Era como se alguém a estivesse observando de longe. Ela parou de andar e virou a cabeça lentamente, com os sentidos aguçados.

Lá estava Liz. Metade do corpinho escondido atrás as cortinas. Os olhos grandes e curiosos da menina estavam fixos em Laura, e a cena fez com que ambas ficassem paralisadas por alguns segundos.

Liz, percebendo que tinha sido pega, deu um pequeno salto de susto e rapidamente tentou se esconder por completo atrás da cortina. O gesto, apesar de tímido, fez Laura sorrir internamente.

Laura se aproximou devagar, com passos suaves, para não assustar ainda mais a menina. Ao chegar perto da cortina, agachou-se levemente e afastou um pouco o tecido, revelando Liz com as mãos nos olhos, como se estivesse brincando de esconde-esconde.

_Oi… disse Laura com um tom calmo e acolhedor. _Você estava me espiando gatinha?

Liz abriu uma fresta entre os dedos e espiou Laura de volta, sua expressão tímida, mas fascinada. Sem dizer nada, ela balançou a cabeça afirmativamente, e seus cabelos acompanharam o movimento.

Laura sorriu, se ajoelhando no chão para ficar na altura da menina.

_Você é boa nisso. Quase não percebi que estava ali. Brincou

Liz finalmente tirou as mãos do rosto, mas manteve a distância, ainda avaliando Laura com aquele olhar desconfiado que parecia medir cada gesto.

_Você... é amiga do papai… Disse Liz baixinho, quase como se estivesse com medo de ouvir a resposta.

_Sim, sou amiga do seu papai. E espero que possamos ser amigas também.

Liz inclinou a cabeça para o lado, como se pensasse em uma resposta.

_Meu coração tá batendo muito forte… tum... tum... tum… Contou Liz, colocando a mãozinha no coração.

Laura surpresa com a confissão inocente de Liz, sorriu com ternura.

_Por quê, Liz? Você está com medo de mim?

Liz balançou a cabeça, franzindo um pouco a testa como se estivesse tentando entender o que sentia.

_Não... Eu não sei... só tá batendo rápido. É estranho.

Laura respirou fundo, sentindo a delicadeza do momento.

_Às vezes, quando estamos nervosos, curiosos, com medo... O nosso coração bate mais forte. Mas sabe de uma coisa? O meu também está batendo rápido agora.

Os olhinhos de Liz se arregalaram, surpresos, e ela deu um pequeno passo à frente, saindo parcialmente de trás da cortina.

_O seu também?

Laura confirmou, colocando a mão sobre o peito, realmente emocionada diante de Liz, a menina despertava vários sentimentos que estavam adormecidos.

_Sim.... E sabe por quê? Porque eu estou muito feliz por conhecer com você… Coisas boas também fazem nosso coração bater mais forte.

Liz esboçou um sorriso tímido, ainda relutante, mas parecia menos desconfiada. Ela se aproximou mais um passo, olhando Laura com mais curiosidade do que antes.

_ Você é muito bonita… Disse Liz, mas logo ela se afastou como se tivesse se lembrado de algo. _ Eu tenho que ir…

_Eu vou estar aqui, Liz…  Disse Laura, com um tom gentil, enquanto se levantava. _Quando você quiser conversar comigo, vou adorar ouvir tudo o que você tem a dizer.

Antes de Liz se afastar, Laura inclinou-se e, em um gesto espontâneo, deu um beijo delicado na bochecha dela. A menina começou a rir, antes de correr de volta para a sala de brinquedos, tentando esconder a timidez.

Laura observou Liz correr, sentindo um calor aconchegante preencher o peito. Talvez, ela tivesse dado o primeiro passo para atravessar a barreira que tinha se imposto ao descobrir que não poderia ter filhos.

Assim que Liz entrou na sala de brinquedos, encontrou Elaine, a babá, que a observava com uma expressão séria.

_ Liz, lembra do que eu te disse, aquela mulher não gosta de você, então não se aproxime dela. Disse Elaine fazendo o sorriso da menina desaparecer.

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