Cap. 16

Heitor foi para o quarto. Precisava tomar um banho relaxante e vestir uma roupa confortável. Apesar de quase não ter trabalhado, ele estava cansado mentalmente.

Ao entrar no closet, ele  parou por um instante com as mãos na camisa que começava a desabotoar. Naquele instante, ele sentiu um aroma sutil, porém inconfundíve no ar. O perfume delicado e envolvente que definitivamente não era o dele. Ele se perguntou como o cheiro suave de Laura  conseguia tomar conta do ambiente daquela forma.

Seu olhar percorreu o espaço até encontrar, dobrado sobre uma das prateleira, o pijama que Laura havia usado na noite anterior. O tecido fino e macio ainda guardava o perfume dela. Heitor hesitou por um momento, mas pegou as peças de roupa levando em direção ao seu rosto, fechando os olhos ao inalar aquele aroma que para ele era viciante. Seu peito subiu e desceu em um suspiro profundo, e Heitor precisou de toda a sua força de vontade para afastar o impulso que ameaçava dominá-lo.

Tentando resistir ao que sentia, Heitor colocou o pijama de volta na prateleira, como se o toque daquele tecido queimasse suas mãos. Ele continuou a desabotoar a camisa, tentando concentrar-se na tarefa simples, mas seu corpo parecia ter vontade própria.

Involuntariamente, ele passou a ponta dos dedos no canto da boca, lembrando novamente do toque breve e inesperado dos lábios de Laura naquele exato lugar. Um gesto inconsciente, mas que ele parecia esperar que se repetisse.

_Não posso ficar pensando nela desse jeito… murmurou.

Mas isso era quase impossível. O cheiro de Laura estava ali, como se o provocasse, como se fizesse questão de lembra-lo que não importava o quanto tentasse evitar… Laura já estava em sua mente. E, pela primeira vez, Heitor se perguntou se  conseguiria tirá-la da cabeça.

No andar de baixo, Liz continuava com Laura, mostrando os seus brinquedos com um sorriso, quando a voz de Elaine interrompeu o momento de alegria.

_Liz, está na hora do banho. Chamou Elaine, com um tom aparentemente gentil

A menina suspirou, relutante, mas obedeceu.

_ Já estou indo… Disse baixinho, olhando para Laura por um instante antes de se levantar.

_ Depois você continua a me mostrar os seus brinquedos, está bem? Laura tentou anima-la.

_ Está bem. Liz a abraçou Laura rapidamente antes de seguir com a babá, levando a boneca que ganhou de Laura, que permaneceu sentada no meio dos brinquedos com uma sensação estranha.

Ao chegarem no quarto de Liz,  Elaine trancou a porta e fechou as cortinas da janela, criando um ambiente quase claustrofóbico. Liz estava prestes a ir para o banheiro  quando Elaine se abaixou, segurando seus ombros para que ela prestasse atenção no que tinha a dizer.

_Liz, você  se esqueceu do que conversamos sobre a aquela mulher? Perguntou Elaine abaixando o tom da voz, como se estivesse compartilhando um segredo importante.

A menina franziu a testa, confusa, sentindo um leve desconforto. Apesar do que tinha dito Elaine, ela gostava da presença de Laura.

_O quê? Perguntou tentando se soltar.

_Aquela mulher só está interessada no seu pai, Liz, ela não gosta de você. Disse Elaine, inclinando-se um pouco mais perto. _E quando ela conseguir se casar com ele, sabe o que vai acontecer? Ela vai esquecer que você existe, e pior, vai  tirar o seu pai de você. E então… você vai ficar sozinha, sem mãe, e sem pai.

Liz arregalou os olhos diante daquela possibilidade que lhe causava medo.

_Não… Balbuciou, abraçando a boneca instintivamente. _A Laura gosta de mim… ela é amiga...

Elaine suspirou, passando a mão nos cabelos da menina, como se estivesse confortando-a.

_É o que ela quer que você pense, meu amor! Mas as coisas não são tão simples assim. Você sabe que seu pai é tudo que você tem, não sabe? Seus olhos se fixaram nos da menina. _E se essa mulher tirar ele de você… você vai ficar sozinha, é isso que você quer?

_ Não...

_ Eu sei... Por isso, você tem que pedir para o seu pai mandar ela embora desta casa.

O coraçãozinho de Liz bateu mais forte, e ela sentia aperto crescendo em seu peito. A ideia de perder o pai, de ser ficar sozinha mexia com a cabeça dela. Sua mente infantil não conseguia compreender as intenções da babá estava tentando apenas manipular os seus sentimentos.

Elaine percebeu a hesitação da menina e sorriu, satisfeita com a semente que havia plantado na cabeça dela.

_Pense bem, querida. Eu só quero o seu bem. Disse, alisando os cabelos de Liz mais uma vez antes de se afastar. _Agora, vai tomar banho, está bem? Daqui a pouco é a hora do jantar.

Liz foi para o banheiro, mas o brilho nos olhos estava diferente. O medo silencioso crescia dentro dela, e a alegria que sentia quando estava perto de Laura parecia distante depois do que a babá disse.

Elaine observou a menina de relance no espelho e viu que tinha conseguido o que queria. Liz estava insegura… e isso era só o começo, envenenaria ela contra Laura, até que Liz pedisse para o pai para mandar ela embora.

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