Cap. 13

Heitor não conseguia se concentrar no trabalho. Recostado na cadeira, passou a mão pelo rosto com força, como se o gesto pudesse apagar os pensamentos que insistiam em tirar sua paz. Ele estava ali, no escritório, cercado por pilhas de documentos, prazos apertados para cumprir, e telefonemas ininterruptos, mas sua mente continuava presa em um único momento daquele dia: O beijo de Laura.

Ele não queria admitir, mas ainda sentia o calor da pele de Laura roçando na sua quando ela segurou seu braço, e toque dos lábios dela no seu. Foi um toque rápido, um simples encostar de lábios no canto da sua boca, mas parecia que ela tinha deixado uma marca, incendiado um ponto específico de sua pele, e agora o fogo se espalhasse lentamente, queimando cada centímetro do seu corpo e autocontrole.

Sem perceber, Heitor ergueu a mão, e seus dedos tocaram o lugar onde os lábios dela haviam tocado.

_Foi só um beijo no canto da boca... Repetiu para si mesmo, tentando diminuir a importância do momento. Heitor tentava ignorar o arrepio traiçoeiro que percorreu sua nuca quando sentiu o hálito quente de Laura tão próximo ao seu. Ele fechou os olhos por um instante e soltou um suspiro pesado. _Foi  apenas uma uma encenação. Disse se irritando com essa constatação.

Mas o problema não era o beijo em si. Era o que tinha vindo com ele. A faísca, o tesão, o arrepio que percorreu sua pele e a maldita forma como o coração acelerou no instante seguinte.

_Por que diabos isso está me afetando tanto? Questionou.

Seu corpo parecia lembrar de cada detalhe dela, do cheiro perfume que Laura usava, da suavidade de suas mãos, mas ele não podia permitir esse tipo de distração entrasse em sua vida. Não agora. Não com Laura.

Heitor tentou se forçar a olhor para a tela do computador, encarando os números e gráficos que exigiam sua atenção. Tentou digitar um relatório, mas as palavras saíam sem coerência. Sua paciência se esgotou em questão de minutos. Praguejou baixo, empurrando o teclado para frente, frustrado com a própria incapacidade de manter o foco.

Pegou o celular, buscando qualquer distração, qualquer coisa que o puxasse de volta à realidade. Mas quando abriu as câmeras de segurança da casa encontrou algo que não ajudou em nada. Liz estava brincando no jardim. Até aí, tudo bem. O problema era Laura estava por perto.

O cabelo solto caía sobre os ombros, e ela parecia distraída, mexendo nos fios com os dedos. Seus olhos ficaram presos na imagem por mais tempo do que deveria. A boca secou, o coracao errou as batidas, e antes que fizesse algo idiota, bloqueou o celular com um movimento brusco e jogou-o sobre a mesa.

_Merda!

Por mais que tentasse, uma verdade incômoda se enraizava em seu peito: Laura já estava ocupando espaço demais na sua mente. E, pior ainda, fazia ele perder o controle do seu corpo.

Laura passou toda a manhã observando Liz, fascinada pelos pequenos detalhes da menina. O jeito que ela brincava com a babá, ou sozinha, concentrada em um mundo só dela, a forma como seus olhinhos brilhavam quando descobria algo novo. Cada expressão, cada risadinha espontânea, parecia trazer uma nova onda de emoções para Laura. Era encantador e, ao mesmo tempo, desconcertante.

Mas havia algo que a incomodava.

Por mais que Liz parecesse curiosa sobre sua presença, Laura notava que a menina sempre mantinha um certo distanciamento. Sempre que Laura tentava se aproximar, Liz desviava o olhar ou encontrava uma desculpa para sair de perto. Não era medo, ou rejeição, mas sim uma hesitação, como se estivesse dividida entre a vontade de interagir e um receio invisível.

Laura tambem percebeu que Elaine, a babá, parecia intervir para que Liz não se aproximasse demais. Os toques eram discretos, os comentários baixos, mas a intenção era clara. A cada olhar de Liz para Laura, vinha uma intervenção de Elaine, chamando a menina, sugerindo uma outra atividade, desviando sua atenção. Era um gesto aqui, um olhar de relance ali, pequenos detalhes que poderiam passar despercebidos para qualquer um, mas não para Laura, que não gostou do que viu.

Depois do almoço, Liz estava pronta para ir para a escola, Laura observou a empolgação da menina depois colocar o uniforme escolar, e ajustar a mochilinha nas costas. Liz irradiava felicidade, como se aquele fosse um dos melhores momentos do dia. O coração de Laura se aqueceu ao vê-la assim, tão animada.

Mas sua expressão se tornou séria ao ver Elaine pegando Liz pela mão e a levando até o carro, como se estivesse reforçando a ideia de que aquela era sua função e mais ninguém deveria interferir.

Instintivamente, Laura tomou uma decisão.

Com passos firmes, ela seguiu até o carro e entrou pelo outro lado, fechando a porta rapidamente.

Elaine se virou de imediato, franzindo a testa.

_O que você está fazendo? Questionou batendo no janela do carro, tentando conter a raiva.

Laura, mantendo a compostura, afivelou o cinto de segurança com calma antes de abaixar o vidro da janela.

_Eu tenho que sair, e como estou sem carro, vou acompanhar Liz até a escola antes de ir para o meu compromisso.  Não se preocupe, pode ficar em casa.

Elaine apertou os lábios, claramente contrariada.

_Mas eu sou a responsável por levá-la a escola…

Laura manteve o olhar firme para a babá

_As coisas mudam, e hoje eu vou acompanhar a Liz.

O silêncio se instalou no carro, pesado, enquanto Elaine a encarava com um olhar indecifrável.

Carlos, o motorista, já estava ao volante, pronto para partir. No banco do carona, um segurança acompanhava tudo em silêncio, atento aos desdobramentos da conversa.

_Vamos, Carlos. Liz não pode se atrasar. Disse Laura, encerrando qualquer possibilidade de discussão com Elaine que não teve escolha a não ser recuar.

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