Capítulo 03
Estranhos
Ravi
— Tudo o que eu esperei... — resmungou Ravi, cerrando o punho.
— Luiz Henrique, de onde ele está vindo?
— Do Canadá. Pelo que parece, ele veio de mudança. Transferiu todos os seus negócios para cá — respondeu Luiz Henrique.
— Ele veio sozinho?
— Não, senhor. Estava acompanhado da esposa e dos filhos.
— Quero saber tudo sobre ele, a mulher e os filhos.
— Sim, senhor...
Ravi encarou Luiz Henrique com determinação, e um brilho sombrio nos olhos.
— Enfim, vou vingar minha família.
Ele pegou o telefone e ligou para sua secretária.
— Madrinha Rosana, traga os papéis da reunião.
— Sim, filho, já estou indo — respondeu Rosana, do outro lado da linha.
Lívia
Sentada na pequena sala do modesto apartamento, Lívia trocava de canal sem conseguir se concentrar. A angústia martelava em seu peito. Embora o tempo tivesse passado, a mágoa do término do noivado ainda era uma ferida aberta.
Já faz um ano que ela chegará a São Paulo. Trabalhar na recepção de um hotel era um tormento diário; detestava o emprego. Constantemente, questionava-se sobre por que não conseguia deixar aquele luto interminável para trás. Seu chefe era insuportável, e as palavras de Rafael frequentemente a assombram: ele não entendia como ela podia aceitar aquele trabalho e abandonar sua carreira e seus sonhos por causa de um homem como Isaque.
Mas a verdade era que ela ainda não estava pronta para seguir em frente. Suspira profundamente e se joga no sofá, perdida em seus pensamentos. O som do telefone interrompe seu devaneio. Era Rafael.
— Alô? Lívia? Me encontra no café da esquina. Preciso conversar com você — disse ele, direto.
— Me dá cinco minutos. Você está bem?
— Sim, estou. Só quero tomar um café com você antes de você ir para o trabalho.
— Tudo bem, estou indo.
Lívia saiu apressada, atravessando a correria incessante da cidade. Ao chegar ao semáforo, parou impaciente, observando os segundos no farol diminuírem de 10 a 0. Então, sua atenção foi atraída por um Volvo que se aproximava lentamente. Quando o carro quase parou, seu coração disparou. Era Isaque. Ele estava tão lindo quanto ela se lembrava.
Ele também parecia surpreso ao vê-la. Lívia respirou fundo, agradecendo quando o semáforo abriu. Andou o mais rápido que pôde até chegar ao café, tentando manter a calma.
— Lívia, o que aconteceu? Parece que viu um fantasma — disse Rafael, preocupado.
— Rafael... Eu acho que vi o Isaque.
— Como assim? Claro que não! O que ele estaria fazendo em São Paulo?
— Não sei, mas era ele.
— Não, não era. Você está louca. Esquece esse cretino. Vamos tomar um café. Lívia, você está tremendo! Pelo amor de Deus, não deixa aquele bastardo interferir na sua vida de novo.
— Estou tentando, Rafael, mas é difícil.
— Não vamos falar mais dele. Eu te chamei aqui porque tenho uma proposta para te fazer. Esquece aquele infeliz. Você sabe que, há anos, tento descobrir quem matou meu pai. Agora que entrei para a polícia, consegui uma pista.
— Mas, Rafael, como você conseguiu uma pista tão rápido? O caso não estava arquivado?
— Detalhes... Eu mesmo reabri o caso. Estou investigando por conta própria. É por isso que preciso de você.
— Rafael, você está louco? Pode se comprometer seriamente. Seus superiores não vão descobrir?
— Estou tomando cuidado, Lívia. Ninguém vai descobrir. Só preciso que você confie em mim. Posso contar com você?
— Claro, Rafael. Você sabe que pode contar comigo sempre. O que eu preciso fazer?
Ele colocou uma pasta sobre a mesa. Antes que ela pudesse abri-la, perguntou:
— Do que se trata?
— Lívia, eu acessei os arquivos do caso do meu pai e encontrei essa pista. O investigador da época chegou até essa empresa, Agro e Tecnologia.
— Mas o que essa empresa teria a ver com a morte do seu pai? Ainda mais aqui, tão longe...
— Você não entende. Na época, a matriz da Agro e Tecnologia ficava em Curitiba. Eu me lembrei de ouvir meu pai discutindo no telefone uma vez. Ele repetia várias vezes que Ravi Santorini não podia descobrir algo, ou ele estaria perdido... Seria um homem morto.
Rafael fez uma pausa, encarando Lívia com seriedade.
— Descobri que o escritório do meu pai fazia a contabilidade da empresa de Ravi Santorini. Ele tinha muitos clientes, então nunca me atentei para isso antes. Mas agora estou sentindo que esse é o caminho certo. É minha única pista.
Lívia assentiu, determinada.
— O que exatamente você precisa que eu faça?
— Quero que você entre nessa empresa. Você será meus olhos e ouvidos.
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Atualizado até capítulo 39
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