Capítulo 6
O Começo de Tudo
Ravi
Ravi veste o blazer e ajusta a gravata, lembrando-se de que hoje precisa estar mais apresentável do que o habitual. Ele tem um importante encontro de agricultores no final do dia. Respira fundo, sentindo o cansaço que o acompanha diariamente. Tudo o que deseja após o trabalho é uma boa noite de sono.
Diante do espelho, passa perfume, arruma os cabelos e percebe os primeiros fios brancos surgindo. O silêncio em sua casa transforma-se em um buraco negro, lembrando-lhe que o tempo está passando. Ele dedicou a vida a construir patrimônio e alimentar o ódio por Antônio Porto Rico. Isso o impediu de construir uma família.
Os conselhos constantes de sua madrinha ecoam em sua mente: ela insiste para que ele se case e tenha filhos, algo que o sufoca. Apesar disso, Ravi tenta se convencer de que está melhor assim. Após uma última olhada no espelho, ele pega suas coisas e sai rumo ao trabalho.
Lívia
Lívia contempla a vastidão de montanhas que se estende diante dela. A paisagem é incrível, muito diferente da vida na capital. Ela chegou ao interior pela manhã, instalou-se no apartamento alugado por Rafael e, antes de se preparar para o plano de seu amigo, decidiu explorar um pouco a cidade.
A atmosfera do lugar é acolhedora, típica de interior, mesmo sendo uma cidade grande. Prendendo os cabelos em um rabo de cavalo, ela pensa consigo mesma: "Acho que vou gostar de passar uma temporada por aqui."
Lívia está ansiosa. O plano de Rafael parece sua melhor opção no momento, especialmente após o escândalo no hotel. Ela acredita que deve ajudar o amigo que sempre esteve ao seu lado. Enquanto sente o vento acariciar sua pele, repete para si mesma: "Vou ser espiã, só falta me contratarem."
Refletindo sobre seu passado, Lívia recorda como enterrou seus sonhos e perspectivas de vida por causa de Isaque. O episódio no hotel com outra mulher foi um duro lembrete de que, enquanto ela sofria, Isaque seguia em frente com sua "família perfeita". Agora, Lívia está decidida a não se anular por ninguém. Ajudar Rafael será um recomeço.
No dia seguinte, Lívia observa uma imensa plantação de trigo à sua frente enquanto ouve, distraída, Rafael falando:
— Lívia, você entendeu direitinho o que tem que fazer? Lívia... Lívia!
— Sim, Rafael, não se preocupe. Vou descobrir se esse homem foi o responsável pela morte do seu pai.
Os dois compartilham uma história dolorosa. Rafael tinha a mesma idade que Lívia quando a tempestade atingiu sua família. O pai dele, na época funcionário de uma exportadora de soja, foi assassinado. Anos depois, Rafael descobriu que a empresa estava ligada a Ravi Santorini.
— Amigo, e se eu não conseguir entrar? — pergunta Lívia, insegura.
— Você vai conseguir.
Rafael segura os braços dela e, olhando em seus olhos, diz com firmeza:
— Amanhã, depois da entrevista, me liga. Tenho certeza de que o emprego será seu.
— Pode deixar.
— Amanhã à noite estarei de volta. Vamos comemorar seu novo emprego.
Lívia sorri levemente enquanto assiste ao amigo partir no carro. Continuando sua caminhada, ela se depara com uma pequena biblioteca. O aroma dos livros antigos invade o ar, e ela decide entrar. Depois de escolher um livro em um sebo, sai novamente para explorar a cidade.
Caminhando pelas ruas que a fazem lembrar Curitiba, ela percebe um prédio bonito e movimentado, com pessoas bem vestidas saindo de um evento. A cena remete aos tempos em que trabalhava com Isaque. Ao lado do prédio, um bar elegante com música ao vivo chama sua atenção.
A música traz memórias do passado. Uma melodia em particular a faz lembrar das vezes em que dançava com Isaque. Lívia atravessa a rua e entra no bar. O ambiente é agradável, e ela decide pedir uma bebida. De um gole só, vira o copo.
Apesar de não ser dada à bebida, aquela noite era uma exceção. Após algumas doses, ela já estava rindo à toa, e depois da quinta, nem lembrava mais do próprio nome.
O bar estava cheio, com pessoas dançando e conversando. Foi então que um homem alto, forte, de olhos castanhos e presença marcante se aproximou. Vestindo um terno impecável, ele parecia um deus grego. Lívia se perguntou se o álcool a fazia vê-lo assim ou se ele realmente era tão impressionante.
— Oi, princesa. Você é muito bonita — disse o homem, com um tom confiante.
Lívia, já sob o efeito das bebidas, passou os braços em volta do pescoço dele, que prontamente a beijou. A partir daí, tudo ficou confuso. Os flashes na mente dela eram embaralhados: bocas se encontrando, mãos explorando seu corpo, sons de prazer.
Na manhã seguinte, o sol queimava seu rosto enquanto ela abria os olhos. Ainda atordoada, viu que estava nua sob os lençóis. Ao ouvir o barulho do chuveiro, Lívia entrou em pânico. Levantou-se apressadamente, vestiu-se e saiu do quarto de hotel sem olhar para trás.
Enquanto caminhava pelas ruas, repetia para si mesma:
— Não acredito que um porre me fez ir para a cama com um estranho. Que vergonha... Que vergonha, Lívia! Vinte e nove anos nas costas e agindo como uma adolescente.
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Atualizado até capítulo 39
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