Isadora
O dia parecia interminável, e minha mãe me deixou descansar por um tempo. Mas, como sempre, a paz era temporária. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela voltaria a atacar, e não estava errada. No fundo, sempre soube que isso iria acontecer, mas ainda assim, uma parte de mim insistia em acreditar que as coisas poderiam melhorar, que algum dia ela pudesse me olhar com algum tipo de carinho. Eu não sabia mais como lidar com a dor de saber que isso nunca aconteceria.
Eu estava sentada na cama, ainda tentando juntar os pedaços de mim mesma, quando ouvi a voz dela, ríspida e implacável, cortando o silêncio da casa.
— Eu não vou mais deixar você estudar! Você é uma gorda burra, não merece estar na escola!
Eu levantei os olhos, tentando entender o que estava acontecendo. Aquelas palavras, aquelas palavras que me atingiam com uma violência que eu não sabia como suportar, novamente estavam saindo da boca dela.
— Você acha que vai continuar se fazendo de inteligente? Eu paguei escola pra você até agora, mas chega! Não vou mais gastar meu dinheiro com uma inútil como você. Agora, vai ser empregada, vai ter que trabalhar e não vai comer nada até emagrecer! Se não emagrecer daqui a um mês, vou vender você para alguém, porque eu não aguento alimentar uma gorda como você!
O que ela estava dizendo parecia surreal. Eu não conseguia processar as palavras dela. Como ela podia falar assim? Como ela podia me tratar dessa forma? Eu era sua filha, e isso não significava nada? Era como se minha existência fosse apenas um fardo para ela, uma carga que ela não queria mais carregar. Eu senti meu corpo gelar, meu coração batendo descompassado, e, por um momento, tudo se apagou ao meu redor.
Eu queria gritar, queria protestar, mas minha voz parecia estar presa na garganta. A dor que eu sentia era maior do que qualquer palavra que eu pudesse dizer. Eu não sabia mais o que fazer. Ela dizia que eu não merecia nada, que minha vida não tinha valor, que eu era apenas um peso. Como isso era possível? Eu era a filha dela, e ainda assim eu não significava nada.
— Não quero mais saber de você na escola. Já basta essa vergonha! Vai trabalhar em algum lugar, arranjar algo para fazer. E se não emagrecer logo, não vai ter comida, não vai ter nada! Você vai se foder e, quando eu cansar de você, vou te vender para alguém. Eu não quero mais ver sua cara, entendeu?
Aquelas palavras me cortaram. Eu sentia como se estivesse afundando em um abismo de desesperança. Eu não conseguia mais segurar as lágrimas, que começavam a cair sem que eu pudesse evitar. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim se quebrava. Eu sabia que ela estava falando sério, sabia que a vida que eu conhecia estava desaparecendo diante dos meus olhos. Eu nunca pensei que um dia seria tratada como algo descartável, algo que poderia ser vendido como se fosse uma mercadoria. Eu era só uma criança, uma garota com sonhos e desejos, e ela estava destruindo tudo.
Eu queria fugir, queria desaparecer, mas não podia. O que eu faria? Para onde eu iria? Não tinha ninguém. O único lugar onde ainda conseguia sentir um mínimo de segurança era na casa de Davi, onde, pelo menos, as coisas não eram tão cruéis. Eu tinha que comer lá, porque não tinha mais comida em casa. Quando minha mãe me dizia que eu comia demais, eu sabia que estava mentindo, porque, na verdade, eu mal comia. Na casa dela, meu estômago sempre estava vazio, e o pouco que conseguia comer, ela me tirava.
Eu sabia que, se não emagrecendo o suficiente, tudo isso se tornaria mais insuportável. E eu me perguntava se seria capaz de aguentar mais um mês assim. Não queria, mas ao mesmo tempo não tinha outra escolha. Eu tinha que sobreviver.
Eu me encolhi na cama, tremendo, sem saber o que fazer. Não tinha forças para reagir, não sabia como escapar. Minha vida se resumia a esse ciclo de humilhação, medo e dor. E, enquanto tudo isso acontecia, a única coisa que eu queria era ser vista, ser entendida, ser alguém. Mas, ao invés disso, eu era tratada como um fardo, como um erro que precisava ser consertado.
E assim, em meio a tudo isso, eu me perguntei: por quanto tempo eu conseguiria suportar? Quando tudo o que restava era apenas a dor e a solidão, será que eu conseguiria continuar, ou isso me quebraria de uma vez por todas?
-fim do capítulo 10
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Joelma Oliveira
monstro! deveria morrer abandonada em qq lugar do mundo bem longe dela
2025-01-14
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Maria Charlotte
a Isa tem que sair desss casa ela não merece passar por isso.
2025-01-13
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Ebila Ferreira
isso não é humano como pode ser assim uma mãe e um mostro
2025-01-17
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