capítulo 11

Isadora

Os dias estavam se arrastando, pesados e intermináveis. A dor física das agressões anteriores agora se misturava com uma dor emocional que parecia corroer meu peito de dentro para fora. Eu mal comia. O pão que minha mãe me dava era a única coisa que entrava no meu corpo, e até ele me parecia sem vida, sem sabor. Ela sempre dizia que, se eu comesse só aquilo, eu emagreceria logo e não precisaria mais ser um peso para ela.

Mas o que ela não sabia — ou talvez não se importasse — era que aquele pão seco não era suficiente para matar minha fome. Não era suficiente para alimentar a esperança que ainda tentava se agarrar dentro de mim. E, mesmo assim, eu não ousava reclamar. Eu não tinha o direito de reclamar. Não tinha o direito de sentir dor, de ter fome, de desejar um pouco de alívio. O que eu tinha de fazer era ser invisível, fazer o que me mandavam e suportar.

Eu sabia que ela estava planejando algo. Havia algo nos olhos dela que me dizia que ela não estava satisfeita só com me humilhar e me forçar a emagrecer. Ela estava pensando em algo mais sombrio, algo que me gelava a espinha. Eu não sabia exatamente o que era, mas uma sensação de pavor me acompanhava a cada passo. Era como se o ar estivesse mais denso, como se eu estivesse prestes a ser engolida por algo que eu não poderia controlar.

Numa tarde, enquanto arrumava a casa, ouvindo os ecos dos meus próprios pensamentos, algo chamou minha atenção. A porta da sala estava entreaberta, e eu pude ouvir vozes. Era minha mãe, e ela estava conversando com alguém. Eu não queria invadir a conversa, mas a tensão no ar me fez parar. A voz que respondeu à dela era grave, rouca, de alguém que parecia ser muito mais velho.

E foi aí que eu escutei.

— Você tem certeza que vai ficar com ela? — disse o homem.

— Sim, ela vai ser minha, vou cuidar dela. Não vou mais aguentar essa situação, ela precisa se casar logo com alguém de boa posição, caso contrário... bem, você sabe. Ela vai precisar de uma boa educação. — A voz da minha mãe era cortante, como uma lâmina afiada. — Eu só não sei como vou convencer ela a aceitar.

Meu estômago se revirou. "Ficar com ela?" Aquilo não podia estar acontecendo. O homem era velho, muito mais velho. Quando minha mãe falou em vender, eu não imaginei que fosse até esse ponto. Minha mente estava em negação, mas a verdade era clara: ela estava planejando me vender para aquele homem, alguém que provavelmente me trataria como uma mercadoria.

Eu não conseguia mais ouvir. A sensação de sufocamento aumentava dentro de mim, e o pânico me tomou de assalto. Eu sabia que não podia ficar ali mais tempo. Algo dentro de mim quebrou, algo que antes ainda tinha alguma esperança, e agora, só restava o desespero.

Com os olhos cheios de lágrimas, me vesti rapidamente. Não pensei em mais nada. Só sabia que tinha que fugir, que não poderia ser vendida. Não poderia ser tratada como um objeto. Não seria a peça de troca de ninguém. A dor no peito apertava, mas a decisão foi tomada: eu ia sair de casa.

Sem dizer uma palavra para minha mãe, sem pegar nada, nem ao menos um casaco, corri para a rua. O mundo lá fora parecia enorme, assustador e indiferente. Não tinha destino certo, não sabia para onde ir. Eu só precisava sair, ir para longe, para qualquer lugar onde pudesse respirar, onde pudesse existir, mesmo que fosse sozinha.

Eu caminhei durante horas, até os pés estarem dormentes e o corpo cansado. As ruas estavam desertas, e a noite caiu silenciosamente sobre mim. Finalmente, encontrei um lugar onde poderia me esconder. Um canto escuro embaixo de uma ponte. Eu me agachei ali, tremendo de frio e medo. Era tudo o que eu podia fazer. Não tinha telefone, não tinha amigos que pudessem me ajudar. Estava completamente sozinha. Mas algo dentro de mim ainda insistia em resistir, a fé, a oração.

Eu fechei os olhos e comecei a orar baixinho.

— Deus, me ajude... Me dê forças para continuar. Não aguento mais. Por favor, me ajude a sair disso, me mostre um caminho. Eu não sei o que fazer.

As lágrimas caíam sem parar. Mas, naquele momento, eu sentia uma estranha sensação de que, pelo menos por um instante, eu estava em paz. A dor ainda estava lá, mas, ao orar, eu me sentia, de algum modo, um pouco mais leve. Eu não sabia o que o futuro me reservava, mas não ia deixar que a escuridão me consumisse sem lutar.

E assim, embaixo da ponte, entre as sombras da noite, eu me entreguei à oração, esperando que algum milagre acontecesse. Esperando que Deus, de alguma forma, ouvisse a minha súplica e me ajudasse a encontrar uma saída para tudo aquilo.

-fim do capítulo 11

Mais populares

Comments

Joelma Oliveira

Joelma Oliveira

isso nem pode ser chamada de ser humano quanto mais de mãe! pior é saber q existe criaturas assim no mundo

2025-01-14

0

Carla Santos

Carla Santos

Isso não é mãe é um mostro nem de mãe pode ser chamada

2025-01-14

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!