Isadora
O trabalho estava finalmente terminado, e eu mal podia esperar para voltar para casa. Davi me acompanhou até a porta, com um sorriso amigável, enquanto Enrico, de longe, apenas acenava de forma educada. Não sabia dizer ao certo, mas havia algo diferente na maneira como ele me olhava, algo que me fazia sentir um peso no peito, como se minhas ações, minhas escolhas, estivessem sendo observadas mais de perto.
Ao chegar em casa, tudo parecia como sempre, mas havia uma tensão no ar, como se algo estivesse prestes a acontecer. A casa, já silenciosa, refletia a frieza do ambiente. Minha mãe estava na cozinha, e o cheiro da comida me atingiu em cheio, fazendo meu estômago roncar. Estava faminta. Mas, como sempre, sabia que não podia demonstrar isso.
Entrei na sala, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ouvi a voz dela, dura, cortante.
— Onde você estava até agora, sua inútil? – Ela falou, a voz carregada de desprezo.
Eu estremeçi. Aquelas palavras não eram novas para mim. Eram uma constante. Mas, dessa vez, havia algo diferente. O modo como ela me olhava era de pura raiva, como se eu fosse a responsável por todos os problemas que ela tinha.
— Eu estava na casa de Davi, mãe. Eu só terminei o trabalho.
Ela olhou para mim, e seu olhar se tornou ainda mais frio.
— Trabalho? O quê? Você acha que vai conseguir algo na vida com isso? Você já deveria estar cuidando de si mesma, não só dessa porcaria de tarefa. – ela resmungou, se aproximando de mim.
Eu tentei desviar o olhar, tentando me controlar para não deixar as lágrimas escorrerem. Eu sabia o que viria a seguir, sabia que era sempre assim, mas uma parte de mim ainda se iludia. Uma parte de mim esperava que, um dia, ela olhasse para mim e visse algo diferente, visse a filha que ela nunca quis que fosse, mas que ainda amava.
— Você já comeu demais hoje, não é? – Ela disse, com um sorriso sarcástico nos lábios. – É isso que você aprendeu com essa vida? Comer até não conseguir mais?
Eu queria explicar, queria gritar que não tinha comido tanto, mas sabia que seria inútil. Eu sabia que, para ela, eu nunca seria suficiente. Eu era sempre “demais” para tudo. Demais para o que ela esperava de mim. Demais para os padrões dela.
Antes que eu pudesse responder, ela avançou, me empurrando para a parede com força. A dor no meu corpo era intensa, mas nada comparado à dor no meu peito. Ela começou a me xingar, a bater em mim com a fúria de quem estava descontando anos de frustração.
— Você nunca vai ser nada! Vai ser sempre essa gorda inútil! O que você acha que vai fazer da sua vida? Ninguém vai querer você assim. Você precisa emagrecer, sua vaca! Vai ter que se casar com um homem rico, dar uma vida melhor para mim!
As palavras dela cortavam mais fundo a cada segundo. Eu não conseguia respirar. O peso das pancadas e das palavras me esmagava, e, em algum lugar, eu já estava tão acostumada com isso que não conseguia mais lutar. Eu tentava me encolher, mas era como se minha mãe fosse um monstro que não podia ser parado. Eu sentia minha cabeça rodar, minha visão turvar, e ainda assim ela não parava.
— Você acha que é bonita? Você acha que alguém vai olhar para você com esses olhos, com esse corpo? Você é nada! Nada!
Eu queria gritar, queria pedir ajuda, mas algo me travava. Era como se meu corpo não respondesse mais, como se a dor, tanto física quanto emocional, tivesse me paralisado. Eu queria desaparecer.
Quando ela finalmente parou, ofegante, eu caí no chão. Meu corpo estava dolorido, minha mente um turbilhão. Ela me olhou com desprezo, como se eu fosse uma falha, uma mancha em sua vida.
— Levanta daí, sua preguiçosa. Vai fazer alguma coisa para melhorar ou vai continuar aí se lamentando? – Ela gritou, mas sua voz não soava como uma preocupação. Era apenas mais um comando, mais uma ordem cruel.
Eu não conseguia me mover. A dor no meu corpo era intensa demais. Mas o que mais me doía era o vazio dentro de mim. Eu não tinha forças para lutar contra isso. Não sabia o que fazer, nem como reagir. Era como se tudo o que eu fosse, tudo o que eu fizesse, nunca fosse o suficiente.
Meu corpo estava exausto, mas minha mente não conseguia descansar. As palavras da minha mãe ecoavam em minha cabeça, martelando a ideia de que eu nunca seria boa o suficiente, de que eu nunca poderia ser quem eu realmente queria ser.
Mas, no fundo, havia algo mais. Algo que me dizia que eu não podia me deixar derrotar por ela, não mais. Eu tinha que encontrar uma maneira de ser mais do que o que ela pensava de mim. Mas, por enquanto, naquele momento, só consegui me abraçar, chorando no chão frio, tentando encontrar algum consolo em meio à dor.
-fim do capítulo 08
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Carla Santos
Isso nunca foi mãe eu sei esse livro é gatilho por quem passou por isso a pessoa que já passou por isso é como relembrar o peso do passado isso dói de uma maneira que não tem cura sente o que ela sente é horrível palavras de mãe dói o buli ven dentro de casa na rua é só comprimento eu sei como é que essa dor e hoje ainda tento superar mas é difícil porque dói muito
2025-01-14
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Joelma Oliveira
isso nunca foi mãe sempre foi um demônio. sei bem cm criaturas trevosas assim acabam c 1 pessoa. meu esposo até hj se mata pra tentar dar orgulho pra dele, mas o pior é q ele não aceita a realidade
2025-01-13
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Maria Madalena Figueredo
essa mae tem ser denunciado ela mesma comete o crime contra a filha
2025-01-26
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