Enrico Cavalcanti
Era madrugada quando o som de passos no corredor me tirou de um raro momento de paz. Eu tinha acabado de acordar, minha cabeça ainda meio pesada das reuniões e preocupações do dia, e tudo o que eu queria era um copo de água para aliviar a garganta seca.
Enquanto caminhava pela casa escura, ouvi mais passos e franzi a testa. Imaginei que fosse Davi, talvez procurando algum lanche na cozinha, mas, ao olhar para o corredor, vi uma silhueta inesperada.
Isadora.
Ela estava de camisola. Uma peça simples, mas que, naquele momento, parecia tudo menos isso. O tecido leve marcava sua silhueta de forma sutil, mas o suficiente para que eu notasse detalhes que nunca tinha permitido a mim mesmo reparar. Suas pernas, que eu nunca tinha visto descobertas, eram longas e bem torneadas, e, quando ela se virou para mim, a luz fraca do corredor destacou seu rosto – natural, sem maquiagem, mas com uma suavidade que de repente parecia impossível ignorar.
Por um momento, eu congelei.
Ela me viu e parou, tão surpresa quanto eu. Seus olhos estavam arregalados, como se ela tivesse sido pega em um lugar onde não deveria estar.
— Não consegue dormir? – perguntei, minha voz mais baixa do que o normal, tentando esconder o que eu realmente estava sentindo.
Ela balançou a cabeça, nervosa.
— Não... não muito – respondeu, quase num sussurro.
Eu sabia que deveria olhar para outro lado, que deveria tratá-la da mesma forma que sempre tratei: como a amiga de Davi, como uma menina que praticamente cresceu na nossa casa. Mas, naquele momento, alguma coisa mudou. Algo que eu não conseguia controlar.
Meus olhos desceram para as pernas dela novamente, e percebi que estava encarando. Rapidamente, desviei o olhar, irritado comigo mesmo. Eu não era esse tipo de homem. Não deveria ser.
Tomei outro gole de água, tentando recuperar o controle da situação.
— É estranho no começo, mas você se acostuma – murmurei, tentando manter minha voz firme, mas gentil.
Ela assentiu com a cabeça, ainda sem me encarar diretamente, e voltou para o quarto apressada. Fiquei parado ali por alguns segundos, o som dos passos dela desaparecendo pelo corredor.
O que diabos estava acontecendo comigo?
Eu sabia que ela era uma mulher agora. Não era mais a garota tímida e quieta que andava com Davi na escola. Mas pensar nela de outra forma, mesmo que por um segundo, parecia errado. Eu era 10 anos mais velho, o pai do melhor amigo dela. Além disso, Isadora era... diferente. Não no sentido físico – embora isso tivesse ficado claro agora. Era algo mais profundo, algo que eu nunca tinha percebido porque nunca deixei espaço para perceber.
Respirei fundo, coloquei o copo na pia e voltei para o meu quarto. Mas, enquanto me deitava na cama, a imagem dela não saía da minha cabeça. As pernas, os olhos, o jeito nervoso dela.
Eu sabia que isso precisava parar.
Mas, pela primeira vez, eu não tinha certeza se conseguiria controlar o que estava começando a sentir.
-fim do capítulo 05
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Ana Maria Paula Sales
Essa coisa da idade está errada. Como ele poderia se mais velho que ela somente 10 anos? O Davi deve ter a mesma idade dela e não pode ser somente 10 anos mais novo que o pai...
2025-01-18
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Jaqueline Rodrigues Saltorato
Autora sua linda,arruma os cronograma das idades pois não estão batendo 💓,e para de colocar o fim do capítulo.
2025-01-30
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Joelma Oliveira
tão difícil parar qdo a razão dos pensamentos está sempre ali...
2025-01-13
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