Enrico Cavalcanti
A noite passou devagar. A insônia, que já não era estranha para mim, parecia ainda mais implacável naquele momento. Cada vez que meus olhos se fechavam, a imagem dela invadia minha mente: os longos fios de cabelo espalhados pela cama, a suavidade de sua pele, a silhueta da sua camisola. Mas, o que mais me perturbava, o que mais me consumia, eram as pernas dela. Eu não conseguia parar de pensar nelas. Era como se elas tivessem se gravado na minha mente, como se o toque da leve brisa da madrugada ao vê-la tivesse deixado algo dentro de mim que não conseguia mais apagar.
Fiquei deitado na cama, olhos abertos, encarando o teto, como se ele fosse a única coisa que ainda tivesse algum sentido. Mas, na verdade, nada fazia mais sentido. Eu sabia que aquilo não estava certo. Ela era a amiga do meu filho, tinha vinte e um anos, e eu... eu era um homem de 31 anos. Já tinha idade para ser pai dela, para ser a figura paterna que ela precisava. Não podia, de jeito nenhum, ceder a essas emoções que estavam surgindo de maneira tão confusa e incontrolável.
Mas quanto mais eu tentava afastar o pensamento dela, mais ele voltava, mais intenso ficava. Cada imagem, cada sensação, me fazia querer mais.
Tentei levantar várias vezes, caminhar pela casa, procurar alguma distração. Mas, no fundo, sabia que não iria conseguir escapar daquilo tão facilmente. O que estava acontecendo comigo? Eu nunca tinha sido assim. Eu sempre soubera o que fazer, sempre tivera o controle. Mas, agora, estava completamente à deriva.
Quando o alarme tocou de manhã, o impacto de tê-lo ouvido foi como uma descarga elétrica. Eu estava cansado, exausto, mas, de algum jeito, me obriguei a levantar. Olhei para o espelho e vi o reflexo de um homem que não reconhecia mais. Meu cabelo bagunçado, a expressão de alguém que havia passado a noite em claro. A última coisa que eu queria era enfrentar o dia, mas tinha responsabilidades, tinha compromissos.
Tomei um banho rápido, tentando me livrar do cansaço, da sensação estranha que ainda não ia embora. Olhei para o relógio: já estava atrasado.
Desci para o café da manhã e, como sempre, encontrei Davi na cozinha, de bom humor, com um sorriso fácil no rosto. Ele parecia tão leve, tão despreocupado. E eu? Eu estava preso nessa teia de pensamentos, confuso, tentando esconder o que estava se passando na minha cabeça.
— E aí, pai. Como você está? – Davi me perguntou, mexendo no celular.
— Cansado – respondi, tentando disfarçar a inquietação na minha voz.
Ele riu, mas logo percebeu minha falta de entusiasmo.
— Você dormiu bem? Pareceu uma noite longa.
Eu forcei um sorriso.
— Dormi. Só... um pouco cansado.
Era uma mentira, claro. Mas, ao olhar para Davi, percebi o quanto eu precisava disso, dessa normalidade. Eu não podia ceder aos meus pensamentos. Eu não podia deixar que Isadora se tornasse mais do que uma amiga, mais do que a amiga do meu filho.
E, ainda assim, quando ela apareceu mais tarde na sala, com o cabelo preso em um coque despretensioso e uma roupa simples, meu corpo reagiu de forma instintiva. Eu tentei ignorar, fiz de tudo para desviar o olhar, mas não consegui. Não podia mais esconder o que eu estava sentindo.
Ela era linda. Tão linda de uma maneira tão natural que me fazia questionar tudo o que eu pensava ser certo.
Eu não podia querer isso. Eu não podia. Ela merecia alguém da sua idade, alguém mais adequado, alguém que não fosse o pai do seu melhor amigo. Eu, no entanto, não conseguia parar de me perguntar: o que aconteceria se eu não resistisse?
Mesmo com essa batalha interna, tentei manter a conversa tranquila.
— Bom dia, Isadora. Como você dormiu? – tentei ser educado, mas minha voz saiu mais ríspida do que eu gostaria.
Ela sorriu, um sorriso tímido, mas que, mesmo assim, teve o efeito de sempre. Algo dentro de mim se mexeu, mas eu fiz o possível para não mostrar.
— Dormi bem. Acho que ainda estou um pouco cansada, mas... foi bom. – ela respondeu, olhando para o chão, como se evitasse me encarar.
A conversa continuou de forma natural, mas dentro de mim, era como se o tempo tivesse parado. Eu queria entender o que estava acontecendo comigo. Eu queria que tudo voltasse a ser como antes, onde eu era apenas o homem mais velho e ela, uma amiga do meu filho.
Mas, ao ver o jeito que ela mexia nas mãos, ao ver a forma como seus olhos brilhavam enquanto falava de algo tão simples, percebi que não podia mais ignorar o que estava dentro de mim.
Eu precisava lidar com isso. Eu precisava deixar de ser um homem controlado. Eu precisava... resistir.
-fim do capítulo 06
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Carla Santos
Essa idade está errada de ela tem 21 ele 31 o filho dele tem quantos anos lógico que ela não tem idade de ser filha dele ele teve filho com 10 anos essa idade não está batendo certo ela pode ter 21 ele trinta e 31 o filho dele tem quantos anos já que ela é amiga do filho essa idade está errada
2025-01-14
2
Ana Paula Rodrigues Leite
A idade não bate, era pra ele ter 41 ou mais
2025-01-12
1
Jaqueline Rodrigues Saltorato
Não tô entendendo esse cronograma de idade,se ele ficou viúvo com vinte e cinco,com um filho de quatro anos,ele na lógica não teria que ter mais idade, autora por favor arrume esse negócio aí!!!!
2025-01-30
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