Yol, depois de terminar o doce de morango, virou levemente a cabeça na direção do pai, sua voz suave, mas cheia de curiosidade.
— Pai... como você conheceu o papai Gusta pela primeira vez? Como foi tudo até hoje?
Niel sorriu, sua expressão carregada de nostalgia e emoção.
— Eu lembro como se fosse ontem. Era o início de um novo ano na universidade. Minha falecida amiga, Lia, estava animada e me disse que um garoto famoso ia entrar na escola. Mas eu nem liguei, estava ocupado demais com meus estudos.
Ele deu uma pausa, rindo levemente.
— Então, um dia, na biblioteca, lá estava eu, concentrado em um livro, quando ele entrou. Estava sozinho, mas fez um barulho absurdo ao arrastar uma cadeira, como se não tivesse a menor ideia do que era silêncio.
Yol riu levemente, imaginando a cena.
— E o que o senhor fez?
Niel sorriu mais, balançando a cabeça.
— Eu mandei ele fazer silêncio. Disse algo como: "Você está em uma biblioteca, não em um estádio de futebol." Ele ficou me olhando por alguns segundos, sem dizer nada, e depois simplesmente pegou a cadeira que estava arrastando e saiu. Do jeito mais silencioso possível.
Yol riu, imaginando o contraste do comportamento.
— E depois?
Niel suspirou, o sorriso permanecendo em seu rosto.
— Foi só depois que descobri que ele era o tal garoto novo que todos estavam comentando. E também que ele era, digamos, um pouco problemático.
Yol franziu o cenho, curioso.
— Problemático como?
— Ele não seguia regras, sempre fazia o que queria. Era o tipo de pessoa que irritava alguém como eu, que sempre seguia tudo à risca. Tivemos nossos desentendimentos, claro. Mas, depois de uma discussão mais acalorada, comecei a perceber que havia mais nele do que eu pensava. Ele tinha um lado gentil, mas escondido atrás de toda aquela fachada de garoto rebelde.
Niel fez uma pausa, suspirando profundamente.
— Aos poucos, ele começou a se aproximar, e eu fui entendendo quem ele realmente era. Foi aí que eu me apaixonei. Ele me mostrou um lado da vida que eu nunca tinha experimentado, e eu... bem, eu mostrei a ele o que era estabilidade.
Yol ficou em silêncio, absorvendo cada palavra. Finalmente, ele perguntou, hesitante:
— E o senhor sofreu muito, não foi? Como conseguiu superar tudo o que passou?
Niel abaixou levemente o olhar, a expressão mudando para algo mais sério.
— Sim, eu sofri. Mais do que posso explicar. Tentei lidar com isso sozinho por muito tempo, mas não consegui. Foi só quando procurei ajuda de uma psicóloga que comecei a superar. Ainda falo com ela até hoje. Ela tem me ajudado a apagar as memórias mais difíceis e a seguir em frente.
Yol ficou pensativo por um momento antes de perguntar, sua voz trêmula:
— É por isso que o senhor não demonstra amor por mim?
A pergunta fez Niel piscar, surpreso, como se as palavras o tivessem atingido como um soco. Ele se aproximou da cama, sentando-se ao lado de Yol e segurando sua mão.
— Não... não é isso, meu filho. Eu te amo mais do que qualquer coisa neste mundo. Mas... — ele suspirou, visivelmente emocionado. — Às vezes, eu me deixo prender no passado. E isso me faz esquecer de mostrar o quanto você é importante pra mim. E isso foi um erro. Um erro que eu nunca deveria ter cometido.
Yol apertou os lábios, tentando segurar as lágrimas.
— Às vezes, parece que... eu não importo tanto. Que eu sou só... alguém ali.
Niel apertou a mão dele com mais força, sua voz cheia de emoção.
— Você importa, meu príncipe. Mais do que tudo. E eu prometo que vou mostrar isso a você todos os dias daqui pra frente. Porque você é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida.
As lágrimas de Yol finalmente escorreram, mas, pela primeira vez em muito tempo, havia um fio de esperança em seu coração.
— Obrigado, pai... — murmurou ele.
Niel inclinou-se e beijou a testa de Yol, ficando ao lado dele até que ele adormecesse.
Niel saiu do quarto de Yol com cuidado, fechando a porta silenciosamente. Ele ainda estava absorvendo a conversa cheia de emoção que teve com o filho, tentando equilibrar os sentimentos de culpa e alívio. Ao caminhar pelo corredor, encontrou Gusta, que estava encostado na parede, com os braços cruzados e uma expressão pensativa no rosto.
— Como ele está? — perguntou Gusta, endireitando-se ao ver Niel.
Niel suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— Ele está dormindo agora. Tivemos uma conversa... difícil, mas acho que foi um bom começo. Pelo menos, ele está se abrindo mais.
Gusta assentiu lentamente, mas seu rosto mostrava que ele tinha algo a dizer. Após um momento de hesitação, ele finalmente falou.
— Niel... tem algo que preciso te contar.
Niel franziu o cenho, notando o tom sério na voz de Gusta.
— O que foi?
— Yol me pediu para ir estudar fora do país — disse Gusta, direto ao ponto.
Os olhos de Niel se arregalaram levemente, e ele cruzou os braços, parecendo surpreso.
— Estudar fora? Como assim? Ele nunca falou disso antes. Ele sempre teve professores particulares...
Gusta suspirou, balançando a cabeça.
— Eu sei, mas ele disse que agora que a cirurgia deu certo, ele quer viver sua vida. Quer ter amigos, experiências... coisas que ele acha que nunca pôde ter aqui.
Niel ficou em silêncio por um momento, tentando processar a informação. Finalmente, ele perguntou:
— E o que você disse?
— Eu disse que faria o possível para tornar isso realidade. — Gusta olhou para Niel com um misto de culpa e aceitação. — Sei que é difícil pensar em deixar ele ir, mas... eu não posso negar isso a ele. Não depois de tudo o que fizemos ele passar.
Niel apertou os lábios, claramente lutando com suas emoções.
— Gusta, e se ele estiver indo embora porque... ele quer fugir de nós? Você não acha que devíamos tentar convencê-lo a ficar? Mostrar que podemos fazer as coisas diferentes agora?
— Eu pensei nisso, Niel. Acredite, eu pensei. — Gusta passou a mão pelo rosto, suspirando profundamente. — Mas... e se for exatamente disso que ele precisa? Um novo começo, longe de tudo isso. Talvez seja a única maneira de ele se encontrar. Eu não quero ser a pessoa que impede isso.
Niel se encostou na parede, fechando os olhos por um momento enquanto processava as palavras de Gusta.
— Você pode estar certo... mas ainda assim, isso dói. Ele está querendo partir porque não conseguimos ser os pais que ele precisava.
Gusta colocou uma mão no ombro de Niel, apertando-o levemente.
— Eu sei, dói em mim também. Mas eu vejo isso como uma oportunidade. Se ele voltar a confiar em nós, talvez, um dia, ele queira voltar por conta própria. Não porque precisa, mas porque quer.
Niel olhou para Gusta, seus olhos cheios de emoção.
— Você realmente acha que isso é o melhor para ele?
Gusta assentiu, com um sorriso triste.
— Acho que é o que ele precisa agora. E, como pai, tudo o que eu quero é que ele seja feliz... mesmo que isso signifique deixá-lo ir.
Niel respirou fundo, tentando controlar as lágrimas que ameaçavam cair. Ele sabia que Gusta estava certo, mas a ideia de ver Yol partir era quase insuportável.
— Certo... então faremos o que for preciso para ajudar ele a seguir esse caminho. Mas eu quero que ele saiba que estaremos sempre aqui, por ele.
— Concordo — disse Gusta, apertando o ombro de Niel novamente. — E isso começa agora. Precisamos continuar mostrando que ele pode confiar em nós... e que o amamos, não importa onde ele esteja.
Os dois trocaram um olhar de entendimento e começaram a planejar como poderiam apoiar Yol em sua decisão, mesmo que isso significasse lidar com a dor de vê-lo partir.
CONTINUA....
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Atualizado até capítulo 99
Comments
Isah Uchiha
muito bom gostei/Smile/
2025-01-27
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