1.06

Depois de algumas horas, Ju finalmente voltou para casa, carregando sacolas cheias de doces e segurando um bolo cuidadosamente embalado. Assim que abriu a porta, Kai pulou do sofá, animado.

— Mãe! O que é isso tudo? — perguntou ele, correndo até ela.

Ju sorriu, ofegante.

— Trouxe algumas coisas pra fazermos uma pequena comemoração. Não podemos deixar o aniversário do Yol passar em branco, né? — disse ela, colocando as sacolas na pequena mesa da cozinha.

Kai olhou para Yol com um sorriso largo.

— Ei, playboy, olha só! Parece que você vai ter um aniversário de verdade. Mas tem um problema... eu não comprei um presente. — Ele coçou a nuca, parecendo desconfortável. — Espera aí, já volto.

Kai correu para o quarto e começou a revirar uma gaveta. Depois de alguns segundos, voltou com uma pulseira simples, feita de couro trançado. Ele se aproximou de Yol, segurando a pulseira na mão.

— Tá, olha só... não é grande coisa, nem chega perto das coisas que você tá acostumado a usar, mas... é o que eu tenho. — Ele colocou a pulseira no pulso de Yol, ajustando-a com cuidado. — E não vai dar muito valor, hein? É só um presente simbólico.

Yol ficou em silêncio por um momento, passando os dedos sobre a pulseira para sentir sua textura. Era simples, mas carregava um significado profundo. Ele levantou os olhos na direção de Kai, com um sorriso genuíno.

— Obrigado, Kai. De verdade. É um dos presentes mais especiais que já recebi.

Kai deu um sorriso de canto, tentando disfarçar o quanto as palavras de Yol o tocaram.

— Ah, deixa disso, cara. É só uma pulseira velha. Mas se você gostou, já valeu a pena.

Ju, que observava a cena enquanto começava a organizar os doces, sorriu com ternura.

— Vocês dois estão se entendendo bem, hein? Isso é bom de ver.

Kai deu de ombros, tentando parecer despreocupado.

— Claro, mãe. O Yol é tranquilo. Acho que vou mantê-lo como amigo.

Os três riram, e Ju começou a colocar os doces na mesa, enquanto dizia:

— Tá na hora de cantarmos parabéns! Vamos fazer desse um momento especial, mesmo que seja simples.

Com as velas apagadas e os parabéns cantados, Ju começou a cortar o bolo com cuidado, enquanto Kai estava mais interessado em roubar os doces diretamente da mesa. Yol permanecia em silêncio, mexendo no pedaço de bolo no prato com o garfo. Apesar do clima leve, sua mente estava longe dali.

Depois de alguns minutos, Yol finalmente levantou o olhar, sua voz saindo baixa e hesitante.

— Sabe... eu queria que meus pais fossem como vocês dois.

Ju parou o que estava fazendo, olhando para ele com surpresa. Kai, com um brigadeiro na boca, virou-se imediatamente, arqueando as sobrancelhas.

— O quê? Como assim? — perguntou Kai, com a voz abafada pela comida.

Yol soltou um suspiro, sentindo o nó na garganta crescer.

— Vocês se preocupam comigo, mesmo sem ter obrigação nenhuma. Fazem coisas simples, como me ouvir ou... cantar parabéns. Coisas que parecem tão pequenas, mas que significam muito pra mim. Me fazem sentir que eu importo.

Ju colocou o prato e a faca de lado, caminhando até o sofá. Sentou-se ao lado de Yol e segurou sua mão, apertando-a levemente.

— Yol, por que você está dizendo isso? Seus pais te amam — disse ela, com a voz suave, mas preocupada.

Yol balançou a cabeça, uma lágrima escapando de seus olhos enquanto ele desviava o olhar.

— Não, Ju. Eu não acho que eles me amem de verdade. Eles têm outra prioridade agora. Com esse novo bebê, acho que vão esquecer completamente de mim. Eles já não se preocupavam antes... agora vai ser ainda pior.

Kai, que estava em pé ao lado da mesa, coçou a cabeça, claramente desconfortável com o desabafo, mas prestando atenção em cada palavra.

— Isso não é verdade, Yol. Seus pais podem ser ocupados, mas isso não significa que eles não se importam com você — insistiu Ju, acariciando a mão dele.

Yol deu um riso curto e amargo, soltando a mão dela.

— Ju, você não viu o jeito que eles comemoraram quando disseram que iam ter outro bebê. Eles me deixaram completamente de lado, como se eu nem estivesse na sala. Eles nem me deram parabéns pelo meu aniversário... nem sequer olharam pra mim. Simplesmente saíram sem dizer nada. Eles sempre foram assim. Eu sou invisível pra eles.

Ju fechou os olhos por um momento, segurando as próprias emoções antes de responder.

— Yol, eu sei que parece que eles não se importam, mas às vezes as pessoas não percebem como as ações delas afetam os outros. Isso não significa que você é invisível. Eles podem não demonstrar bem, mas você é importante.

Yol riu novamente, mas dessa vez havia mais tristeza em sua voz.

— Importante? Eu sou quebrado, Ju. Meu pai Gusta quer que eu seja forte, como ele. Sempre diz que eu preciso ser mais independente. E meu pai Niel... ele tenta, mas nunca me dá tempo suficiente. Eles não conseguem me ver pelo que eu sou. É como se eu fosse um erro.

Kai, que estava mastigando outro doce, largou o prato na mesa com um estrondo.

— Ei, para com isso, Yol! — disse ele, caminhando até o sofá e sentando-se na frente de Yol. — Você não é quebrado, tá ouvindo? Isso é besteira. Se seus pais não conseguem ver o quão incrível você é, isso é problema deles, não seu.

Yol olhou para Kai, surpreso com a intensidade em sua voz. Ju sorriu levemente, passando a mão pelos cabelos de Yol.

— Kai está certo, meu querido. Você sente demais, se preocupa demais, e isso não é um defeito. Isso é o que te torna especial. Você é muito mais forte do que imagina.

Kai apontou para Yol, como se estivesse reforçando o ponto de Ju.

— Exato! E olha só, você tá aqui, né? Tá se abrindo, falando o que sente. Isso é muito mais do que muita gente consegue fazer. Então, para de pensar que você é um problema. Porque você não é.

Yol abaixou a cabeça, tocando a pulseira no pulso. Passou os dedos pela textura trançada, sentindo o peso simbólico do gesto de Kai.

— Obrigado... vocês dois. — Ele levantou a cabeça, olhando para Ju e Kai com um sorriso tímido. — Eu não sei o que faria sem vocês hoje.

Ju beijou a testa dele, com os olhos marejados.

— Você nunca vai estar sem a gente, meu querido. Nós estamos aqui pra você, sempre.

Kai sorriu, tentando aliviar o clima.

— E agora vamos terminar esse bolo antes que eu coma tudo sozinho. Você vai me agradecer por isso depois.

Yol riu, secando as lágrimas.

— Obrigado, Kai. Acho que você já fez muito por hoje.

Depois de um tempo conversando e comendo os doces, Kai inclinou-se no sofá, olhando para Yol com curiosidade.

— Ei, Yol, posso te perguntar uma coisa?

— Claro — respondeu Yol, limpando os farelos de bolo da mão.

— Como você era quando a minha mãe começou a trabalhar na sua casa? — perguntou Kai, com um sorriso. — Aposto que era um daqueles moleques mimados, né?

Yol riu, balançando a cabeça.

— Eu era só uma criança. Nem lembro de muita coisa. Pergunta pra sua mãe, ela sabe melhor.

Kai virou-se para Ju, que estava organizando as coisas na cozinha.

— E aí, mãe? Conta pra gente. Como era o Yol naquela época?

Ju parou o que estava fazendo, sorrindo nostalgicamente.

— Ah, isso foi há dez anos. Yol devia ter uns 7 ou 8 anos quando comecei a trabalhar lá. Ele era um menino muito quieto, mas muito curioso. Sempre me fazia perguntas sobre tudo.

— Perguntas? Tipo o quê? — perguntou Kai, interessado.

Ju riu, voltando-se para eles.

— Coisas do tipo: “Por que a água fica quente no chuveiro?”, ou “Por que você sempre dobra as roupas desse jeito?”. Ele tinha um jeito de querer entender tudo. E era tão educado... Nunca me tratou mal, nem uma única vez.

Yol corou um pouco, mexendo na pulseira.

— Você tá exagerando, Ju. Eu só era curioso.

Ju balançou a cabeça, sorrindo.

— Não, meu querido. Você sempre foi muito especial. Lembro de uma vez, no meu primeiro mês trabalhando lá, que você entrou na cozinha enquanto eu estava lavando a louça. Eu tinha deixado cair um copo, e você veio correndo pra perguntar se eu estava bem. Até tentou me ajudar a limpar.

Kai riu, olhando para Yol.

— Então você já era o bom moço desde pequeno, hein? Impressionante.

Ju continuou, com os olhos brilhando.

— E também lembro de quando você me pediu pra ensinar a fazer arroz doce. Você queria impressionar seus pais, mas acabou comendo tudo antes de mostrar pra eles. — Ela riu. — Foi uma bagunça na cozinha, mas foi tão divertido.

Yol sorriu, perdido nas lembranças.

— Eu lembro disso. Você sempre me tratou com tanto carinho, Ju. Como se fosse minha segunda mãe.

Ju colocou a mão no peito, emocionada.

— E foi assim que eu sempre me senti, Yol. Cuidar de você nesses últimos dez anos foi uma das melhores coisas da minha vida. Mesmo com todas as dificuldades, você sempre me fez sentir que o meu trabalho valia a pena.

Kai olhou para a mãe, com um sorriso de lado.

— Acho que agora entendo por que você gosta tanto dele, mãe. Ele realmente é um cara legal.

Yol riu, balançando a cabeça.

— Obrigado, Kai. E obrigado, Ju, por sempre estar ao meu lado. Você não tem ideia do quanto isso significa pra mim.

Ju aproximou-se, colocando uma mão no ombro de Yol.

— E sempre estarei, meu querido. Você pode contar comigo, não importa o que aconteça.

Kai, tentando quebrar o clima emocional, sorriu.

— Beleza, mas agora quero saber: ele dava muito trabalho ou era um anjinho?

Ju riu.

— Era um anjinho, na maior parte do tempo. Mas, de vez em quando, fazia umas travessuras, como brincar na chuva sem permissão ou comer os doces antes do jantar.

Yol riu, lembrando-se das travessuras.

— Eu sempre ficava encrencado por isso, mas você nunca brigava comigo de verdade.

— Porque eu sabia que, no fundo, você só queria se divertir — respondeu Ju, com um sorriso carinhoso.

CONTINUA.....

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Comments

yass_uchiha

yass_uchiha

/Smile/

2025-02-10

1

yass_uchiha

yass_uchiha

eu to amandoooo

2025-02-10

1

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