1.13

Todos na sala olharam para Fery após o comentário, mas ninguém disse nada. O silêncio foi mais pesado do que qualquer resposta verbal poderia ser. Enquanto alguns pareciam refletir sobre as palavras dele, Deymon claramente não gostou. Ele franziu o cenho e cruzou os braços, fixando o olhar no filho.

— Fery, comigo. Agora. — disse Deymon, sua voz baixa, mas cheia de autoridade.

Fery hesitou por um momento, mas acabou seguindo o pai. Eles saíram da sala, caminhando pelo corredor em direção a uma área mais reservada. Zion, preocupado com o tom de Deymon, começou a ir atrás deles, mas antes que pudesse segui-los, o avô de Yol, que até então estava sentado em silêncio, levantou-se.

— Zion, você fica. — disse ele, com uma voz calma, mas inquestionavelmente firme. — Está na hora de Deymon puxar o freio desse moleque. Ele precisa fazer isso sozinho.

Zion parou, olhando para o velho com um misto de respeito e preocupação. Ele assentiu, voltando para o grupo, enquanto Deymon e Fery desapareciam no final do corredor.

Deymon parou em uma área próxima a uma janela, onde não havia outras pessoas por perto. Ele virou-se para Fery, os braços cruzados e a expressão de desapontamento evidente.

— O que foi aquilo lá dentro? — começou Deymon, encarando o filho. — Que tipo de comentário é esse, Fery?

Fery deu de ombros, tentando parecer indiferente.

— Só falei a verdade, pai. O Yol nunca recebe atenção nenhuma. Pelo menos agora todo mundo está percebendo que ele existe.

Deymon deu um passo à frente, sua voz ficando mais firme.

— Não é o momento para "verdades", Fery. Estamos falando de um garoto que está lutando pela vida. Não é sobre reconhecimento ou atenção, é sobre o fato de que ele quase morreu! Você tem ideia do que isso significa para a família dele? Para o Gusta e o Niel?

Fery cruzou os braços, parecendo desconfortável.

— Eu sei disso. Mas é o que eu penso. Não vou ficar quieto só porque vocês querem.

Deymon respirou fundo, tentando conter a irritação crescente.

— Fery, isso não é sobre você. Não é sobre o que você pensa ou o que você acha. É sobre Yol, sobre a família dele, e sobre respeito. Às vezes, a melhor coisa que podemos fazer é ouvir e apoiar, em vez de falar coisas que podem machucar.

Fery olhou para o pai, claramente incomodado com o tom da conversa.

— Então agora eu sou o vilão por dizer o que todo mundo está pensando?

Deymon balançou a cabeça, frustrado.

— Você não é o vilão, Fery. Mas está se comportando como alguém que não entende a gravidade da situação. Yol é uma pessoa, não uma oportunidade para validar suas opiniões.

Fery olhou para fora da janela, evitando o olhar do pai. Por fim, ele murmurou:

— Eu só queria que as coisas fossem diferentes. Que ele fosse mais... forte.

Deymon ficou em silêncio por um momento, deixando as palavras do filho ecoarem.

— Fery, a força não se mede pela aparência ou pelo que as pessoas mostram por fora. Yol é mais forte do que você imagina, porque ele está aqui, lutando, mesmo depois de tudo o que passou. E é exatamente isso que você precisa aprender a enxergar.

Fery permaneceu quieto, absorvendo as palavras do pai. Ele parecia estar refletindo, mas não queria admitir.

Deymon colocou uma mão no ombro de Fery, apertando levemente.

— Eu não estou dizendo isso porque quero te criticar. Estou dizendo porque quero que você cresça, filho. Porque você tem potencial para ser alguém incrível, mas precisa aprender a olhar para os outros com empatia, não só com julgamento.

Fery abaixou a cabeça, murmurando algo inaudível.

— O que foi? — perguntou Deymon.

— Eu... eu entendi, pai. — respondeu Fery, finalmente, embora ainda parecesse relutante.

Deymon suspirou, mas deu um leve sorriso, satisfeito por agora.

— Vamos voltar. E quando voltarmos, quero que você pense antes de falar. Se não for para ajudar, é melhor não dizer nada.

Fery e Deymon voltaram para a sala onde todos estavam reunidos. O ambiente continuava carregado de tensão, especialmente depois do comentário feito por Fery. Ele entrou um pouco mais devagar, com a expressão mais contida, enquanto Deymon o seguia de perto, observando-o atentamente.

Fery parou no meio da sala, respirou fundo e olhou diretamente para Gusta, Niel e o avô de Yol. Sua postura agora era mais séria, com uma determinação relutante, mas sincera.

— Eu... — começou ele, com a voz mais baixa do que o habitual. Ele olhou para o pai por um momento, que apenas deu um leve aceno, incentivando-o a continuar.

Fery respirou fundo novamente, endireitando-se.

— Eu queria pedir desculpas pelo que disse antes. — Sua voz estava mais firme agora. — Foi insensível e desrespeitoso da minha parte. Não era minha intenção diminuir o que o Yol está passando... nem o que vocês estão sentindo.

Niel e Gusta trocaram um olhar rápido, surpresos pela atitude de Fery. O avô de Yol, que estava sentado, cruzou os braços e apenas o observou, avaliando cada palavra.

— Eu falei sem pensar — continuou Fery. — E percebi que não era o momento certo. Vocês têm todo o direito de estarem focados no Yol e em sua recuperação, sem precisarem lidar com comentários idiotas como o meu. Então... eu realmente sinto muito.

Ele abaixou a cabeça brevemente, um gesto simples, mas que transmitia sinceridade. O silêncio na sala era palpável enquanto todos processavam as palavras de Fery.

Niel deu um passo à frente, quebrando o silêncio.

— Fery, obrigado por se desculpar. Isso mostra maturidade, e nós valorizamos isso — disse ele, sua voz gentil, mas ainda um pouco cautelosa.

Gusta, ainda sentado, apenas assentiu.

— Agradeço pelo pedido de desculpas, Fery. É bom ver que você está refletindo. Espero que continue assim — disse ele, com um tom mais neutro.

O avô de Yol finalmente falou, sua voz grave, mas não tão dura quanto antes.

— Um bom homem sabe reconhecer seus erros, Fery. É um começo. Agora, mostre que você pode aprender com isso.

Fery assentiu, parecendo mais aliviado, mas ainda sério. Ele deu um passo para trás, ficando ao lado de Zion, que colocou uma mão em seu ombro, apertando levemente como um gesto de apoio.

As horas passavam lentamente no hospital, cada minuto parecendo uma eternidade. Gusta estava cada vez mais ansioso. Ele andava de um lado para o outro no corredor, parando ocasionalmente para encher um copo de água no bebedouro e bebendo-o rapidamente, apenas para repetir o ciclo momentos depois.

— Gusta, você precisa se acalmar — disse Niel, observando o marido enquanto ele cruzava o corredor novamente.

— Eu não consigo, Niel! — respondeu Gusta, sua voz mais alta do que pretendia. — É o nosso menino que está lá dentro. Como posso ficar calmo?

Gusta continuava a andar, sua respiração acelerada e o nervosismo transparecendo em cada movimento. Finalmente, Niel aproximou-se dele, segurando-o pelos ombros com firmeza.

— Gusta, olha pra mim — disse Niel, sua voz suave, mas cheia de determinação.

Gusta parou, os olhos ainda cheios de inquietação, mas ele obedeceu, levantando o olhar para encontrar os olhos de Niel.

— Está tudo bem. — Niel segurou o rosto de Gusta com ambas as mãos, obrigando-o a focar apenas nele. — O Yol vai ficar bem. Ele é forte. O médico já disse que ele está fora de risco.

Os olhos de Gusta brilharam com lágrimas que ele estava tentando conter.

— Me diz que vai ficar tudo bem com o meu menino — sussurrou ele, a voz embargada.

Niel aproximou-se ainda mais, encostando sua testa na de Gusta. O contato era reconfortante, íntimo, uma tentativa de transmitir força e calma.

— Vai ficar tudo bem, meu amor. Não se preocupe tanto. O Yol é forte, mais do que você imagina — disse Niel, com um sorriso leve que tentava mascarar sua própria ansiedade.

Gusta respirou fundo, fechando os olhos por um momento, como se estivesse tentando absorver a confiança de Niel. Então, antes de se afastar, Niel inclinou-se e deu um beijo suave na boca dele, um gesto simples, mas carregado de amor e segurança.

— Obrigado, Niel... — disse Gusta, ainda com os olhos fechados, sentindo-se um pouco mais calmo.

Niel sorriu, passando a mão pelo rosto de Gusta.

— Estamos juntos nisso. Agora, sente-se e tente relaxar. Yol precisa que estejamos fortes para ele.

Gusta assentiu lentamente, deixando-se guiar até uma das cadeiras do corredor. Enquanto Niel sentava ao lado dele, segurando sua mão, Gusta respirou fundo novamente, sentindo que, apesar de tudo, havia um pequeno fio de esperança que os mantinha firmes.

CONTINUA....

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