Horas depois, Yol abriu os olhos lentamente. Sua cabeça latejava, e ele piscou algumas vezes, tentando entender onde estava. Ao passar a mão sobre o rosto, sentiu o sangue seco misturado ao fresco escorrendo pela testa. Ele gemeu de dor, mas algo chamou sua atenção: no meio da escuridão, seus olhos brilhavam em um verde límpido e intenso, como uma chama luminosa.
— O que... o que está acontecendo? — murmurou, sua voz rouca.
Uma fumaça verde começou a emanar do seu corpo, brilhando suavemente como vaga-lumes em uma noite escura. Os feromônios de Yol, que ele sempre controlava com remédios, agora estavam escapando livremente, iluminando o ambiente ao redor dele.
Ele olhou para suas mãos, confuso, mas algo ainda mais surpreendente aconteceu: sua visão, que havia se deteriorado tanto ao longo dos anos, estava perfeita. Yol conseguia ver cada detalhe ao seu redor, desde as folhas balançando ao vento até as estrelas brilhando no céu.
— Eu consigo... enxergar de novo? — disse ele, espantado.
Os feromônios verdes que emanavam dele começaram a formar um caminho brilhante, como uma trilha que guiava de volta à mansão. Yol, ainda zonzo e sangrando, seguiu o caminho, subindo as escadas com dificuldade, mas determinado a voltar para casa.
Quando finalmente alcançou o topo da ladeira, já era noite. De longe, ele avistou a área da piscina iluminada. Para sua surpresa, ele viu seus pais, Gusta e Niel, sentados junto com Zion e Deymon, rindo e conversando animadamente. Fery e Elena também estavam lá, parecendo completamente alheios à ausência de Yol.
Seu coração apertou ao ver a cena. Ele sentiu um nó na garganta e murmurou para si mesmo:
— Eles nem perceberam que eu não estava aqui... Nem perceberam minha falta.
De repente, seus olhos começaram a perder o brilho verde. A escuridão retornava lentamente, e sua visão voltava a ficar turva. Ele piscou algumas vezes, tentando manter a clareza, mas já não conseguia enxergar as pessoas com nitidez. Seu corpo doía, o sangue ainda escorria pelo rosto, e ele sentiu a fraqueza tomar conta de si.
Com a mão sobre o ferimento na cabeça, Yol cambaleou em direção à grande porta de vidro que dava para a sala de estar. Assim que colocou a mão na porta, a visão turva de Gusta na distância pareceu congelar. Gusta, ao virar o rosto, viu o estado de Yol. Seu coração disparou.
— Yol?! — gritou Gusta, levantando-se de repente.
Sem pensar duas vezes, ele correu em direção a Yol. Com uma força e agilidade impressionantes, Gusta saltou pela parede de vidro, atravessando-a com um estilhaçar ensurdecedor. Os cacos voaram para todos os lados, mas Gusta não se importou. Ele alcançou Yol antes que ele desabasse no chão.
— Meu filho! — gritou Gusta, segurando Yol firmemente em seus braços.
Niel e os outros, assustados pelo som do vidro quebrado, levantaram-se apressados. Niel correu para onde Gusta estava com Yol em seus braços, seu rosto uma mistura de choque e pânico.
— Yol! O que aconteceu? — perguntou Niel, ajoelhando-se ao lado deles.
Yol, com a voz fraca, murmurou:
— Eu... caí. Mas... mas... eu consegui enxergar... por um momento... — Ele parou, tentando recuperar o fôlego, enquanto o sangue continuava escorrendo pelo seu rosto.
Gusta olhou para Niel, sua expressão de desespero misturada com culpa.
— Chame um médico! Agora! — ordenou ele.
Zion e Deymon aproximaram-se rapidamente, mas mantiveram uma distância respeitosa. Fery, que também havia se levantado, parecia chocado, mas permaneceu quieto.
Gusta segurou Yol mais perto, pressionando o ferimento na cabeça dele com a mão.
— Fique comigo, meu filho. Estamos aqui agora. Não vamos deixar você sozinho. — Sua voz estava trêmula, mas cheia de determinação.
Niel voltou com uma toalha e começou a limpar o sangue do rosto de Yol, sua própria expressão marcada por lágrimas que ele tentava conter.
— Você vai ficar bem, meu príncipe. Eu prometo... — disse Niel, tentando manter a calma.
Yol, mesmo fraco, conseguiu abrir os olhos por um momento e olhou para os dois.
— Vocês... perceberam... minha falta? — perguntou ele, antes de fechar os olhos novamente, perdendo a consciência nos braços de Gusta.
O silêncio caiu sobre todos, e o som distante das sirenes de uma ambulância parecia ser a única coisa que preenchia o ar pesado.
A ambulância cortava as ruas da cidade em alta velocidade, com as sirenes ecoando na noite. Dentro dela, Yol estava deitado na maca, inconsciente, enquanto os paramédicos trabalhavam freneticamente para estabilizá-lo. Gusta e Niel estavam ao lado dele, segurando suas mãos. O silêncio de Yol, misturado ao som constante do monitor cardíaco, fazia o coração de ambos apertar.
— Aguente firme, meu filho. Estamos aqui. Você vai ficar bem, eu prometo — murmurava Niel, com a voz trêmula.
Gusta, incapaz de conter a angústia, apertava os punhos, olhando fixamente para o rosto pálido de Yol. Cada segundo parecia uma eternidade.
Quando chegaram ao hospital, a equipe médica já estava preparada para recebê-los. Yol foi levado em uma maca diretamente para a emergência, enquanto Gusta e Niel foram barrados na entrada.
— Vocês não podem entrar. Precisamos trabalhar sem interrupções — disse um dos médicos.
— Ele é meu filho! — gritou Gusta, tentando avançar, mas Niel o segurou, tentando manter a calma.
— Gusta, eles precisam fazer o trabalho deles. Vamos confiar neles, por favor — implorou Niel, embora ele mesmo estivesse à beira de perder a compostura.
Horas se passaram, e o tempo parecia se arrastar. Zion, Deymon, Fery e Elena chegaram ao hospital, juntando-se aos dois. O ambiente estava carregado de tensão e nervosismo. Ninguém conseguia dizer uma palavra enquanto aguardavam notícias.
Finalmente, a porta da sala de emergência se abriu, e o médico responsável saiu, removendo os óculos e parecendo exausto. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Gusta avançou, segurando-o pelo colarinho com uma expressão de pura fúria.
— Doutor, o senhor tem filhos? Tem? Então não me venha com más notícias, porque eu não vou aceitar! — gritou ele, apertando o colarinho do médico, os olhos cheios de lágrimas de desespero.
O médico ficou imóvel por um momento, encarando Gusta com um olhar firme e inabalável. Ele soltou um suspiro pesado antes de responder.
— Sim, senhor presidente, eu tenho filhos. E, com todo respeito, isso me faz querer dizer algo que ninguém tem coragem de lhe dizer.
O médico olhou diretamente nos olhos de Gusta, sua voz carregada de emoção.
— O senhor é um péssimo pai.
O ambiente ficou em completo silêncio. Todos na sala ficaram imóveis, surpresos pela ousadia do médico.
— É um milagre ele estar vivo, senhor. Ele perdeu tanto sangue que, pela lógica, não deveria ter sobrevivido. Mas, por algum motivo, o corpo dele encontrou uma forma de lutar sozinho para se manter vivo. Um instinto de sobrevivência tão forte que o salvou da morte... porque ele não tinha ninguém fazendo isso por ele.
As palavras do médico atingiram Gusta como um soco no estômago. Ele ficou paralisado, os olhos arregalados, enquanto o médico continuava.
— Agora me solte. Preciso continuar cuidando do seu filho, porque ele ainda não está fora de perigo. — O médico tirou as mãos de Gusta de sua camisa, arrumando-a com calma antes de virar-se para sair. — Talvez isso seja uma oportunidade para o senhor refletir sobre o que realmente importa na vida.
Com isso, o médico deixou a sala, enquanto o som de seus passos ecoava no corredor. Gusta permaneceu imóvel, as palavras ecoando em sua mente. Niel aproximou-se dele, colocando uma mão em seu ombro.
— Gusta... ele tem razão. Precisamos fazer melhor. Muito melhor — disse Niel, sua voz embargada.
Gusta abaixou a cabeça, respirando fundo, tentando processar a culpa esmagadora que sentia. Ele olhou para a porta da sala de emergência, murmurando para si mesmo.
— Yol... por favor, aguente. Nós vamos mudar. Eu prometo.
Enquanto isso, Zion e Deymon observavam a cena de longe, trocando olhares preocupados, mas silenciosos. Fery, que até então estava quieto, deu um passo à frente, a culpa também começando a pesar sobre ele.
— Isso é culpa minha também... — murmurou Fery, mas ninguém respondeu.
O corredor ficou em silêncio novamente, enquanto todos aguardavam o próximo passo do destino de Yol.
Do lado de fora do hospital, o som das sirenes misturava-se ao burburinho crescente de jornalistas e câmeras. Os repórteres começavam a se acumular, seus flashes iluminando a entrada, enquanto faziam perguntas incessantes.
— Senhor Presidente, há rumores de que seu filho está em estado crítico. Isso é verdade?
— Senhor Gusta, como isso pode afetar sua candidatura a embaixador?
— É verdade que houve uma negligência na família?
O tumulto lá fora estava começando a causar tensão dentro do hospital. Deymon, que observava pela janela, virou-se para Gusta com uma expressão séria.
— Gusta, você tem que fazer algo sobre esses repórteres. Eles estão transformando isso em um circo — disse ele, com firmeza.
Gusta, já consumido pela culpa e pela pressão, explodiu. Ele avançou rapidamente, agarrando Deymon pelo colarinho e pressionando-o contra a parede.
— Você acha que eu não sei disso? Você acha que eu não vejo o caos lá fora? — gritou Gusta, seus olhos vermelhos de raiva e lágrimas. — Meu filho está lutando pela vida, e você quer que eu vá lidar com repórteres? Como se fosse fácil?
Deymon, apesar do choque, permaneceu calmo.
— Gusta, eu só estou dizendo que você precisa controlar a narrativa. Eles não vão parar até terem respostas — respondeu ele, tentando não agravar ainda mais a situação.
Gusta o soltou com um movimento brusco, dando um passo para trás e passando as mãos pelo rosto.
— Eu... eu não consigo lidar com isso agora. Não consigo! — disse ele, a voz quebrada, enquanto as lágrimas começavam a escorrer. Ele virou-se para Niel, que observava tudo em silêncio. — E você? Por que está tão quieto? Vai fazer alguma coisa?
Niel respirou fundo, olhando para Gusta com um olhar calmo, mas determinado.
— Eu vou falar com os repórteres — disse ele simplesmente, ajeitando o casaco.
Gusta o olhou com incredulidade, quase rindo de forma amarga.
— Como? Como você consegue ser assim? — perguntou ele, dando um passo à frente. — Como consegue ser tão calmo nesse momento?
Niel parou e virou-se, olhando diretamente nos olhos de Gusta.
— Porque alguém tem que ser forte, Gusta.
As palavras de Niel perfuraram o ar como uma faca. Gusta balançou a cabeça, incapaz de conter sua frustração.
— Forte? Por que você tem que ser assim? Ele é nosso filho, Niel! Nosso filho! — gritou Gusta, sua voz ecoando pelo corredor.
Niel, que até então mantinha a compostura, parou de andar. Ele virou-se lentamente, seus olhos agora cheios de lágrimas que ele lutava para segurar.
— E você acha que eu não sinto nada? Acha que eu não estou acabando por dentro? — respondeu ele, sua voz tremendo. — Eu me sinto um lixo, Gusta. Eu me sinto o pior pai do mundo. Não tenho nem vontade de sorrir neste momento. Cada segundo que eu passo sem saber se nosso filho vai sobreviver é uma tortura.
Gusta ficou em silêncio, paralisado pelas palavras de Niel.
— Mas eu não posso ceder aos meus sentimentos agora. Não agora. — Niel deu um passo à frente, olhando para Gusta diretamente nos olhos. — Alguém tem que manter a calma, porque se todos nós desabarmos, quem vai segurar as pontas? Quem vai estar lá quando Yol precisar de nós?
As lágrimas finalmente escorreram pelo rosto de Niel, mas sua postura permaneceu firme. Ele respirou fundo e continuou:
— Eu vou falar com os repórteres. Não porque quero, mas porque preciso. Porque é o que precisa ser feito.
Gusta balançou a cabeça, as mãos trêmulas enquanto tentava responder.
— Niel... eu só... — começou ele, mas as palavras falharam.
— Eu sei, Gusta. Eu sei. — Niel virou-se novamente, enxugando o rosto. — Cuide de você mesmo enquanto eu faço isso. Nosso filho precisa de nós dois, inteiros, não quebrados.
Sem esperar uma resposta, Niel começou a caminhar em direção à entrada do hospital, determinado a enfrentar os repórteres. Gusta ficou parado no corredor, olhando para o chão enquanto as lágrimas continuavam a cair.
Deymon aproximou-se lentamente, colocando uma mão no ombro de Gusta.
— Ele está certo, Gusta. Vocês dois são pais incríveis, mas precisam ser uma equipe agora. Yol precisa de vocês.
Gusta assentiu lentamente, ainda absorvendo as palavras de Niel, enquanto uma mistura de culpa e admiração preenchia seu coração.
CONTINUA...
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Atualizado até capítulo 99
Comments
Isah Uchiha
eu amo esse médico aonde eu compro um kkk, tá que nem mortal combate dando os danos críticos, e bota críticos aí
2025-01-26
1
Maria Schmidt
o médico falou tudo
2025-02-02
1