1.04

Ju conduziu Yol até o pequeno sofá de tecido gasto que ocupava o canto da sala. Ela o ajudou a se sentar com cuidado e deu um sorriso reconfortante.

— Senta aqui, Yol. Vou pegar um copo de água para você — disse Ju, dirigindo-se à pia, onde uma pequena janela deixava entrar uma leve brisa.

A casa era simples, mas acolhedora. A sala e a cozinha dividiam o mesmo espaço, com móveis modestos, mas bem organizados. Dois quartos pequenos estavam dispostos ao lado, e o banheiro ficava no final do corredor.

Enquanto Ju enchia o copo de água, a porta de um dos quartos se abriu. Kai, um jovem alto e de porte atlético, saiu esfregando os olhos, ainda com a expressão de quem acabara de acordar. Ele usava apenas um short velho e tinha uma toalha pendurada no ombro.

— Mãe, a senhora chegou cedo hoje. O que aconteceu? — perguntou ele, com um tom casual, mas curioso.

Ju virou-se para ele com um leve sorriso.

— Oi, meu filho. Trouxe um convidado hoje — respondeu ela, acenando na direção de Yol.

Kai olhou para o sofá e franziu o cenho.

— Quem é esse, mãe? — perguntou, analisando Yol de cima a baixo.

Ju caminhou até Yol e colocou a mão em seu ombro.

— Esse é o filho dos meus patrões.

Kai piscou, parecendo se lembrar de algo.

— Ah, tá. É o advogado que ajudou a senhora a colocar a mamãe Lai na cadeia?

— Kai! — exclamou Ju, batendo com o pano de prato na direção dele. — Não fale desse jeito! O nome dele é Yol.

Kai deu de ombros, parecendo não se importar muito, e voltou a olhar para Yol.

— Hoje é o aniversário dele. Ele está fazendo 18 anos. Dá os parabéns pra ele — disse Ju, com firmeza.

Kai olhou para Yol novamente e falou, num tom levemente debochado:

— Parabéns, playboy.

Ju não deixou passar. Pegou o pano de prato e jogou na direção de Kai, acertando-o no ombro.

— Não chame ele assim! — repreendeu ela. — Agora vá vestir uma roupa decente e faça companhia pra ele.

Kai ergueu as mãos em um gesto de rendição, rindo.

— Tá bom, mãe, já entendi. Mas, olha pra ele... Parece que ele nem se importa muito.

Ju suspirou, cruzando os braços.

— Meu filho, ele tem problemas de visão. Ele não enxerga muito bem, mas consegue ver algumas coisas. Por isso, ele precisa de alguém que o trate bem. Agora vá vestir um short e uma camisa, e sem demora.

Kai deu um sorriso de canto, levantando as sobrancelhas.

— Ok, mãe. Já volto — disse ele, voltando para o quarto para se trocar.

Ju balançou a cabeça, suspirando, e sentou-se ao lado de Yol no sofá.

— Não ligue para o jeito dele, Yol. Ele é meio bobo, mas é um bom menino. Tenho certeza de que vocês vão se dar bem.

Yol deu um leve sorriso, mas permaneceu em silêncio, enquanto seus pensamentos ainda estavam misturados com as emoções do dia.

Poucos minutos depois, Kai voltou para a sala, agora vestindo um short jeans e uma camiseta preta. Ele parecia mais disposto e com um sorriso travesso no rosto.

— Pronto, mãe. Estou decente agora — disse ele, enquanto se jogava na outra ponta do sofá.

Ju olhou para ele com um olhar de advertência.

— Kai, senta direito. Não estamos na sua bagunça, e lembra o que eu disse: trate o Yol com respeito.

Kai revirou os olhos e se virou para Yol, que parecia um pouco desconfortável com a interação.

— Então, play... quer dizer, Yol, né? — corrigiu-se, com um sorriso meio desajeitado. — O que você gosta de fazer? Tá na vibe de jogar alguma coisa? Ah, esqueci, você tem... uh... um problema nos olhos, né?

Yol ergueu as sobrancelhas, um sorriso pequeno surgindo em seu rosto.

— É, eu não enxergo muito bem, mas, se for algo que não precise de mira, posso tentar — respondeu, com um tom brincalhão.

Kai riu.

— Beleza. Então talvez a gente possa jogar um jogo de perguntas. Tipo... “Eu nunca”. Você já jogou isso?

— Já ouvi falar, mas nunca joguei — admitiu Yol.

— Perfeito! — disse Kai, esfregando as mãos. — Vou começar com uma fácil: Eu nunca... subi uma escada tão longa quanto a que você subiu hoje pra chegar aqui.

Yol riu, balançando a cabeça.

— Eu definitivamente subi. Suas escadas são intermináveis. Vocês têm um elevador escondido por aqui?

Kai gargalhou.

— Queria, viu? Mas aqui é tudo na base do cardio. Tá aí uma boa desculpa pra não ir à academia.

— Acho que não preciso disso — disse Yol, com um sorriso. — Descer a escada depois deve ser minha maior aventura do dia.

Kai inclinou-se um pouco para frente, curioso.

— E aí, qual é a sua, Yol? Tipo, você é filho de gente rica, mora em uma mansão... Você não deve estar acostumado com lugares como esse, né?

Yol deu de ombros.

— Acho que não, mas... aqui é interessante. É diferente. Parece mais... vivo.

Kai franziu a testa, parecendo intrigado.

— Vivo? Você acha que nossa confusão aqui é “viva”?

— É — respondeu Yol, com sinceridade. — Na minha casa, é muito silencioso. Não tem gente conversando, crianças brincando ou música tocando. Às vezes, silêncio demais parece... vazio.

Kai assentiu, como se estivesse absorvendo as palavras de Yol.

— Nunca tinha pensado assim — disse ele, pensativo. — Acho que é verdade. Aqui, sempre tem barulho, pra bem ou pra mal.

— Então, ponto para a sua casa — disse Yol, sorrindo.

Kai sorriu de volta e esticou a mão.

— Fechou, Yol. Vamos ser parceiros nesse jogo de hoje. Só não vai me fazer pergunta difícil, tipo... sei lá, “Eu nunca estudei em uma escola chique”.

Yol riu, pegando a mão de Kai.

— Eu nunca... caí subindo uma escada. Agora é a sua vez de responder.

Kai riu alto, levantando a mão.

— Ah, isso aí eu já fiz várias vezes. Subir escadas aqui no morro é tipo praticar parkour. É cair ou cair.

Os dois riram, e o clima da sala ficou leve. Ju, observando de longe, sorriu satisfeita, vendo como os dois estavam começando a se entender.

Ju terminou de arrumar algumas coisas na cozinha e voltou para a sala, onde Kai e Yol estavam sentados no sofá.

— Meninos, eu preciso sair rapidinho para buscar umas coisas no mercadinho — disse Ju, ajeitando o avental. — Kai, cuide do Yol enquanto eu não estou. Não quero voltar e encontrar bagunça, hein?

— Tá bom, mãe. Relaxa, eu sou um anfitrião incrível — respondeu Kai, com um sorriso travesso.

Ju estreitou os olhos para ele, claramente desconfiada.

— Tô falando sério, Kai. Trate ele bem. Não quero saber de brincadeiras de mau gosto.

— Tá, mãe, tá. Vai tranquila. A casa tá em boas mãos — respondeu Kai, com um gesto exagerado de despedida.

Ju suspirou, pegou sua bolsa e saiu pela porta, deixando os dois sozinhos. Assim que ela fechou a porta, Kai virou-se para Yol com um sorriso curioso.

— Então, Yol, vamos bater um papo. Me conta aí sobre o seu pai... o Gusta, né? Ele é tipo advogado ou algo assim?

Yol riu levemente, balançando a cabeça.

— Não, meu pai não é advogado. Ele é o presidente do país. Está no terceiro mandato, na verdade.

Kai arregalou os olhos, surpreso.

— Presidente?! Sério mesmo? — Ele riu, incrédulo. — Então eu tô aqui com o filho do homem mais poderoso do país. É isso?

— Mais ou menos — respondeu Yol, encolhendo os ombros. — Ele está tentando se tornar embaixador agora, então anda mais ocupado do que nunca.

Kai cruzou os braços, claramente intrigado.

— Espera aí... Ele é presidente e ainda quer ser embaixador? O cara não para, né?

Yol suspirou, seu tom ficando mais melancólico.

— Ele sempre diz que quer fazer mais pelo país, então está sempre envolvido em reuniões e eventos. Acho que ele acredita que ser embaixador é o próximo passo para melhorar nossa reputação no exterior.

Kai inclinou-se para frente, franzindo o cenho.

— Mas... e você? Tipo, ele encontra tempo pra você, ou ele só vive ocupado?

Yol desviou o olhar, mexendo as mãos nervosamente.

— Ele não tem muito tempo pra mim. Hoje é meu aniversário, e ele saiu cedo por causa de uma reunião importante. Acho que... é normal.

Kai bufou, balançando a cabeça.

— Normal? Cara, é seu aniversário. Ele é seu pai antes de ser presidente ou qualquer outra coisa. Isso não tá certo.

Yol deu de ombros, tentando esconder a mágoa.

— Eu já estou acostumado. Ele tem responsabilidades maiores. E, no fundo, acho que ele não se importa tanto assim comigo. Talvez porque eu não sou como ele.

Kai franziu o cenho, indignado.

— Que papo é esse, Yol? Você é incrível. Ele devia estar aqui, comemorando com você. Não é porque ele tem um trabalho importante que você deva ficar de lado.

Yol olhou para ele, surpreso com a firmeza de suas palavras.

— Obrigado, Kai. Acho que nunca ninguém me disse isso antes.

Kai deu de ombros, tentando parecer despreocupado.

— Relaxa, eu só tô dizendo a verdade. Se eu fosse seu pai, já tinha cancelado qualquer reunião só pra passar o dia com você. Mas... já que ele não tá aqui, eu vou cuidar disso. Vamos fazer esse dia valer a pena, beleza?

Yol sorriu pela primeira vez naquele dia.

— Beleza. O que você tem em mente?

Kai sorriu de volta, os olhos brilhando com uma ideia.

— Você vai ver. Mas primeiro, a gente vai precisar de um pouco de criatividade.

CONTINUA....

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