EU SOU SUA "FUGA" PREFERIDA

EU SOU SUA "FUGA" PREFERIDA

1.01

Yol, com seus 160 centímetros de altura, estava deitado no sofá da sala de estar, um espaço acolhedor, mas marcado por uma certa frieza causada pela ausência frequente dos pais. A decoração era moderna, com tons neutros, estantes de madeira escura e uma lareira apagada que parecia mais ornamental do que funcional. Almofadas macias em tons de vermelho e cinza estavam espalhadas pelo sofá onde ele repousava, tentando encontrar conforto em meio a seus pensamentos. A sala era banhada por uma luz dourada que entrava pelas janelas amplas, anunciando o fim da tarde.

Ele ergueu os olhos, mas sua visão limitada o obrigava a se esforçar para distinguir os objetos ao seu redor. Desde que nasceu ômega, Yol carregava uma condição rara: seu alto nível de feromônios havia afetado seu desenvolvimento ocular, restringindo sua visão a apenas 30%. Isso fazia com que o mundo à sua volta fosse uma mistura de formas nebulosas e contornos vagos. Era frustrante, mas ele já havia se acostumado a navegar por aquele emaranhado de sombras e luzes.

De repente, o som de uma chave girando na porta ecoou pela sala. Era Ju, a empregada da casa, voltando do mercado. Ela entrou com sacolas nas mãos, um leve sorriso no rosto cansado, e colocou os legumes sobre o balcão da cozinha americana.

— Yol, você está bem? — perguntou ela, sua voz carregando uma preocupação genuína. — Fui rapidinho no mercadinho buscar algumas coisas. Não demorei.

Yol se sentou lentamente no sofá, ajustando-se com cuidado.

— Cadê meus pais? — perguntou, a voz baixa, mas carregada de uma ponta de decepção. — Amanhã é meu aniversário, e eles ainda não voltaram de viagem. Nem sequer ligaram.

Ju suspirou, aproximando-se do jovem com um olhar compreensivo.

— Eles pediram desculpas, Yol. Surgiu uma reunião urgente. Seu pai Gusta e o Niel disseram que não conseguirão voltar hoje.

Antes que ela pudesse continuar, Yol a interrompeu com um tom de ironia:

— Já sei, Gusta não vem porque está tentando ser embaixador do país. E o Niel está com um caso que pode fazer ele virar promotor. Certo?

Ju assentiu com um leve pesar, sem saber como aliviar o sentimento de abandono que ele sentia. Yol se levantou lentamente, passando as mãos pelos móveis próximos para se orientar. Ele começou a caminhar em direção às escadas, tocando levemente as paredes para guiar seus passos.

— Deixa eu te ajudar a subir, Yol — ofereceu Ju, ao vê-lo se esforçando.

— Não precisa — respondeu firme, embora seu tom não fosse rude. — Amanhã eu faço 18 anos. Preciso aprender a me virar sozinho, já que meus pais nunca estão aqui para isso.

Ju ficou parada por um instante, observando o garoto. Ele parecia mais adulto do que deveria, carregando um peso que não combinava com a idade. Yol começou a subir os degraus, cada passo cuidadoso, até que o som da campainha quebrou o silêncio da casa. Ele parou no meio da escada, voltando-se parcialmente para Ju.

— Vai ver quem é — disse ele, enquanto se apoiava no corrimão.

Ju caminhou até a porta e olhou pelo olho mágico. Quando abriu, um ar de surpresa passou por seu rosto.

— É Fery — disse, voltando-se para Yol.

Fery era impressionante. Com 19 anos, 1,85m de altura e um físico impecável, ele carregava uma beleza que beirava o irreal. Seus cabelos eram perfeitamente alinhados, os olhos intensos e penetrantes pareciam refletir cada emoção que ele sentia. Ele não era apenas um alfa, mas um alfa recessivo — um nível acima de todos os outros alfas, uma raridade única no mundo. Sua genética perfeita, resultado direto dos pais igualmente extraordinários, havia criado alguém que era, literalmente, perfeito em tudo: aparência, intelecto, habilidades físicas e até mesmo seu DNA. Fery era famoso, conhecido em todo o mundo, e sua popularidade só crescia.

Quando Fery chegou à porta, ele sorriu com suavidade ao ver Ju. Ele era sempre muito educado e cavalheiro, tratando a todos com a maior consideração.

— Boa tarde, Ju — cumprimentou ele, com um sorriso caloroso. — Como você está? Como estão as coisas por aqui?

Ju sorriu, um pouco surpresa com a gentileza de Fery, e respondeu de forma tranquila.

— Ah, tudo bem, Fery. Estou só tentando dar conta de tudo, sabe? Mas não me queixo. Como você está? E o que trouxe para Yol?

Fery olhou brevemente para Yol, que estava parado no alto das escadas, tentando, mas sem sucesso, distinguir a imagem à sua frente.

— Estou bem, obrigado — respondeu ele, mantendo seu tom educado. — Eu vim só para ver como ele está esses dias. Yol, como você está? — Fery perguntou, subindo as escadas com passos elegantes. — Está tudo bem por aqui?

Yol, embora não conseguisse vê-lo claramente, reconheceu aquela presença inconfundível.

— O que você veio fazer aqui? — perguntou, tentando esconder o tom de surpresa misturado com satisfação.

Fery subiu mais um degrau, parando bem à sua frente.

— Eu vim ver você. Esqueceu que eu sou seu único amigo desde que você nasceu?

Yol sorriu levemente, balançando a cabeça.

— Verdade... E o que vamos fazer hoje?

Fery estendeu a mão para ele, um gesto cheio de carinho e lealdade.

— Vou ler aquele livro que você queria escutar. Você sempre diz que gosta da minha voz, então... Vamos?

Yol hesitou por um momento, mas logo assentiu.

— Vamos!

Fery subiu as escadas ao lado de Yol, guiando-o com cuidado até o quarto. Ele abriu a porta e a fechou suavemente atrás deles, trancando-a para que pudessem ter privacidade.

— Venha, Yol — disse Fery, com um tom calmo e reconfortante, enquanto se sentava na cama.

Yol hesitou por um momento, mas confiava em Fery mais do que em qualquer outra pessoa. Ele caminhou até a cama e sentou-se à frente dele, encostando suas costas contra o peito de Fery. Era um gesto de conforto e segurança, algo que os dois haviam feito muitas vezes antes.

Fery abriu o livro que havia trazido e começou a ler, sua voz suave preenchendo o quarto com as palavras da história. Yol fechou os olhos, permitindo-se ser envolvido por aquela sensação de tranquilidade que Fery proporcionava. Mas então, algo o deixou desconfortável. Ele se mexeu levemente, tentando entender o que estava acontecendo. Algum crescendo entre as pernas de fery.

Yol sentiu o rosto esquentar e tentou se levantar.

— Fery, eu acho melhor... acho melhor a gente parar por aqui — disse ele, desviando o olhar. — Eu não me sinto bem com isso.

Fery fechou o livro, surpreso, e inclinou-se para frente, colocando a mão gentilmente no ombro de Yol.

— Por que, Yol? O que aconteceu? — perguntou ele, com uma preocupação genuína.

Yol suspirou, lutando para encontrar as palavras certas.

— É que seu.. começou a crescer e sinto que isso é errado. Essa proximidade. Parece que está ultrapassando um limite.

Fery refletiu por um momento antes de responder.

— Não tem nada de errado, Yol. Somos amigos. E amigos também compartilham momentos próximos como esses. Se não quiser, eu entendo.

Yol hesitou, olhando para Fery, que mantinha uma expressão serena. Ele percebeu que Fery sempre respeitava os limites e que nunca forçaria nada. Isso trouxe um pouco de alívio.

— Está bem. Acho que só fiquei confuso por um momento — disse Yol, voltando a sentar-se, mas dessa vez fery puxou ele colocando para sentar no seu colo. Ele sentia aquele negócio crescendo deixando da sua...

Fery assentiu com um leve sorriso e reabriu o livro.

— Então, que tal continuarmos daqui? — sugeriu ele, voltando a ler.

Enquanto Fery lia calmamente para Yol, o som de batidas na porta ecoou pelo quarto.

— Yol, está tudo bem aí? — a voz de Ju chamou do outro lado. — Por que a porta está trancada?

Yol olhou para Fery, confuso.

— Vamos parar por aqui, Fery. Você trancou a porta? — perguntou ele, franzindo o cenho.

Fery parou de ler e inclinou a cabeça, como se só agora percebesse o que havia feito.

— Acho que sim. É um hábito meu, lá de casa. Desculpe, não pensei que fosse um problema — disse ele, levantando-se para destrancar a porta.

Quando Fery abriu, Ju entrou, cruzando os braços e lançando um olhar firme para os dois.

— Por que a porta estava trancada? — perguntou ela, com uma expressão severa. — Seus pais já disseram, Yol, que não querem portas trancadas nessa casa. Não importa o motivo.

Antes que Yol pudesse responder, Fery interveio, mantendo o tom calmo e educado de sempre.

— Desculpe, tia Ju. É realmente um hábito meu. Em casa, sempre tranco a porta por costume, e acabei esquecendo. Não quis causar nenhum problema.

Ju respirou fundo, balançando a cabeça.

— Tá ok, Fery. Mas, por favor, não faça isso de novo. Vamos lá para baixo agora, está na hora do jantar. Pode ir na frente. Tenho que conversar com Yol antes.

Fery assentiu e, com um sorriso gentil, desceu as escadas, deixando Ju e Yol sozinhos no quarto. Assim que ele saiu de vista, Ju se aproximou de Yol, abaixando-se para ficar na altura dele.

— Yol, já conversamos sobre isso antes. Seus pais não querem você passando tanto tempo com alfas, principalmente sozinho. E ainda mais com ele — disse Ju, num tom que misturava preocupação e advertência.

Yol franziu a testa, sentindo-se desconfortável com a conversa.

— Mas ele é meu amigo, Ju. O único que eu tenho — respondeu ele, a voz carregada de frustração.

Ju suspirou, colocando a mão no ombro dele.

— Eu entendo que você veja ele como um amigo, mas, escute bem: não existe amizade verdadeira entre um ômega e um alfa. Os instintos acabam sempre falando mais alto. E seus pais têm medo disso. Eles só querem proteger você.

Yol abaixou a cabeça, refletindo sobre o que Ju dizia, mas, no fundo, não queria acreditar. Fery era diferente, ele tinha certeza disso. Ele nunca o tratara como menos, nem aproveitara de sua condição de ômega.

— Eu sei que meus pais se preocupam, mas eu confio no Fery. Ele nunca faria nada para me machucar — insistiu Yol, com firmeza.

Ju suspirou novamente, mas decidiu não pressioná-lo mais naquele momento.

— Tudo bem, Yol. Só prometa que vai ter cuidado. Agora, vamos descer para o jantar. Fery deve estar nos esperando.

Yol assentiu e seguiu Ju escada abaixo, mas suas palavras ficaram martelando na mente dele. Será que Ju estava certa? Ou será que Fery era realmente a exceção?

CONTINUA....

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