1.16

Depois de algum tempo, o avô de Yol, que observava atentamente as movimentações dentro e fora do hospital, levantou-se de sua cadeira com sua bengala em mãos. Ele olhou em direção a Gusta, que estava sentado em silêncio, claramente tentando organizar seus pensamentos.

— Gusta, venha comigo — disse o velho, com firmeza.

Gusta levantou os olhos para o pai, confuso.

— Para onde? — perguntou ele, a voz ainda embargada pelo peso dos acontecimentos.

— Falar com a imprensa — respondeu o avô de Yol. — É hora de acalmar o caos lá fora. Você é o presidente deste país, mas, mais importante, é o pai de Yol. É isso que eles precisam ver agora.

Gusta hesitou, olhando para Niel, que apenas assentiu silenciosamente, encorajando-o.

— Certo... — disse Gusta, levantando-se. — Vamos.

Os dois caminharam juntos pelo corredor, acompanhados por dois seguranças, que abriram as portas do hospital. Do lado de fora, o caos era evidente: jornalistas, câmeras, e curiosos lotavam a área, tentando obter qualquer informação.

Assim que o avô de Yol apareceu na porta ao lado de Gusta, os flashes começaram a disparar, e as vozes dos repórteres se ergueram em uma cacofonia de perguntas.

— Senhor presidente, qual é o estado de saúde do seu filho?

— O que isso significa para sua família e seu futuro político?

— Há alguma mensagem para a população que acompanha este momento?

O avô ergueu a mão com autoridade, e o burburinho cessou quase imediatamente. Sua presença imponente parecia controlar o ambiente com facilidade. Ele olhou para Gusta e fez um gesto para que ele falasse primeiro.

Gusta respirou fundo e deu um passo à frente.

— Boa noite a todos. Antes de mais nada, gostaria de agradecer pelo apoio e pelas mensagens de solidariedade que minha família tem recebido. Sei que muitos estão preocupados com o estado do meu filho, Yol, e quero garantir a vocês que ele está sendo tratado pelos melhores médicos e está fora de risco.

Os repórteres continuaram em silêncio, capturando cada palavra.

— Este tem sido um momento muito difícil para minha família, e peço a todos paciência e compreensão enquanto focamos no que realmente importa: a recuperação do meu filho. Yol é forte, e estamos confiantes de que ele sairá desta ainda mais forte.

O avô de Yol deu um passo à frente, apoiando-se em sua bengala. Ele olhou para os jornalistas, sua expressão severa, mas firme.

— Quero reforçar o que meu filho disse. Yol é um garoto especial, e sua força já nos provou isso várias vezes. Este não é um momento de especulação ou julgamento. É um momento de apoio e união. O que minha família precisa agora é de privacidade e respeito para enfrentar esta situação.

Ele fez uma pausa, olhando diretamente para as câmeras.

— Agradecemos profundamente as mensagens de apoio vindas de líderes de todo o mundo e da população do nosso país. Isso mostra a solidariedade que une todos nós. Agora, pedimos que continuem torcendo por Yol e respeitem nosso espaço para que possamos cuidar dele como ele merece.

Os repórteres começaram a murmurar, mas o tom de respeito no ambiente era evidente. O avô de Yol olhou para Gusta e fez um sinal discreto, indicando que era hora de encerrar.

Gusta assentiu e finalizou:

— Obrigado por entenderem. Estamos todos confiantes na recuperação de Yol. Por favor, continuem mandando suas boas energias para ele.

Os dois recuaram lentamente, voltando para dentro do hospital enquanto os repórteres faziam anotações e as câmeras continuavam registrando cada momento.

Assim que as portas se fecharam, Gusta soltou um longo suspiro, como se estivesse liberando toda a tensão acumulada.

— Você fez bem, Gusta — disse o avô, colocando uma mão no ombro dele. — Agora, volte para dentro e continue sendo o pai que Yol precisa. Eu cuido do resto.

Gusta assentiu, sentindo-se um pouco mais leve, e voltou ao corredor onde Niel o esperava.

Yol estava deitado em sua cama, com os olhos cobertos pelo curativo da cirurgia. Ele não podia enxergar, mas os outros sentidos pareciam mais aguçados. O quarto estava silencioso, exceto pelo leve bip do monitor ao seu lado e o som da televisão que ele havia ligado para ouvir o plantão ao vivo.

A voz de um repórter soava distante, até que o tom mudou, indicando que alguém estava prestes a falar. Yol reconheceu a voz imediatamente. Era seu pai, Gusta. Ele parou de mexer os dedos no lençol, prestando atenção.

— Boa noite a todos. Antes de mais nada, gostaria de agradecer pelo apoio e pelas mensagens de solidariedade que minha família tem recebido. Sei que muitos estão preocupados com o estado do meu filho, Yol, e quero garantir a vocês que ele está sendo tratado pelos melhores médicos e está fora de risco.

Yol respirou fundo. Ele sabia que as palavras de seu pai eram para o público, mas havia algo nelas que parecia sincero. A voz de Gusta parecia mais trêmula do que ele se lembrava, quase vulnerável.

— Este tem sido um momento muito difícil para minha família, e peço a todos paciência e compreensão enquanto focamos no que realmente importa: a recuperação do meu filho. Yol é forte, e estamos confiantes de que ele sairá desta ainda mais forte.

Yol sentiu uma pontada no peito. Ele queria acreditar que seu pai estava realmente preocupado com ele, mas a mágoa ainda o segurava. Ele se virou levemente na cama, tentando encontrar uma posição mais confortável, mas continuou ouvindo.

A transmissão passou para a voz firme de seu avô, mas Yol não conseguiu se concentrar tanto. Sua mente estava presa nas palavras de Gusta. Quando a voz de seu pai voltou, ele inclinou a cabeça ligeiramente na direção da televisão, como se pudesse vê-lo.

— Quero deixar claro que este momento não é sobre política ou responsabilidades públicas. É sobre família. É sobre cuidar do que realmente importa. E para mim, nada é mais importante do que o meu filho, Yol.

As palavras ecoaram em sua mente. Ele apertou os lençóis com as mãos, tentando conter a onda de emoções que subia dentro dele. Lágrimas começaram a escorrer por baixo do curativo, mas ele não as limpou. Ele estava confuso, dividido entre acreditar e manter a barreira que havia construído para se proteger.

Quando o plantão acabou e o silêncio voltou ao quarto, Yol soltou um suspiro longo. Sua cabeça estava cheia de pensamentos, e ele não sabia o que sentir.

— Será que ele está falando sério... ou é só mais uma promessa vazia? — murmurou para si mesmo, sua voz quebrando no final.

Ele passou a mão levemente pelo curativo sobre os olhos, tentando se lembrar de como era olhar para o rosto de seu pai. Ele queria ver a expressão dele, saber se o que ouvira era verdade. Mas, por enquanto, ele estava preso na escuridão, tanto física quanto emocional.

No silêncio do quarto, Yol apenas respirava fundo, tentando processar tudo o que havia ouvido, enquanto seu coração lutava entre esperança e dor.

Enquanto Yol estava deitado, imerso em seus pensamentos, a porta do quarto abriu-se suavemente. A enfermeira entrou com uma bandeja de comida, equilibrando uma tigela de sopa quente e uma colher.

— Hora de comer, senhor Yol — disse ela, com um tom gentil, colocando a bandeja na mesa ao lado da cama.

Antes que a enfermeira pudesse começar a alimentá-lo, Niel entrou no quarto. Ele olhou para Yol e depois para a enfermeira.

— Com licença, posso alimentá-lo? — pediu Niel, com a voz calma.

A enfermeira hesitou por um momento, mas assentiu, entregando a tigela e a colher a Niel.

— Certo. Qualquer coisa, estou aqui fora — disse ela, saindo discretamente do quarto.

Niel sentou-se ao lado da cama de Yol, ajustando a tigela na mão. Ele pegou uma pequena quantidade de sopa com a colher e soprou levemente para esfriar antes de aproximá-la da boca de Yol.

— Aqui, abra a boca, meu príncipe — disse ele, com um tom carinhoso.

Yol hesitou, mas acabou obedecendo, tomando a primeira colherada de sopa.

— Sabe, quando você era pequeno, eu fazia isso o tempo todo — disse Niel, com um sorriso. — Você sempre tinha uma maneira peculiar de comer. Fazia caretas se a comida estivesse quente demais... ou fria demais.

Yol riu levemente, apesar de si mesmo.

— Eu fazia caretas? Não lembro disso.

Niel riu, pegando outra colherada de sopa e repetindo o gesto.

— Sim, fazia. E às vezes você se recusava a abrir a boca. Eu tinha que inventar histórias ou fingir que a colher era um avião para conseguir que você comesse.

Yol deixou escapar uma risada mais audível, relaxando um pouco.

— Sério? Eu era tão difícil assim?

— Você não tem ideia! — respondeu Niel, balançando a cabeça com uma risada suave. — Uma vez, você se escondeu debaixo da mesa para não comer legumes. Eu tive que rastejar até lá para te pegar.

Ambos riram, quebrando o clima pesado que havia pairado no quarto até então. Niel continuou a alimentá-lo, contando mais histórias sobre os primeiros anos de Yol.

— Eu me lembro de uma vez em que você estava tão animado com o aniversário do Gusta que tentou fazer um bolo sozinho. Acabou cobrindo a cozinha de farinha. Parecia uma tempestade de neve.

— Eu fiz isso mesmo? — perguntou Yol, entre risos.

— Fez. Mas você disse que era um "bolo do amor", então nem tive coragem de brigar com você — respondeu Niel, rindo também.

O momento descontraído trouxe um calor ao quarto que há muito tempo não existia. Niel terminou de dar a sopa a Yol e colocou a tigela vazia de lado.

— Obrigado, pai — disse Yol, com um pequeno sorriso. — Foi bom... lembrar dessas coisas.

Niel segurou a mão de Yol, apertando-a suavemente.

— Eu também precisava lembrar, meu príncipe. Obrigado por me deixar cuidar de você de novo, mesmo que por um momento.

CONTINUA...

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