O Portador das Sombras

Capítulo 18: O Portador das Sombras

A transformação de Mizum trouxe uma onda de silêncio sobre o grupo. Quando ele se levantou, seus olhos brilhavam com uma luz escura e pulsante, como se pequenos fragmentos de estrelas fossem engolidos por um vazio infinito. Seu corpo parecia o mesmo, mas havia algo nele que deixava o ar ao redor mais denso, mais frio.

"Mizum..." Lyra chamou seu nome com cautela, aproximando-se com hesitação.

"Eu estou bem," ele respondeu, mas sua voz parecia mais profunda, como se duas forças estivessem falando ao mesmo tempo.

Erya cruzou os braços, franzindo o cenho. "Você diz isso, mas... como podemos confiar que essa escuridão não vai dominá-lo?"

Mizum olhou para ela, um olhar cheio de tristeza e determinação. "Eu não sei. Mas o que eu sei é que essa foi a única forma de manter o equilíbrio e impedir que o Dark King voltasse agora. Eu aceitei esse fardo para que vocês não precisassem."

Kael colocou a mão no cabo de sua espada, a tensão evidente em seus músculos. "Se você perder o controle... nós vamos detê-lo. Você entende isso, não é?"

Mizum assentiu lentamente. "Entendo. Mas até lá, vou usar esse poder para lutar por Velandria."

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Enquanto o grupo deixava o Santuário da Escuridão, o ambiente ao redor parecia ter mudado. A névoa havia se dissipado, e o céu acima deles estava mais claro, embora ainda houvesse uma leve opressão no ar.

Tharion andava à frente, mas seu olhar estava frequentemente fixo em Mizum, como se estudasse cada movimento do jovem.

"Você tem perguntas," disse Mizum, quebrando o silêncio.

"Tenho," respondeu Tharion, sem virar-se. "O que você sente agora?"

Mizum refletiu por um momento. "Uma força imensa... mas também um peso. É como se algo dentro de mim estivesse esperando, tentando se expandir."

"Isso é a escuridão," disse Tharion. "Ela não é apenas poder; é uma entidade viva. Ela tentará influenciá-lo, usar suas emoções contra você. Sua vontade será testada como nunca antes."

"Eu não vou ceder," disse Mizum com firmeza.

"Espero que não," respondeu Tharion, embora sua voz carregasse uma sombra de dúvida.

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Durante a noite, o grupo montou acampamento em uma clareira na borda das Terras Sombrias. Apesar do terreno mais tranquilo, a tensão entre os companheiros era palpável.

Enquanto Dren afiava suas adagas e Erya revisava seus grimórios, Lyra sentou-se ao lado de Mizum.

"Você não está comendo," disse ela, oferecendo um pedaço de pão.

"Eu não sinto fome," respondeu ele, olhando para as mãos. "Desde que toquei a esfera, meu corpo parece... diferente. É como se eu não precisasse das mesmas coisas que antes."

Lyra olhou para ele, sua preocupação evidente. "Você ainda é você, Mizum. Não importa o que tenha acontecido, nós estamos com você."

Ele deu um sorriso fraco. "Obrigado, Lyra. Isso significa muito para mim."

Ela hesitou, como se quisesse dizer algo mais, mas acabou apenas apertando a mão dele antes de voltar para os outros.

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Mais tarde naquela noite, enquanto todos dormiam, Mizum permaneceu acordado. Ele sentia algo dentro dele, uma presença que parecia se mover nas sombras de sua mente.

"Mizum..."

A voz ecoou dentro de sua cabeça, baixa e sedutora. Ele se levantou, olhando ao redor, mas não viu ninguém.

"Você me chamou, e agora estou aqui," continuou a voz.

"Quem é você?" perguntou ele em voz alta, sua mão indo instintivamente para a espada.

"Eu sou a escuridão que agora habita dentro de você. O poder que você aceitou. Nós somos um agora, Mizum."

"Eu não pedi para ser consumido," disse ele, cerrando os punhos.

"Você pediu por poder, e eu respondi. Mas não se preocupe, eu não vim para destruí-lo. Pelo contrário, quero ajudá-lo."

Mizum hesitou. "Ajudar? Por quê?"

"Porque seu destino está intrinsecamente ligado ao meu. Se você cair, eu caio também. Velandria precisa de nós. Juntos, podemos derrotar qualquer inimigo."

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Quando a manhã chegou, Mizum não mencionou o que aconteceu. Em vez disso, ele se focou em continuar a jornada. Mas a cada passo, ele sentia a escuridão dentro de si crescendo, como se testasse os limites de seu controle.

A viagem para Eldoria foi rápida, e o grupo foi recebido com celebrações novamente. Mas desta vez, Mizum notou olhares de medo e desconfiança dirigidos a ele.

"Algo está errado," disse ele, enquanto caminhavam pela cidade.

Lyra assentiu. "Eles podem sentir. Sua conexão com a escuridão... isso os assusta."

"Que ótimo," disse Dren com um sorriso irônico. "Agora, além de heróis, somos alvos."

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No salão do trono, o rei de Velandria os recebeu com apreensão. Ele olhou para Mizum por um longo momento antes de falar.

"Você mudou," disse o rei.

"Eu fiz o que era necessário," respondeu Mizum, firme.

O rei assentiu, mas havia preocupação em seu olhar. "Espero que essa decisão não traga consequências para nosso povo."

Antes que Mizum pudesse responder, um mensageiro entrou correndo no salão.

"Majestade! Há problemas nas fronteiras ao norte! Criaturas sombrias estão atacando as vilas!"

O grupo trocou olhares.

"Isso não pode ser coincidência," disse Erya.

"Não é," disse Mizum. Ele sentiu a escuridão dentro de si reagir, como se reconhecesse algo familiar.

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Sem perder tempo, o grupo partiu para o norte, deixando as celebrações para trás. À medida que se aproximavam das vilas, o cheiro de cinzas e destruição enchia o ar.

As criaturas eram semelhantes às que enfrentaram nas Terras Sombrias, mas agora mais numerosas e organizadas.

"Isso é diferente," disse Kael, observando os movimentos coordenados dos monstros.

"Eles têm um líder," disse Mizum, sentindo uma conexão estranha com as criaturas.

De repente, um rugido ecoou, e uma figura emergiu das sombras. Era um guerreiro gigantesco, envolto em uma armadura negra e com olhos brilhando em vermelho.

"Mizum..." a figura chamou, sua voz reverberando com um tom profundo e ameaçador.

"Quem é você?" gritou Mizum, preparando sua espada.

"Eu sou aquele que veio para reivindicar o que você roubou," disse o guerreiro, apontando para ele. "A escuridão não pertence a você. Ela pertence a mim."

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A batalha foi intensa. Enquanto o grupo enfrentava as criaturas, Mizum confrontou o guerreiro diretamente. Cada golpe de espada era acompanhado por um choque de energia sombria que fazia o chão tremer.

"Você não entende o que está brincando," disse o guerreiro, enquanto atacava.

"Eu entendo o suficiente," respondeu Mizum, desviando e contra-atacando.

Mas a cada golpe, Mizum sentia a escuridão dentro dele crescendo, sussurrando em sua mente, oferecendo mais poder.

"Use-me," a voz insistia. "Juntos, podemos derrotá-lo."

Finalmente, em um momento de desespero, Mizum cedeu. Ele deixou a escuridão fluir por seu corpo, transformando sua espada em uma lâmina negra pulsante. Com um único golpe, ele desarmou o guerreiro, que caiu de joelhos.

"Isso não acabou," disse o guerreiro, antes de desaparecer em uma nuvem de fumaça.

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Após a batalha, o grupo olhou para Mizum com expressões mistas de alívio e preocupação.

"Você usou a escuridão," disse Lyra, com a voz tremendo.

"Eu tive que fazer isso," respondeu ele. "E funcionou."

"Mas a que custo?" perguntou Erya.

Mizum não respondeu. Ele sabia que cada vez que usasse esse poder, a linha entre ele e a escuridão ficaria mais tênue.

A guerra ainda não havia terminado, e o maior inimigo de Mizum talvez fosse ele mesmo.

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