Capítulo 4: O Guardião da Floresta
O amanhecer trouxe uma luz pálida para a floresta de Eldenwyn. A neblina que cobria o solo começava a dissipar-se, revelando a vegetação exuberante e as árvores imponentes. Mizum acordou com os sons da floresta – pássaros cantando, folhas sussurrando ao vento – mas, ao contrário do dia anterior, não sentia paz. O confronto com o lobo sombrio ainda estava fresco em sua mente, e ele sabia que desafios maiores estavam por vir.
"Hora de partir," disse Kael, jogando uma maçã para Mizum enquanto verificava sua espada.
Lyra já estava pronta, ajustando seu manto e segurando o cajado. Ela observava Mizum com um olhar encorajador. "Hoje cruzaremos a parte mais densa da floresta. Fique atento, Mizum. Este lugar tem uma história complicada."
"História complicada?" perguntou Mizum enquanto dava uma mordida na maçã.
Lyra assentiu. "Eldenwyn é antiga, muito antes dos humanos ou elfos povoarem Velandria. Dizem que espíritos ancestrais ainda vagam por aqui, guardando seus segredos."
"Espíritos?" Mizum engoliu seco.
Kael riu. "Não se preocupe com histórias antigas. Se encontrarmos alguma coisa, será algo bem mais mortal do que um espírito."
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A caminhada pelo coração da floresta foi ainda mais desafiadora do que Mizum imaginava. As árvores eram tão altas e densas que quase bloqueavam toda a luz do sol. O ar era pesado, e a sensação de estarem sendo observados era constante.
Enquanto avançavam, Mizum notou marcas estranhas nos troncos das árvores – símbolos antigos que ele não reconhecia.
"Esses símbolos..." ele começou, apontando para um dos troncos.
Lyra parou e analisou as marcas. "São runas de proteção. Alguém ou algo usou magia antiga para proteger esta parte da floresta. Devemos ser cautelosos."
"Proteção contra o quê?" perguntou Mizum, nervoso.
Kael deu de ombros. "Provavelmente contra coisas que não queremos encontrar."
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Conforme avançavam, a floresta parecia tornar-se mais viva. As folhas sussurravam, mesmo sem vento, e pequenos pontos de luz flutuavam entre as árvores, como vagalumes mágicos. Mizum sentia-se intrigado, mas também inquieto.
"Vocês estão vendo isso?" ele perguntou, apontando para as luzes.
"São wisps," respondeu Lyra. "Espíritos menores da floresta. Eles costumam ser inofensivos, mas não os siga, não importa o que aconteça."
Mizum assentiu, mantendo os olhos fixos nos pequenos espíritos enquanto caminhavam.
De repente, um som alto quebrou a tranquilidade. Era um rugido profundo, seguido pelo som de galhos quebrando.
"Preparem-se," disse Kael, puxando sua espada.
Mizum tentou invocar sua Chama Primordial, mas o medo fez suas mãos tremerem. Lyra colocou-se ao lado dele, pronta para proteger o grupo.
Das sombras, surgiu uma criatura imensa. Era um ser feito de madeira, pedra e musgo, com olhos brilhantes como esmeraldas. Sua forma era humanoide, mas grotesca e desproporcional, com galhos saindo de suas costas como espinhos.
"Um Guardião da Floresta," disse Lyra, sua voz carregada de tensão. "Eles só atacam se sentirem que a floresta está ameaçada."
"Bem, ele parece achar que somos uma ameaça!" gritou Kael, desviando de um golpe pesado da criatura, que quase o atingiu.
"Não podemos matá-lo," disse Lyra. "Os Guardiões são parte da essência da floresta. Precisamos acalmá-lo!"
"E como você sugere que façamos isso?" perguntou Kael, esquivando-se de outro ataque.
Mizum observava a batalha, o medo e a adrenalina misturados em seu peito. Ele fechou os olhos e tentou sentir a Chama Primordial dentro de si. A energia estava lá, como uma corrente quente e pulsante, esperando para ser usada.
"Lyra, você disse que a floresta tem espíritos, certo?" Mizum perguntou, tentando manter a calma.
"Sim, muitos," respondeu ela, desviando de um galho que a criatura havia arremessado.
"Talvez... eu possa usar minha magia para me conectar a eles," sugeriu Mizum.
Lyra olhou para ele, surpresa. "Isso é arriscado, mas pode funcionar. Concentre-se, Mizum. Ouça a floresta."
Mizum respirou fundo e se ajoelhou no chão, pressionando as mãos contra a terra. Ele tentou ignorar o caos ao seu redor – os rugidos do Guardião, os gritos de Kael e os feitiços de Lyra.
Ele sentiu o calor da Chama Primordial se espalhar por seu corpo, mas, desta vez, tentou usá-la de forma diferente. Em vez de atacar, ele a canalizou para a terra, tentando se conectar com a energia da floresta.
Por um momento, nada aconteceu. Mas então, Mizum sentiu algo – uma presença vasta e antiga, como se estivesse tocando a mente de algo muito maior do que ele.
"Guardião," ele disse, sua voz tremendo. "Não somos inimigos. Estamos apenas passando por seu território. Por favor, permita-nos continuar."
A criatura parou de atacar. Seus olhos verdes brilharam intensamente enquanto olhava diretamente para Mizum.
"Você ousa falar em nome da floresta?" a voz do Guardião ecoou, profunda e ressonante.
"Eu... só quero evitar mais destruição," disse Mizum, mantendo sua concentração.
Houve um longo silêncio antes que o Guardião recuasse, suas mãos enormes relaxando ao lado do corpo.
"Você carrega uma chama antiga," disse ele. "Uma chama que pode proteger ou destruir. Irei permitir sua passagem, mas lembre-se: a floresta está sempre observando."
Com essas palavras, a criatura se virou e desapareceu nas sombras.
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O grupo ficou em silêncio por um momento, processando o que acabara de acontecer. Kael foi o primeiro a falar.
"Bem, isso foi... interessante. Bom trabalho, garoto."
Mizum ainda estava ajoelhado, exausto. Lyra ajoelhou-se ao lado dele, colocando uma mão em seu ombro.
"Você fez algo extraordinário, Mizum. Conseguiu se conectar com a essência da floresta. Poucos poderiam ter feito isso."
"Eu... só pensei que lutar seria pior," disse ele, tentando sorrir.
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Depois de descansar um pouco, o grupo continuou a jornada. A floresta parecia menos opressiva agora, como se o encontro com o Guardião tivesse mudado algo.
"Então, Mizum," disse Kael enquanto caminhavam, "parece que você está começando a se tornar útil."
Mizum riu levemente. "Acho que sim. Mas ainda tenho muito a aprender."
"E aprenderá," disse Lyra. "Cada passo que você dá o aproxima de seu verdadeiro potencial."
Mizum olhou para o horizonte, onde as árvores começavam a diminuir, revelando uma paisagem ampla. Apesar de suas dúvidas e medos, ele sentia que estava mudando. Não era mais o jovem comum que havia sido transportado para aquele mundo. Ele estava se tornando algo mais.
O caminho para Eldoria ainda era longo, mas Mizum sabia que estava no caminho certo.
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Atualizado até capítulo 20
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