A bolacha

“Edu”

Clara parece em transe, será que ela lembrou? A primeira vez que viajei para fora do país, fui jogar com o time da escola, vi essa bolacha e comprei porque ia chegar bem no aniversário de Carol e estava escrito bolo de aniversário. Quando cheguei e entreguei, ela me disse:

“” Adorei meu bolo””

Esperei achando que talvez igual o dia na igreja Clara ia me falar a frase, mas não aconteceu, vi que gostou muito e está estranha parece longe, mas trarei ela de volta quero novas lembranças, Clara é outra mulher e muito linda, quero poder tocar seus cabelos platinados, e beijar seus lábios vermelhos sem tentar achar Carol em cada movimento de Clara.

-Vai me contar o que o senhor Mário te fez.

-Você está sabendo do acidente que aconteceu em uma das fazendas, com um trator?

-Sim, o motorista ficou ferido, mas cobrimos todas as despesas do hospital.

-Sim, mas ele entrou na justiça alegando que vocês ainda devem para ele.

-Eu ainda não estou sabendo, o que ele acha que devemos para ele?

-Foi esse o ponto, não sabemos e o senhor Mário já entrou com os papéis alegando que ele já recebeu tudo o que é devido, eu falei que deveríamos conversar com ele, ver o que está acontecendo, o porquê dele querer processar a firma.

-E Mário não achou necessário conversar.

-Me chamou de imatura e me mandou ir tomar meu leite, cheguei na sala falar com meu pai e me mandou voltar para o berçário.

Comecei a rir, porque agora fazendo beicinho parece mesmo uma criança, mas minha criança, ninguém falará assim com ela e ficará impune.

-Entendi, eles te chamaram de criança, princesa você sabe onde o rapaz mora?

-Não, o senhor Mário, não me deixou ver a ficha.

Liguei para a Maria.

-Maria vem aqui.

Fui até a porta e destranquei.

Maria entrou.

-Como chama o funcionário? Clara.

-Miguel Duarte.

-Maria, vá à sala dos advogados e peça tudo que diz respeito a Miguel Duarte e me traga.

-Sim, senhor.

-E Maria, fale para o Mário passar no RH e acertar as contas dele, não precisamos mais dos seus serviços.

-O senhor tem certeza disso? O senhor Mário trabalha na firma há muitos anos.

-Você quer ir com ele?

-Não, claro que não.

-Então faça o que mandei e não me questione a cada coisa que peço.

“Clara”

Fiquei sem saber o que dizer por um momento, Edu mandou o advogado embora por minha causa. Me defendeu e agora veremos os papéis do funcionário.

-Você não precisava ter mandado o senhor Mário embora, agora sua firma ficará sem assessoria jurídica.

-Temos uma sala cheia de advogados, ele não fará falta.

Eu não me aguentei, levantei, fui até ele e abracei. Ele ficou surpreso com minha atitude, mas logo se recuperou e me devolveu o abraço.

-Se eu soubesse que era só mandar aquele advogado embora que você me abraçaria, já tinha feito isso antes de te dar minhas bolachas importadas.

-Mas agora você já me deu e vou levá-las comigo.

Fiz um carinho na cabeça dela que me olhou, levou a mão e me acariciou o rosto.

 -Você é muito bonito. Ursinho.

Prendi minha respiração porque não sei se ouvi ou se realmente ela me chamou pelo apelido.

-Do que você me chamou? Por favor, não brinca comigo.

-De Ursinho, eu não sei por quê, mas acho que combina com você.

-Só não me chame assim em público, tirará minha fama de mau.

-Claro, em público é Drácula.

Começamos a rir do nada, e por nada, Clara já está trazendo minha alegria de volta.

Maria veio com os documentos e entregou para Edu, que colocou em cima da mesa, puxou a cadeira e sentou ao meu lado. Tomou um gole do cappuccino e levou a mão para pegar uma bolacha. Quebrei uma na boca e coloquei a outra metade na boca dele.

Virou e ficou me olhando, tocou meu rosto e me beijou com a bolacha na boca.

-Essa bolacha é uma delícia. Misturada com beijo então fica sem igual.

-Edu, você é muito bobo, é só uma bolacha.

-Então, o gosto que sinto é seu?

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