Voltando trabalhar

Comecei a rir da cara que meu pai fez, sei muito bem o tipo de castigo que minha mãe coloca nele, mas ele me acha inocente, e tem horas que gosto de ser a menininha do papai.

-Não sei que tipo de castigo justifica o senhor não falar o que pensa para mim, um dia ainda descubro.

-Filha, um dia você também colocará seu marido de castigo, mas enquanto esse dia não chega, não pense muito nesse assunto.

-Nunca vou me casar, papai, já imaginou o desespero das pessoas quando eu começar a chorar? Vão todos sair correndo com medo de morrerem afogados com minhas lágrimas.

-Faremos seu casamento em uma piscina, assim todos estarão de coletes e você poderá chorar um rio de lágrimas.

Abracei meu pai porque ele sempre tem uma solução para meus problemas, mesmo sendo uma solução louca.

-Minha menina, a única coisa que quero é ver você feliz, se for com Eduardo, fazer o quê? Terei que aceitar o Drácula como genro.

-Pai, nós só conversamos, por enquanto somos amigos.

-É o melhor jeito de começar um relacionamento duradouro, sendo amigos primeiro.

-Vamos trabalhar, o senhor está cheio de teorias hoje.

-Vamos, meu anjo.

Meu pai foi para a sala dele e eu fui para o escritório dos advogados. Aconteceu um acidente com um trator em uma das fazendas e o tratorista se feriu gravemente. A firma deu todo o apoio necessário, mas o rapaz entrou na justiça querendo uma indenização.

O advogado da firma nem perguntou o porquê, já entrou com recurso negando.

-O senhor não deveria tentar entender porque o rapaz está pedindo uma indenização?

-Sou advogado da firma e não tenho que ver se o rapaz está certo ou não, meu dever é defender meu patrão.

-Eu não concordo, acho que o rapaz deveria ser ouvido, se ele tiver razão, será feito um acordo.

-Você é só uma estagiária e ainda entenderá que idealismo é bonito, lá na faculdade, aqui é mundo real e agimos com a cabeça e não com o coração.

Eu não aceito, fiz o curso de direito para defender qualquer um que estivesse sendo prejudicado. Não vou abafar meu jeito de pensar por causa desse advogado que se acha o dono da razão. Falei para ele:

-Por favor, me dê o processo, quero dar uma lida e entender a sua posição e os motivos do rapaz.

-Você não tem que entender nada, vá tomar um leitinho e se acalme, criança, que tudo ficará bem.

Os outros advogados começaram a rir de mim, porque este velho me chamou de criança. Mostrarei para ele que posso ser uma criança perigosa. Virei e fui saindo.

-Pode me dizer para onde você vai?

-O senhor não me mandou ir tomar meu leite? Já estou indo, fique tranquilo que logo estarei de volta.

Saí e fui direto à sala de meu pai, mas quando o sangue me sobe na cabeça, eu perco o foco, cheguei e entrei sem bater, meu pai está com um comprador de vinho importante e me deu um olhar de aviso. Mas eu não consigo retroceder e continuo minha ação mesmo sabendo que dará errado. 

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