Capítulo 7

Annandy

Estou absorta em mim mesma olhando para a tela do meu computador a alguns minutos até que Leon chama por mim diversas vezes.

— O que é encosto? Não vê que estou trabalhando? — falo irritada.

— Diaba, o Victor quer falar com você e pelo tom dele precisa ser agora!

— Victor? Mas cadê o Kaique? Normalmente é o Kaique que analisa os finais dos meus livros! — confesso que esse final foi uma falha tentativa de mostrar para aquele babaca que ele está errado.

— Pela breve conversa que tivemos, tudo que se refere a você agora será resolvido por Victor e respondendo sua pergunta parece que Kaique está fazendo uma pequena viagem voltando apenas na segunda para a audiência de divórcio.

— Desgraçado! — grito e jogo meu abajur longe, as lágrimas saem e eu já nem sei porquê... Quero ser forte e inabalável.

— Eu sei que o momento é importuno, mas você precisa ir. Esse é o seu trabalho e não sua casa.

Leon fala e caminha até a porta abrindo-a, pego um lenço e seco meu rosto. Retoco minha maquiagem e vou até a sala de Victor que já me recebe com um elogio:

— Annandy, como sempre linda, elegante e perfumada. — ele me lança outro de seus olhares apaixonado e eu aproveito para deixar claro:

— Sei que está sabendo do meu divórcio, mas espero que esteja sabendo do meu casamento também... — puxo Leon pelo braço e obrigo ele a me abraçar.

— An, você nem sequer suporta seu assistente desde que foi imposto a você... Não entendo esse relacionamento relâmpago e esse casamento repentino. — a decepção veste ele como um manto.

— Acho que em alguns casos o amor nasce do ódio... Ele parece ser até mais forte quando nasce através do ódio. — Leon fala sorrindo para Victor.

— Não importa, essa conversa é profissional e não posso falar sobre sua vida pessoal. Vou ler para você a parte final do seu extenso último capítulo do livro "Amor entre Sabores".

Então ele começa:

"Ela olhou para ele com desprezo, sentindo o gosto amargo da decepção. Ele tinha mentido para ela, traído a sua confiança, destruído o seu amor. Ela não podia acreditar que tinha sido tão cega, tão ingênua, tão tola. Ele era um monstro, um covarde, um canalha.

— Como você pôde fazer isso comigo? — ela perguntou, com a voz embargada. — Como você pôde me enganar assim? Eu te dei tudo, eu te amei mais do que a mim mesma. E você... você jogou tudo fora por uma aventura barata, por uma ilusão.

Ele baixou a cabeça, sem coragem de encará-la. Ele sabia que tinha errado, que tinha sido egoísta, que tinha magoado a única pessoa que realmente se importava com ele. Ele não tinha uma explicação, uma justificativa, uma desculpa. Ele só tinha o seu arrependimento, o seu remorso, a sua culpa.

— Me perdoa, por favor — ele implorou, com a voz trêmula. — Eu sei que eu fui um idiota, que eu não te mereço, que eu não tenho o direito de pedir nada. Mas eu te amo, eu sempre te amei, eu nunca quis te perder.

Ela balançou a cabeça, com lágrimas nos olhos. Ela não podia perdoá-lo, não podia esquecer o que ele tinha feito, não podia confiar nele novamente. Ela não o amava mais, ela só sentia ódio, nojo, repulsa. Ela queria que ele sumisse da sua vida, que ele sofresse, que ele pagasse pelo seu erro.

— Não me peça perdão, não me diga que me ama, não me faça de boba — ela disse, com a voz firme. — Você não me ama, você nunca me amou, você só me usou. Você não sabe o que é amor, você só sabe o que é traição. Você não merece o meu perdão, você merece o meu desprezo. Você não é nada para mim, você é apenas um estranho.

Ela pegou a sua mala, que já estava pronta, e saiu pela porta, sem olhar para trás. Ela não queria mais vê-lo, ouvir a sua voz, sentir o seu cheiro. Ela queria começar uma nova vida, longe dele, longe daquele lugar, longe daquela dor. Ela sabia que seria difícil, que levaria tempo, que deixaria cicatrizes. Mas ela também sabia que era forte, que se curaria, que se libertaria. Ela não precisava dele, ela só precisava de si mesma.

Ele ficou parado, sem reação, vendo-a partir. Ele não tentou segurá-la, impedir a sua saída, convencê-la a ficar. Ele sabia que era tarde demais, que tinha perdido a sua chance, que tinha jogado fora o seu futuro. Ele sabia que era fraco, que se arrependeria, que se lamentaria. Ele não tinha mais nada, ele só tinha a si mesmo.

Fim."

— Sim, um final perfeito para um livro como esse! — falo olhando para minhas unhas.

— Perfeito, Annandy? Está de brincadeira? Quer se afundar de propósito? Não é esse final que seus leitores esperam para um livro maravilhoso que fala do doce amor que começou na infância dos dois. — Victor fala ao se levantar.

— Eu tentei falar com ela, Victor. Como seu revisor e assistente falei com ela sobre esse final... E não é só isso, ela está mudando os outros dois livros dela que estão pela metade separando os casais de protagonistas. — Leon me entrega.

— Seu fofoqueiro! Você também é meu noivo e deveria ficar ao meu lado!

— Eu ficaria, minha noiva... Se isso não afetasse a escritora maravilhosa que você é!

Victor olha atentamente para nós dois e depois diz:

— Leon, as duas semanas que me pediu para adiar o lançamento desse livro foram concedidas. Annandy tem duas semanas para modificar os 5 capítulos finais. Não quero tristeza, traição, roubo e insegurança nesse final ou esse livro não será lançado e seu último lançamento ficará sem o último livro da série "Doce amor".

Victor fala como o profissional que é, mas sinto que ele mal consegue olhar para Leon. Quando voltamos para minha sala olho furiosa para Leon e falo:

— Por sua culpa terei que quebrar a cabeça para pensar em cinco capítulos românticos em um momento que não quero pensar em romance.

— Annandy, se quiser posso até te ajudar, mas não posso permitir que seu livro que é incrível termine desse jeito horrível que vai manchar sua imagem.

Ficamos olhando um para o outro por um tempo e tive uma leve sensação de que houve algo entre nós.

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