Capítulo 19

Ricardo

Não queria que mais ninguém pisasse os pés naquele jardim, além de ser a pessoa contratada para estar cuidando dele. Saber que Evans esteve por lá, de fato não era ruim. Quanto a isso, iria conversar com ele.

O procurei pela casa assim que deixei meu escritório para tomar um gole de água. Duas das empregadas estavam conversando algo, ao que parecia era uma fofoca envolvendo Evans.

Nenhuma soube me responder, mas pude escutar leves passos vindo da outro lado da parede. Sou ótimo de audição, ouvia até os mínimos e pequenos ruídos em qualquer lugar.

— Se não me derem conta do Evans estão demitidas.

As duas empregadas fofoqueiras, que só serviam para falar merda no horário de serviço, me olharam com espanto.

— Mas senhor...

— Não tem senhor, agilizem! Tirem seus malditos pés do lugar.

Falei alto e grosso. Em fração de segundos, já se encontravam na porta de saída. Só tinha um lugar que Evans poderia estar nesse exato momento. Se ele escutou o que essas duas falaram, deve ter subido para o quarto.

Bati na porta, não queria ser insensível. Ela foi aberta por Evans, que tinha uma expressão pra baixo no rosto. O que aquelas bocudas falaram fizeram ele se sentir mal. Isso só me estimava a fazer algo.

— O que aquelas filhas da puta falaram?

Esperei por uma resposta me sentando no sofá em frente a cama dele. Evans quase não me olhava nos olhos.

— Nada não. Você está bravo comigo por ter entrado no jardim? Se eu soubesse que não era permitido, não teria ido.

Suspirei.

— Você está assim por medo deu estar zangado com você e acabar te batendo? Não farei isso, até por que você poderia sim ter ido. Eu disse que poderia fazer qualquer coisa nessa casa. Aquelas bocudas é que falam demais.

— Mas Ricardo, e sobre elas falarem que você está me tratando diferente dos outros endividados?

— Se deve ao fato de você se destacar ao contrário deles. Por mais que eu odeie admitir, você me chamou atenção desde quando ficou assustado ao ver minha arma dentro daquele carro.

Agora sim Evans começou a me encarar. Parecia surpreso e ao mesmo tempo tentando acreditar se era verdade. Levantei do sofá e me aproximei para perto dele.

— Se não acredita, algum dia você vai perceber. Agora saia de dentro desse quarto e se divirta no jardim. Se algo o incomodar me procure.

Ao me virar para sair do quarto, Evans segurou a ponta de minha camisa. Permaneci imóvel inclinando minha cabeça para saber o que era.

— Obrigado pelo que está fazendo.

— Eu não fiz nada Evans. Vai sair ou não desse quarto?

— Eu acho bom ficar aqui, a cama é confortável, tem a televisão para assistir...

Eu não gostava de vê-lo preso aqui dentro o tempo inteiro. Só me submetia a fazer algo.

Peguei Evans colocando ele deitado sobre o meu ombro.

— Ei Ricardo o que você tá fazendo?!

— Te tirando daqui ué.

Andei com ele nesse estado pela casa até chegar ao jardim. Tirei ele com delicadeza do meu ombro enquanto me jogava no gramado.

— Sabe, esse lugar foi o único que mais acabou com meu estresse.

Falei olhando para o céu que estava radiante pela tarde.

— Tem razão, lugares que apresentam elementos da natureza sempre são reconfortantes.

Me virei para ele que estava deitado, com o corpo inclinado em minha direção.

— Você tem lados bons Ricardo, eu gosto disso.

Ele corou o rosto um pouco. Minha mão nervosa tocou o rosto dele bem próximo a mim. Fui inclinando chegando meu rosto mais perto com vontade de beija-lo ali mesmo. Naquele lugar que me transmitia paz.

Mas por instante parei, minha ilusão sumiu e a consciência retornou. O que eu pensava estar fazendo quando ele deve me achar um escroto depois do que eu fiz.

— O que foi Ricardo?

Me levantei do gramado enquanto ele se sentou confuso.

— Isso não é uma boa ideia. Muito menos depois de como eu o tratei aquele dia.

Antes que eu saísse ele me chamou dizendo que eram águas passadas. Mas para mim não eram.

— Ricardo!

Voltei ao meu escritório e meti o pau nas últimas garrafas de tequila na instante. Estou de novo apaixonado pela mesma pessoa depois de ter machucado tanto ela. Tenho ódio de mim mesmo. Essa situação me enlouquecia.

Depois que se passou esse dia, fiquei preso mais outro dia em meus pensamentos. Tentando entender por que o destino queria tanto pregar peças em mim.

Consegui voltar ao normal fingindo que nada havia acontecido no jardim, Evans também fez o mesmo. Contudo não agia de uma maneira indiferente.

Havia chegado o dia do aniversário dele, mandei que preparassem um clube para festas. Tudo na mais alta decoração. Esse dia tinha que ser memorável. Evans estava um pouco triste, talvez se devia ao fato de ser o dia mais importante da sua vida e não receber um único feliz aniversário.

Mandei ele se arrumar dando a desculpa que fui convidado para um evento e precisava da companhia dele.

— Vai realmente precisar de mim nesse evento?

— Claro, disse que iria com uma pessoa importante.

Evans tornou corar o rosto mas aceitou ir comigo. Mal sabia ele o que esperava sua presença.

Momentos depois quando chegamos, ele estranhou não ter parcialmente ninguém. Mas quando viu aquele suposto amigo dele no dia do bar, colou na janela tentando acreditar.

Eu já sabia que ele era alguém especial para Evans, então mandei que o trazesse dizendo que era uma coisa haver com o amigo. E pelo visto, ele conseguiu arrancar um bom sorriso no rosto de Evans.

O mesmo saiu do carro as pressas em direção ao tal do Jonathan, olhando bem, aquele cara combinava com Evans, pois o tratava bem, são amigos desde muito tempo, ele não é envolvido em coisas perigosas, resumindo tudo era um ótimo companheiro para Evans.

— Não vai descer senhor?

O motorista questiona.

— Vou, apenas me desconcentrei um pouco.

Fui até eles. Jonathan me deu um notável aperto de mãos.

— Então Ricardo, cadê as pessoas? Não era para ser um evento?

— Um evento especialmente para você Evans. Feliz aniversário.

Tudo que havia sido cobrido pela grande cortina branca apareceu. Um brilho tomou conta do olhar de Evans que parecia não acreditar em nada. Era isso que eu pretendia, um dia memorável.

— Você que planejou tudo isso Ricardo?

Apenas balancei a cabeça.

Fui atacado por um abraço dele, sem reação demorei um pouco a corresponder o abraço.

— Muito obrigado, você foi capaz de comemorar meu aniversário. Sou muito grato por isso. Estou tão feliz que posso morrer.

— Morrer não, apenas viva o seu dia. Se precisar de algo estou logo ali naqueles bancos.

Olhei a figura alguns centímetros mais baixo que eu. Era alguém com uma beleza única, capaz de encantar qualquer um. E o mais que me fez apaixonar por essa pessoa foi o jeitinho dela. Tudo me encantou. Era gratificante o ver tão feliz agora por algo que eu fiz.

Me sentei no banco ao lado de Miguel que não parava de me encher o saco. Além disso tudo, tinha algo que eu deveria fazer. Se eu gostava de Evans, precisava liberta-lo da coisa que mais o fazia odiar.

— Sabe Rogério, vou liberta-lo dessa merda de dívida. Logo que são os pais dele verdadeiros culpados.

Miguel me olhava com espanto.

— Quem é você e o que fez com Ricardo Gusman.

— Para de me encher o saco, eu gosto dele, sempre gostei, não posso continuar assim. Tenho que dar o que ele quer, a liberdade. É isso o que fazemos quando gostamos de alguém.

— Você está certo Ricardo, desde o dia que reparei bem nele, é alguém que realmente merece ser livre dos fardos de alguém.

Era isso o que eu faria, Evans será livre de todas essas merdas. Quanto a mim, vou continuar vivendo com antes, mas sentindo uma pedra esmagar meu coração.

Depois de tantas felicidades em um só dia, retornamos a mansão. Evans não parava de sorrir. Tentei me manter feliz, mas saber que logo ele iria embora desse lugar vai me fazer retornar a tudo de antes.

— Me diverti tanto Ricardo, não teria sido possível sem você.

Consegui formular um sorriso.

— Você merece Evans.

Assim que chegamos, ele se trocou. Tirando as roupas formais e vestindo casuais. Foi me encontrar diretamente na sala onde eu tinha uma pasta com o contrato e uma nova folha, indicando que o endividado estava livre, e levaria uma quantia de 100 milhões como presente de aniversário. Certamente daria para ele viver uma vida feliz com tudo que desejasse.

— Por que me chamou aqui Ricardo?

Mandei que ele se sentasse logo a minha frente e entreguei a folha ao mesmo.

Rasguei a folha do contrato em sua frente dando a baixa na dívida.

— O que significa isso?

— Caro Evans, a partir de hoje você esta livre. Sua dívida já foi quitada, o que resta é apenas assinar esse novo contrato, que indica o fim da sua dívida e um bônus como presente. Não pense como se fosse dinheiro por pena, apenas meu presente de aniversário.

Ele me olhava incrédulo.

— Você está falando sério Ricardo?

Notei a felicidade em seu rosto.

— Eu não mentiria em algo tão sério. Felipe entrega a caneta para ele assinar.

Evans pegou a caneta e logo assinou o papel.

— A partir de hoje você tem a obrigação de seguir a sua vida e ser feliz.

Mandei que meus homens o levassem para o lugar que quisesse, eu não arriscaria deixar Evans ir embora sozinho. Agora só me restava viver como antes.

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Comments

Daniela Rodrigues

Daniela Rodrigues

agora deu dó uma doninha no coração. ele realmente ama o Evans.

2024-12-15

10

Clesiane Paulino

Clesiane Paulino

só quem ama de verdade... é capaz de deixar livre a pessoa amada... quando o amor é verdadeiro tudo que queremos é ver o outro feliz... 🥹🥹🥹🥹

2025-01-23

0

Ana Lúcia

Ana Lúcia

a pelo menos isso sabe que ele não te deve nada são os ordinários dos pais dele

2025-01-20

1

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