Capítulo 18

Evans

Confesso estranhar a forma que Ricardo estava me tratando desde aquela noite. Achei que ele iria jogar toda a culpa encima de mim e me tratar de forma rude, por ser um cara totalmente sem paciência.

Ele tem lados bons, posso admitir mesmo que sejam difíceis de serem notados. Ao invés deu estar dentro dessa mansão poderia estar preso em um lugar fedorento com ratos circulando por toda parte.

Estou começando a perceber que não é tão ruim assim ficar aqui, me esqueci até de quem foram as pessoas que fizeram isso comigo. A mudança de Ricardo me fazia bem, pois ele demonstrava uma certa mudança. Não sei o que aconteceu para ele ter virado da noite para o dia, só prefiro apenas o Ricardo de agora.

Limpei minha boca no guardanapo após a refeição, me sentia um pouco tímido em vir para um lugar tão chique quando nem estou vestido nos padrões. Coloquei a melhor roupa, ainda assim não sentia que estava deslumbrante o suficiente a ponto de ficar ao lado de Ricardo.

Andei observando que ele passou a mão por três vezes na cabeça e abaixou um pouco. Agora que eu me lembro, o mesmo ainda não tinha curado a ressaca da bebida. Devia estar com dor de cabeça.

Coloquei minha mão na testa de Ricardo. Ele me olhou surpreso perguntando o que era.

— O que foi? Algo errado?

Levantou uma das sobrancelhas.

— Você está com dor de cabeça né?

— Como sabe?

— Não é atoa que você bebeu e não para de passar a mão na cabeça desde algumas horas atrás.

Ele me encarou de forma curiosa, talvez se perguntando como notei o estado em que se encontrava.

— Você está certo.

Pegou o copo com água e tomou ainda me olhando.

— Eu já terminei minha refeição, se quiser ir embora agora a gente vai.

Dei minha sugestão.

— Não é necessário, iremos passar em uma loja. Você precisa comprar as roupas que gosta, todas as que você possui foram escolhidas pelos meus homens.

— Eu gosto das que eu tenho, não é necessário. Também tenho péssimo gosto de escolha.

— Então você que sabe o que é melhor. Vamos?

Não sei o que fizeram com esse homem, mais aos poucos estou me sentindo contente com essas migalhas. Pareço ser até alguém importante desde o momento em que ele fala comigo sem tanta severidade.

Como resultado da ressaca dele, voltamos para casa. Logo que eu não tinha ideia do que fazer fora, anos de tortura me fizeram esquecer o que é diversão. Nem o dinheiro era suficiente para ter minha própria vida.

Desde que chegamos, apenas quis ir para o quarto. O lugar que eu mais me familiarizei desde a chegada. Era calmo e relaxante. Ricardo me mandou ficar do jeito que eu queria, até estranhei o fato dele não falar sobre fugir.

— Ei Ricardo, posso fazer tudo mesmo?

— Contando que não coloque fogo na casa. Daria muito trabalho limpar depois.

Disse antes de caminhar e entrar por uma porta ao que parecia ser um escritório onde trabalhava.

Estou com problemas de compreensão ou realmente ele não falou nada sobre eu inventar de fugir? Será que ele ficou ciente de que minha vontade de ser livre era mais alta? Somente Ricardo poderia responder as minhas perguntas, mas ele nunca sonharia com elas.

Pois eu não iria abrir minha boca por nada. Mais antes calado do que ser punido por abrir em hora errada. Está tudo indo perfeitamente bem enquanto Ricardo não me maltratasse.

Queria fazer algo, nem sinto que tenho vida parado aqui. Apenas fazendo papel de cachorro esperando ordens do dono. Questionei a Felipe quais trabalhos eles faziam, e pela resposta era melhor eu nem ter perguntado.

Só coisas impossíveis para mim fazer. Dei um pulinho na cozinha, perguntei as empregadas se eu poderia fazer algo, então elas me recomendaram cuidar das flores no jardim. Mal sabia eu que nessa casa existia um lugar para flores. Julgando pela personalidade de Ricardo e o trabalho dele, mais provável ter apenas masmorras e salas de tortura. Já basta que toda a mansão é decorada de preto.

Convidei Felipe para ir comigo, talvez ajudava em algo.

— Como geralmente se meche nesse jardim?

Perguntei indo até uma mangueira próxima.

— Apenas ligue a mangueira e molhe as plantas.

— Quem fez o milagre de Ricardo ter um jardim?

— Era da mãe dele, desde que morreu Ricardo passou a deixar o jardim como uma forma de lembrar a memória dela.

Fiquei pensando na real história dele enquanto regava as plantas, o que aconteceu e os motivos que o levou a ser tão frio carregando uma áurea sombria a cada momento. Raramente vejo esse homem sorrir, não é possível que nada o tenha feito feliz nesses tempos.

O que me intrigava era o fato deu estar querendo saber sobre ele. Se a gente ainda estivesse no colegial eu não diria nada, pois foi a época que tudo começou. Mas agora tudo parece tão diferente, como se aquele tempo nunca existisse, pois Ricardo se tornou alguém irreconhecível aos meus olhos. Antes era apenas um garoto sendo feito de gato e sapato, e agora é todo temido por quem pisa em seu caminho.

— Não é fácil?

Prestei atenção no que Felipe disse.

— As vezes o senhor Ricardo molha elas, mas ultimamente contratou alguém para o serviço. Como essa pessoa não pôde vir hoje, você está assumindo um bom papel.

Não sei se me sentia feliz em estar fazendo algo de proveitoso, somando no pagamento da minha dívida. Seja lá no que for, se eu pensar em ser feliz até o pouco que for, minha condição deve ficar melhor. Poderei suportar tudo nessa vida.

Desde que terminei de molhar as flores, me senti um pouco mais leve. Amava ter contato com a natureza, transmitia uma sensação maravilhosa de bem estar. Se eu pudesse viver no meio do mato, seria a pessoa mais feliz desse mundo. Não me preocuparia com mais nada.

No instante em que eu passava pela sala, escutei algumas das empregadas conversando, me fazendo encostar bem perto o ouvido na parede.

— Esse cara é muito um folgado, vivendo como se fosse importante sem se submeter a nada e ainda tentar fugir por duas vezes, fazendo a confiança do nosso chefe ir para o pau.

— Também não gostei do que ele fez, o senhor Ricardo nem estava o maltratado quando ele pisou os pés aqui. Pelo contrário, o tratava como se fosse importante.

— Ha Margarida, pelo que eu saiba depois de muitos anos aqui, os endividados do chefe não duravam dois dias. Logo eram mortos na sala de tortura. Esse rapaz tinha muito era que agradecer por ser tratado tão bem.

Escorei na parede colocando uma das mãos na boca e outra no peito. Então ele estava me tratando de forma diferenciada dos antigos devedores?

— Sobre o que vocês duas estão fofocando?

Escutei a voz fria de Ricardo do outro lado da parede.

— Nada senhor.

Uma das empregadas, a que supostamente dava uma de invejosa em relação a mim, respondeu tremendo.

— Voltem ao trabalho de vocês. Cadê Evans?

— Ele estava molhando o jardim.

— Quem autorizou?

Pelo tom de voz, ele não estava nada calmo. Talvez não era para ninguém além dos designados molhar as flores e plantas.

Antes de escutar mais alguma coisa corri para o quarto, sem que ele percebessem eu estar do lado da parede escutando tudo que falavam. Não foi culpa minha, eu só queria fazer algo.

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Comments

Gabriela Fonseca

Gabriela Fonseca

Tadinho do Evans,essas empregadas ordinárias falando assim do meu bb.
Até eu tentaria fugir,quem é q gosta de ser sequestrado e forçado a pagar uma dívida q nem é sua.
😡😡😡

2024-12-14

10

Clesiane Paulino

Clesiane Paulino

tudo que o Evans fazer sempre vai sentir medo por achar que tá fazendo algo errado... é tão triste viver assim 🥺🥺🥺

2025-01-23

0

Anônima💜💖

Anônima💜💖

Cárcere privado não é uma maneira gentil de se tratar alguém

2025-02-02

0

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