Foi uma noite péssima.
Pesadelos e mais pesadelos. Acordava de cinco em cinco minutos, assustada e sobressaltada.
Eu só queria estar em casa.
Mas isso não ia acontecer, muito menos com papai deixando Conrad Herrera como meu cão de guarda.
Sortuda, não?
— Amelie? — ouvi duas batidas na porta, levemente, para então a carinha fofa de Clair aparecer, observando meu quarto.
— Oi, pequena! Bom dia. — respondi sorrindo para ela. Era óbvio que não tinha culpa de invadir minha casa sem ser convidada, isso era coisa do irmão dela.
— Conrad disse que você ia me levar ao ballet hoje. E que podíamos tomar sorvete ou assistir um filme.
— Ah, ele disse?
— É, eu disse.
Sorri com raiva para Conrad, que apareceu na porta com os braços cruzados e um sorriso galanteador.
— Você quer sair, não é? Então vá. Mas leve Clair ao ballet, cuide dela lá fora. Eu sei que você não teria coragem de fazer nada com ela por perto.
— Você não acha que confia demais em mim?
— Não, eu não acho. O endereço da escola de ballet está na mesa da sala, Clair vai esperar você lá enquanto se arruma.
Dito isso, ele estendeu a mão para a menina, que aceitou de bom grado e saiu com o irmão.
Era só o que me faltava. Além de estar sendo mantida presa, ainda teria que ser babá.
Mas antes isso do que passar o dia inteiro trancada aqui.
— Clair, você já decidiu? — perguntei pela terceira vez, enquanto a garotinha loira e pensativa ao meu lado olhava para os fast foods.
— Acho que quero McDonald’s mesmo, Amelie.
Após duas horas de aula de ballet, levei Clair comigo ao shopping, onde decidimos comer um lanche e comprar doces para levar para casa.
Casa.
Era tão estranho, após tanto tempo, reconsiderar aquele lugar como minha casa. Mesmo que eu tenha sido forçada a isso.
— Olha, podemos passar em alguma loja e comprar uns doces, pipoca… e assistir a um filme na minha casa amanhã. Topa?
— Sim!!!! — respondeu eufórica, mordendo o lanche novamente.
Acabei cedendo as batatas fritas de Clair, e após meia hora de comilança voltamos a andar pelo shopping, parando em frente a um pet shop, onde Clair paparicava os cachorrinhos.
— Amelie?
Gelei. Isso não estava acontecendo. Olhei em pânico para Clair e, em seguida, dei de cara com Christopher, me encarando sério. Provavelmente estava em horário de almoço.
Burra, burra, burra, Amelie!
Esqueci completamente que ele costumava vir a esse shopping todos os dias para almoçar.
— Clair, vem, vamos. — pedi, estendendo a mão para a menina, que estranhou a situação, mas obedeceu.
— Sem chance. Você está desaparecida há semanas, não sai daqui sem me dar uma explicação. Não esquece que posso te levar à força daqui também. Quem é a menina?
— Christopher, por favor. Sem show. Não te devo explicação nenhuma.
— Quem é a menina?
— Sou Clair Herrera. Não é um prazer. Eu quero ir embora, Amelie.
Olhei para Clair, desesperada. Se Christopher ligasse os pontos e descobrisse de quem ela era irmã, estávamos perdidas.
— Ela é minha prima. Estou na casa de uma tia minha, quero dar um tempo de tudo e todos. — menti.
— É pelo que aconteceu naquela noite? Amelie, por Deus…
— Christopher, eu tenho que ir, tá legal? Me deixa.
Puxei Clair para longe dali, quase correndo até o estacionamento.
— Ele seguiu você?
— Não. Eu me certifiquei disso.
Conrad andava de um lado para o outro na cozinha da minha casa, irritado. E eu não podia me dar ao luxo de rebater seu nervosismo.
Era minha culpa.
— Tá legal, você vai abrir um buraco no chão. E só para te lembrar, já estamos no subsolo.
— Se ele seguiu você, Amelie, já pensou? Aliás, você expôs minha irmã a isso. O que te passa na cabeça? Eu estava tentando tornar as coisas mais agradáveis para você. Mas você é uma fodida mesmo.
Maravilha. Como se já não bastasse o sufoco, o pitbull de papai começou a rosnar também.
— Tornar as coisas agradáveis? Deixa eu refrescar sua memória, seu filho da puta: eu fui OBRIGADA a estar aqui. Eu tinha uma vida, eu tinha um emprego… e fui OBRIGADA a estar novamente nessa merda toda que não pedi para fazer parte.
— Me poupe de suas crises de criança mimada agora, Amelie. Você errou feio, aceite.
Revirei os olhos. Não valia a pena prosseguir com isso. Conrad era um grande estúpido, e eu não iria me desgastar com ele.
— Foi você quem me mandou sair.
— Não irá se repetir.
Dito isso, ele saiu. Me joguei na cadeira da bancada da cozinha, sentindo o sangue pulsar no meu rosto.
Quem ele pensa que é?
Vou mostrar a Conrad Herrera quem é a fodida aqui.
Sorri para o espelho após fazer o último cacho do meu cabelo. Estava gigante, com cachos até a metade das costas. Vestia apenas lingerie preta rendada, meia-calça arrastão, saltos pretos e uma maquiagem marcada.
Peguei meu sobretudo, ouvindo o barulho dos saltos no quarto. Apaguei a luz, saindo e fechando a porta atrás de mim.
Fechei o único botão do grande sobretudo, subindo para o clube que ficava como faixada térrea da cede.
A fodida aqui iria se divertir.
O clube cheirava a sexo. A música sensual ecoava alto, e estava lotado. Eu sabia que muitos olhares estavam em mim, e não posso negar o quão maravilhoso era isso. Mas eu sabia também que o alvo ainda não havia sido atingido.
E ele seria.
— Uma cerveja, por favor.
Olhei em volta e dei de cara com Eduardo, me encarando, aproximando-se.
— Isso é lugar para você estar, dona?
— Querido, já ouviu a frase: “As meninas más vão aonde querem”?
— Certamente foi feita para você. Quem é o alvo? Ouvi murmurinhos de você e Conrad estarem em pé de guerra.
— Não ligaria para murmurinhos se fosse você. Não tem alvo. Vou apenas me divertir.
— E eu sou a Madonna.
Bebi um grande gole da minha cerveja, ignorando Eduardo e encarando o palco de stripper à minha frente.
— Apenas observe.
Subi no palco, pedindo para as mulheres saírem. Olhei ao redor, localizei o alvo e então mirei.
Soltei o sobretudo no chão, sorrindo, e me aproximei da barra de metal à minha frente. Maitê e eu, aos 18 anos, fizemos aulas de stripper. É uma dança diferente e julgada, mas ao mesmo tempo cativante e sensual. Eu sabia dançar, apesar de não ser profissional. Sabia exatamente o que fazer.
O clube caiu em silêncio absoluto, exceto pela música que começava a tocar.
Ao som de Stereo Love, dancei.
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Atualizado até capítulo 36
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