Ele iria se arrepender de me trazer de volta. – pensei, enquanto subia as escadas para o segundo andar da cede.
Eu conhecia muito bem aquele lugar e costumava passar muito tempo presa aqui, no segundo andar, com Maitê do que em qualquer outro. Ela sempre foi minha melhor amiga, cursamos biologia juntas, trabalhamos por um bom tempo nas análises da cede juntas também.
E ela deve me odiar.
Eu não só fui embora sem me despedir dela, eu também trai sua confiança ao sair da cede.
Encarei May pelo vidro do lado de fora da sala de analises. Ela estava com uma ruiva que eu não conhecia, e com Christian. Pensei em sair e ir embora dali mas já era tarde para isso. Ela tinha me visto. Andou até a janela para então fechar a cortina na minha cara. Bufei.
Alguém aqui realmente perdeu a noção do perigo.
- Fala Sério, Maitê. Que infantilidade. – falei irritada entrando na sala – Oi, para vocês.
- Infantilidade Anahí? Você quer falar sobre quem é infantil aqui? Te garanto que não sou eu. Não fui eu que fiquei rebelde e traí meu próprio pai. Meu próprio clã, e minha melhor amiga! Vamos lá, você é melhor do que isso, Anahí. – debochou
- Eu não traí ninguém, Perroni. Eu apenas me cansei de viver na porra de uma mentira. É isso o que aconteceu. E me desculpa se eu fiz você se sentir traída. Mais como minha Melhor amiga, você deveria querer e apoiar o que é melhor para mim.
- Melhor para você? E o que é melhor para você do que ficar com sua família, Anahi? Transar com um policial? Brincar de Detetive por um dia? Isso é patético.
Revirei os olhos sabendo que Maitê não iria abaixar a guarda. Eu queria abraçar ela e dizer como eu havia sentido saudades, mas eu também não sabia dar para trás. E então me virei para sair da sala bufando e a ouvi dizer:
- Isso mesmo, Foge. É o que melhor você sabe fazer.
Ignorei a vontade de socar a cara dela e as lágrimas que vieram em meus olhos. A gente nunca havia brigado, e agora que o fizemos eu sabia o que era estar chateada com a “língua inteligente” de Maitê.
Minha volta á cede estava ficando cada vez mais difícil, e o pior de tudo, é que agora eu nem ao menos terei a chance de ter algum apoio por aqui.
...
Me sentei no auditório que ficava em frente ao campo de treinamento. Haviam 20 soldados ali, treinando tiros, e o Chefe deles gritava ordens, Alfonso. Ele usava uma blusa preta com um colete aprova de balas por cima, estava com o rosto manchado de suor. Malditamente sexy. E ele era bom, mirou em três alvos e em ambos acertou em cheio. O maldito era bom. Muito bom.
- Ele é bom não é ? – virei para o lado para ver uma garotinha loira e magra de aparentemente 12 anos, entrando no auditório – Eu costumo dizer que ele é o melhor.
- Desculpe, quem é você?
- Ah, eu sou Clair. Clair Herrera. Irmã do Alfonso, ali. -respondeu apontando – Você é a filha do chefe que voltou não é? Anahí.
- Sou sim. É um prazer conhecer você Clair.
- Você está sozinha, Any? Posso te chamar assim? Anahí fica muito grande e parece que estou dando uma bronca.
Ela me fez rir, era tão simpática e doce. Tão diferente do estúpido de seu irmão.
- Estou sim, Clair. E pode me chamar de Any sim. Não tem problemas.
- Poxa Any, deve ser tão chato ficar sozinha. Bem por coincidência eu também estou, Então eu deixo você vir comigo comer pudim no refeitório. O que acha?
Olhei novamente para baixo encarando Alfonso que estava alheio a nossa presença ali. Qual seria a reação dele ao saber que virei “amiga” de sua irmãzinha?
- Eu acho perfeito! – respondi me levantando – Vamos? – perguntei estendendo a mão para ela que aceitou de bom grado.
_________
Clair não parava de falar, sobre ela, sobre o que ela gostava, sobre suas metas. Era agradável estar na companhia dela, ela era gentil e não deixava que eu me sentisse mal enquanto conversávamos. Ela idolatrava o irmão. Isso era nítido em cada palavra e olhar sobre ele.
- Hurum. – pigarreou - Atrapalho? - sorri ao ouvir a voz grossa atrás de mim
- Sim.
- Não. Any, não seja mal educada! – uma menina de 10 anos estava me dando bronca? Dá para acreditar?
Revirei os olhos quando Alfonso se sentou conosco na mesa e me encarou. Seu olhar era desconfiado e desafiador, seria assustador se não fosse tão engraçado.
- Sobre o que estavam conversando?
- Poncho, Eu estava contando para Any sobre o Toim. Eu disse para ela que ele é super dócil e engraçado.
- Clair, ele é um peixe.
- Não, ele é o MEU peixe. É diferente, Não é Any?
- Sim, sem dúvidas, meu amor. – respondi ainda mantendo o olhar de Alfonso
- Clair, Você pode ir pegar um pudim para mim? -pediu Alfonso cortando o contato visual para encarar a irmã
- Tudo bem. –
- Qual é o seu jogo, garota? – jogou assim que Clair saiu de nossas vistas
- Porque? Quer jogar comigo? – ronronei sorrindo maliciosamente
- Como posso jogar se não sei as regras?
- Sem regras. Essa é a graça querido. – me levantei ainda encarando ele, para sorrir debochadamente ao sair.
Eu disse que ele iria se arrepender por ter me trazido de volta, Vou fazer valer a pena minhas palavras.
....
Respirei fundo analisando meu novo celular. Obviamente, ele era severamente monitorado. Jogada na cama, pós banho, decidi ouvir alguma música, talvez isso conseguisse me tirar do tremendo tédio em que estava.
Acabei adormecendo ao som de the Smith.
- Anahí, acorda!! – ouvi quando algo fofo atingiu minha cabeça. Uma almofada.
Abri os olhos irritada
- O que você está fazendo no meu quarto?
- Seu pai pediu para que eu te avisasse que ele saiu, volta em três dias.
- E não dava para esperar para me contar isso amanhã de manhã? – perguntei irritada, enquanto me sentava na cama e tentava arrumar o cabelo que havia feito um belo conjunto de nó com meu fone.
- Não. Não dava.
Encarei Alfonso que me analisava visivelmente interessado, como um estalo lembrei que estava apenas com o short do pijama e meu sutiã de renda preta. Sorri para ele me inclinando para frente.
- Gosta do que está vendo?
- Nada que eu já não tenha visto.
- Então porque não para de olhar?
- Você é muito metida, já te disseram isso?
- Aí. Assim você me ofende. – zombei colocando a mão no peito fazendo Alfonso revirar os olhos.
E então, ele se joga aos meus pés.
Na minha cama.
Ao meu lado,
Despreocupadamente .
- O que você pensa que esta fazendo?
- Avaliando seu gosto musical. – respondeu pegando meu celular e arrancando os fones para ouvir as primeiras melodias da música Falling in love. – Mcfly? Até que não é tão ruim assim.
- Já viu? Seu enxerido. – perguntei puxando meu celular de sua mão – Agora, FORA!
Peguei meu travesseiro jogando nele, que com seu reflexo rápido não deixou que o acertasse.
- Você é chata mesmo, hein? Eu até ia sair, mais Clair dormiu e eu não tenho mais ninguém para encher o saco, A não ser você.
- Pobre Clair.
- Ela gosta de você.
- É eu sei. Tá irritado? – rebati docemente
Ele riu levantando e eu aproveitei a deixa para me deitar de lado na cama, ocupando espaço, e o fazendo revirar os olhos.
- Não. Porque você também gostou dela.
- Aí por favor, Alfonso. -zombei – Não me considera uma ameaça para ela? Eu era do FBI, não se esqueça.
- Anahí, Anahí ... – ele agachou ao meu lado para sussurrar bem perto de meu rosto – se você fosse uma ameaça para Clair, - respondeu segurando meu queixo- já estaria morta.
Mantive o contato visual, e ele me soltou sorrindo.
Canalha.
- Você não me conhece, Alfonso.
- Conheço o suficiente para saber que você não trairia sua família. Você pode ter ido embora, pode ter ameaçado a máfia e sido a vadia do policial Zinho, mais ainda sim, você não traiu ninguém daqui, a não ser a si mesma. Quer se convencer que é uma ameaça? A decisão é sua. Se você fosse tão perigosa, seu pai estaria morto, metade da máfia foragida e seu policial Zinho te comendo de quatro agora.
- Se insinuar que Sou uma vadia novamente, eu vou quebrar a sua cara. Quer que eu seja perigosa? Alfonso, é só pedir.
- Não vejo outro motivo para você ter ido embora se não por aquele Policial. Ele te tratava como um prêmio, um objeto que ele tinha e desfilava por aí. E você sabe disso. Eu estive de olho em você Anahí, mais do que possa imaginar.
- Então a coisa é seria. Deveria procurar um psiquiatra, seu maníaco.
Alfonso deu de ombros sorrindo o que me irritou ainda mais.
Levantei da cama ficando de pé em sua frente, e ele me encarava sorrindo debochadamente.
- Apesar que, se eu estivesse te comparando com uma vadia, poderia dizer que elas são bem melhores que você. O cara era um fodido frustrado, então certamente você não fazia tão bem.
- Sai do meu quarto. AGORA.
Alfonso aumenta o sorriso se aproximando de meu rosto, eu queria quebrar aqueles dentes, arrancar a força aquele maldito sorriso dali. Mas não posso deixar de negar que essa proximidade me afeta, apesar de me manter dura e impassível, ele estava tão perto, tão perto, que isso poderia ser considerado um beijo.
Não que eu queira isso.
E sussurrando em meu ouvido ele respondeu:
- Como quiser.
Ele se afasta levando meu senso de noção com ele.
Demônio maldito.
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Atualizado até capítulo 35
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