segredos do passado

Quando Liam voltou da viagem ao clã Sol, ele carregava dentro de si um peso desconhecido, uma mistura de inquietação e fascínio pelo que havia presenciado. A jornada despertara algo em seu interior – memórias ancestrais e uma conexão profunda que ele mal compreendia. Havia visto fenômenos místicos, como os Brix de luz, e tivera vislumbres de uma linhagem antiga e poderosa, que pareciam sussurrar verdades esquecidas dentro de sua mente. Agora, ele se sentia como se algo estivesse desperto, um fragmento de si que sempre esteve oculto, mas que, finalmente, rompera a superfície.

Ao chegar em casa, avistou sua avó no jardim. Ela estava ali, com a mesma calma de sempre, cantando uma antiga canção enquanto regava as plantas, mas havia algo na cena que lhe trouxe uma sensação de nostalgia e saudade de algo que ele nunca havia conhecido. Ele parou por um instante, sentindo uma pontada no peito ao ouvir a melodia familiar, que agora parecia carregada de significados ocultos. Seu coração acelerou, e ele percebeu que as perguntas que sempre evitara não poderiam mais ser deixadas de lado.

Respirando fundo, ele se aproximou e, com uma voz trêmula, interrompeu o canto da avó. -Vó... preciso saber. Quem eram meus pais? Quem sou eu de verdade?- A urgência em sua voz revelou mais do que ele planejava, e ele notou o leve espanto no olhar dela, como se aquele momento fosse aguardado há muito tempo, mas ainda assim trouxesse dor.

Ela o encarou em silêncio por um instante, e então algo em sua expressão mudou, como se finalmente estivesse pronta para compartilhar o segredo que guardara por anos. Com um suspiro, ela assentiu e começou a falar, revelando seu verdadeiro nome, Sasha, e o mundo do qual ambos faziam parte.

A avó de Liam começou a contar sua história, sua voz suave, mas cheia de uma nostalgia que parecia quase tangível.

Era um tempo de luz, harmonia e magia pura. Sasha, uma jovem de apenas 12 anos, vivia no reino Brix, um lugar onde a sincronia dos elementos e a conexão com o divino fluíam como o próprio ar. Filha de um dos conselheiros mais próximos do imperador Ghots, Sasha crescera cercada por um mundo de beleza e encantamento, onde o canto e a dança eram tão naturais quanto respirar.

Naquele dia, como tantos outros, seu pai se despediu com um sorriso no rosto. -Sasha, hoje você terá sua aula de dança nas nuvens. Não se atrase, estarei te esperando,- ele disse, e ela respondeu com entusiasmo, -Sim, papai!-

Com seus cabelos brancos como a neve e olhos de um roxo profundo e enigmático, Sasha já mostrava os sinais de sua linhagem mágica. Sua magia era especial, capaz de criar nuvens fofas e leves como travesseiros, onde crianças e até adultos podiam flutuar e brincar. O reino Brix era um lugar onde as habilidades de cada um floresciam em harmonia, e onde os dons individuais eram celebrados e respeitados.

Ao sair de casa, Sasha encontrou as ruas de cristal cheias de vida. Os habitantes do reino dançavam e cantavam, enchendo o ambiente de uma alegria pura e contagiante. Melodias suaves ecoavam ao longe, enquanto os Melodias – criaturas feitas de pura luz – sobrevoavam o céu, deixando um rastro de brilho atrás de si. Pássaros de luz acompanhavam o ritmo do vento, e pequenas criaturas de pedra, conhecidas como globems, esculpiam belas estruturas de cristal em homenagem à natureza e aos deuses.

Sasha caminhava pelas ruas com leveza, pulando e dançando, deixando-se envolver pela música ao redor. Cada passo era uma pequena celebração, cada respiração era uma conexão com a harmonia daquele lugar. Para ela, aquela felicidade parecia eterna, inabalável.

Assim que Sasha chegou à escola, ela encontrou um ambiente vibrante, cheio de estudantes ansiosos para aprender e desenvolver suas magias. Logo ao entrar, seus olhos se voltaram para uma garota um pouco encrenqueira que ela ainda não conhecia. Era Laim, uma jovem de cabelos longos e brancos como a neve, com olhos que pareciam refletir todas as cores do arco-íris. Havia uma intensidade em seu olhar que chamava atenção, e Sasha logo percebeu que Laim não era uma garota comum.

Além disso, aquele era o mesmo dia em que o príncipe, filho do imperador, também estava presente na escola. Ele era famoso por sua beleza e charme; todas as garotas pareciam suspirar por ele, até mesmo Sasha, que tinha uma leve queda pelo príncipe. Mas Laim era diferente – ela parecia detestá-lo, sempre o observando com uma expressão de desdém, o que intrigava Sasha.

Durante uma aula de magia, Sasha torcia secretamente para que o príncipe fosse seu parceiro, mas o destino lhe reservou uma surpresa: sua parceira seria Laim. A garota lançou-lhe um olhar desconfiado, mas Sasha, com um sorriso amigável, quebrou o silêncio.

-Você não acha o príncipe tão lindo?- perguntou Sasha, com uma pontada de empolgação.

Laim revirou os olhos, olhando para o príncipe de longe com indiferença. -Quem, aquele garoto? Ele não tem nada de interessante.

Surpresa, Sasha riu e balançou a cabeça. -Nossa, você realmente parece não gostar dele.

Laim suspirou e deu de ombros. -Não é que eu odeie, ele só… não faz o meu tipo.

Curiosa, Sasha decidiu mudar de assunto. -Ok, então me conta, qual é a sua magia?

A resposta de Laim a surpreendeu: -Eu não tenho magia.

Sasha soltou uma risadinha, achando que era uma piada. -Como assim, Laim? Todo mundo aqui tem magia!

Mas Laim manteve-se séria. -Nasci sem magia,- disse ela, com um toque de orgulho desafiador.

-Uau,- murmurou Sasha, um pouco confusa. -Acho que estamos destinadas a tirar zero na prova de magia, então.

Laim sorriu de lado. -Por que acha isso?

Sasha riu, apontando o óbvio. -Bem, se você não tem magia, como vamos fazer o que o professor pediu?

Laim lançou-lhe um olhar determinado. -Porque um dia, quando eu conseguir domar os quatro elementos da natureza, terei qualquer magia que quiser.

A convicção em suas palavras fez Sasha franzir a testa, surpresa com a confiança de Laim. -Essa garota deve ser louca,- pensou Sasha, imaginando como Laim, uma garota sem magia, poderia pensar em domar os poderosos elementos da natureza – forças que até os magos mais experientes temiam. -Eles são seres de poder incontrolável. Nem conseguimos chegar perto deles,- disse Sasha, ainda incrédula.

Nesse momento, um dos alunos se aproximou, com um sorriso debochado no rosto. -Laim, já está falando dessas coisas de novo? Por que não volta para o lixão de onde veio? Pessoas como você não deveriam estar aqui.

Antes que Laim pudesse responder, outra pessoa interveio. -Para com isso! O príncipe está olhando pra cá.

Laim ficou envergonhada ao perceber o olhar do príncipe sobre ela, com um sorriso intrigante no rosto. Por um momento, ela ficou confusa e, contrariada, pensou consigo mesma: -Como ele pode ser tão… fofo?- Mas, logo, balançou a cabeça, tentando afastar aquele pensamento estranho. -O que eu estou pensando?

Sasha lançou um olhar provocador para Laim e, com um sorriso travesso, disse: -Você gostou dele, confessa. Ele é bonito.

Laim corou ligeiramente, mas rapidamente desviou o olhar. -Do que você está falando, Sasha?

-Eu vi você olhando para o príncipe,- insistiu Sasha, rindo.

-Eu não estava olhando para ele!- Laim rebateu, tentando esconder a inquietação.

Sasha apenas riu mais. Mas, antes que pudesse provocar Laim novamente, a professora anunciou no final da aula: -Quero que vocês entreguem um trabalho sobre magia até o final de semana.- Ao ouvir isso, Sasha se virou para Laim, empolgada. -Será que posso ir à sua casa hoje, Laim? Podemos trabalhar juntas.

Laim hesitou por um momento antes de responder: -Eu… não tenho uma casa.

-Como assim?- perguntou Sasha, surpresa. -Então, onde você mora?

Laim deu de ombros. -Eu moro na floresta. Encontrei uma casinha abandonada quando saí do orfanato e comecei a viver lá.

Sasha sorriu. -Então você tem uma casa, mesmo que fosse abandonada! Podemos ir lá para fazer o trabalho, certo?

Laim concordou, e as duas seguiram em direção à floresta escura atrás da escola. À medida que entravam mais fundo, Sasha sentia um arrepio percorrer sua espinha. A floresta era densa e escura, com uma neblina espessa que tornava tudo ao redor misterioso e um tanto assustador. O ar era frio, e o silêncio parecia envolver tudo, exceto pelo som ocasional de folhas se movendo.

Finalmente, elas chegaram à casinha. Atrás dela, uma grande cachoeira de águas ferventes caía com um som constante e relaxante, e o lugar parecia quase mágico, como se estivesse em um mundo à parte. Laim olhou para Sasha com um sorriso tranquilo. -Vamos ficar aqui,- disse ela. -Agora, me mostre a sua magia, Sasha.

Sasha assentiu, estendendo as mãos para o céu. Pequenas nuvens começaram a se formar ao redor dela, macias e brilhantes, como se fossem feitas de puro algodão. Elas flutuaram ao redor de Sasha, criando uma dança delicada no ar. Laim observou, impressionada.

-Uau, Sasha… é incrível!- exclamou Laim.

Sasha riu, satisfeita com a reação da amiga. -Agora é a sua vez, Laim. Mostre-me sua magia.

Laim também riu, balançando a cabeça. -Eu te disse que não tenho magia.

-Como assim? Você acabou de pedir para que eu mostrasse a minha!- brincou Sasha.

Com um olhar misterioso, Laim disse: -Não é minha magia, mas algo que me foi dado.- E, ao dizer isso, algo extraordinário aconteceu. Um pássaro feito de vento surgiu, voando ao redor delas, enquanto um tatu, com o corpo formado de pedras e gemas brilhantes, saiu do chão. Um peixe de água começou a flutuar acima delas, nadando pelo ar como se fosse água, e uma salamandra de fogo rodeou Laim, emitindo um calor confortável.

Laim olhou para Sasha com sinceridade. -Sabe, ninguém consegue entrar nessa parte da floresta e sair dela. Ninguém chega até essa casa se eu não permitir. Esses seres, os elementos, me protegem.

Sasha a encarou, confusa e fascinada. -Por que você mencionou controlar os quatro elementos da natureza? É por causa deles?

Laim assentiu, seu rosto sério. -Sim. Se alguém descobrir quem eu realmente sou, eles vão tentar me usar. Eu não posso deixar isso acontecer.

Sasha ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras. -Mas… por que você está confiando em mim com isso? Por que você me mostrou os elementos?

Laim sorriu, um sorriso que exalava uma sinceridade pura. -Porque eu posso sentir a bondade no seu coração, Sasha. Entre todas as pessoas, você é a única em quem posso confiar.

As palavras de Laim tocaram Sasha profundamente. E, naquele momento, ela começou a sentir algo mudar dentro de si. Uma onda de energia percorreu seu corpo, e ela sentiu seu próprio poder crescer, como se estivesse se conectando com uma força antiga e profunda.

-O que é isso?- murmurou Sasha, espantada.

Laim riu suavemente. -Eles gostaram de você… assim como eu.

De repente, o peixe de água voou até uma das nuvens que Sasha havia criado, e gotas de chuva começaram a cair suavemente delas, transformando-se em uma linda dança de água e luz. Sasha assistia, maravilhada, enquanto os elementos brincavam ao seu redor, mostrando o poder e a harmonia que Laim possuía com eles. Para Sasha, aquele momento era mágico, uma visão de algo muito maior do que ela imaginara, e ela sentiu que uma amizade única estava nascendo entre elas, selada pelo segredo dos elementos

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CONTINUA...

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