doce desejo

O dia nasceu tranquilo, com o som suave dos pássaros e o farfalhar dos animais da fazendinha da avó de Liam. A luz do sol entrava pelas janelas, iluminando o ambiente com um brilho suave. Liam se espreguiçou, sentindo o conforto e a paz do lar, e se levantou, ainda com a mente envolta nas memórias da noite anterior.

Ele vestiu o uniforme do colégio e foi em direção à cozinha, atraído pelo cheiro de café fresco e pão recém-assado. Quando se aproximou, ouviu a voz de sua avó, doce e nostálgica, entoando uma canção que ela sempre cantava para ele quando ele era pequeno, especialmente nos dias em que o encontrava triste e chorando. A melodia era suave, carregada de amor e consolo, como um abraço através das palavras.

Ela não parou de cantar ao notar sua presença. Ao contrário, olhou para ele e continuou, o rosto iluminado por um sorriso caloroso. A letra tocava o coração de Liam, cada palavra trazendo lembranças de amor e segurança:

-Meu pequeno menino, não chore muito,

senão as lágrimas vão preencher a casa da vovó.

Deixe toda tristeza em uma caixa e viva a vida feliz a cantar.

Liam sentiu o calor das palavras envolvendo-o, aquecendo seu coração. Ele se aproximou dela, e, juntos, entoaram o último refrão, em uma sintonia que só o amor verdadeiro cria:

-O amor entre nós será maior que qualquer coisa nesse mundo.

Luz do meu coração, será o caminho para você continuar a viver. Para sempre.

Quando terminaram, a avó de Liam deu um sorriso doce, os olhos brilhando de alegria. -Vamos tomar um café, minha tangerina,- disse ela com sua voz suave e aconchegante.

Liam sorriu, sentindo-se reconfortado e amado. -Vamos sim, vovó.

Sentaram-se juntos à mesa, compartilhando o café da manhã, cada gesto e cada palavra uma demonstração silenciosa do amor que os unia. Naquele momento, tudo parecia certo, e o mundo lá fora, com suas ameaças e incertezas, parecia distante, incapaz de romper a paz daquela pequena cozinha.

Félix estava saindo de casa, preparado para enfrentar mais um dia no colégio, quando avistou sua irmã mais nova saindo de seu quarto. Ela era a caçula da família, e a relação entre eles era, no mínimo, complicada. Ela caminhava pelo corredor com uma postura altiva, envolta em uma aura de mistério e confiança que desafiava qualquer um ao seu redor.

Ao vê-lo, ela abriu um sorriso irônico e disse, com um tom de deboche: -Qual é, não vai falar comigo não? Sua irmãzinha mais nova está morrendo de saudades do irmãozinho.

Félix parou, lançando um olhar de fúria em sua direção, claramente irritado com a provocação. Mas isso parecia apenas diverti-la. Ela riu, jogando os cabelos para trás, enquanto continuava: -Ah, não me diga que você ainda está irritado com o que o papai falou ontem.- Seus lábios se curvaram em um sorriso afiado. -Você sabe, Félix, que se falhar dessa vez… vai perder o seu posto de imperador, né?.

Félix cerrou os punhos, o rosto tenso, sentindo a raiva pulsar dentro de si. Ele estava prestes a responder, mas, de longe, Jhox o chamou, desviando sua atenção. Ele lançou um último olhar de frustração para a irmã e virou-se para sair, ignorando-a.

Antes que ele pudesse se afastar completamente, ela falou novamente, desta vez em um tom que fez a estrutura da casa tremer levemente. -Acho melhor você manter sua promessa de não mexer com meus amigos no colégio, Félix… Ou eu mesma lhe matarei.

A voz dela carregava um poder sombrio, uma ameaça que ele sabia que ela era perfeitamente capaz de cumprir. Félix parou, erguendo a mão em um gesto de aquiescência, sem se virar para encará-la. -Tudo bem,- ele murmurou, o tom amargo, antes de continuar seu caminho.

Na entrada do colégio, Yellow e Maylem estavam de braços cruzados, observando o movimento dos alunos. Quando viram Liam descendo do ônibus, os rostos delas se iluminaram em sorrisos amplos. Elas acenaram animadamente, chamando-o de longe.

-Olha quem decidiu aparecer!- gritou Maylem, com uma risada leve, enquanto Liam se aproximava delas. -Ontem a gente ficou te esperando na porta da sala, e você desapareceu! Onde você estava, seu fujão?

Liam deu uma risada nervosa, coçando a nuca. -Ah… acabei indo pra casa mais cedo ontem. Foi um dia cansativo.

Yellow estreitou os olhos, fingindo desconfiança, mas com um sorriso divertido. -Ah, então é isso! Deu perdido na gente, né?- Ela riu e balançou a cabeça, como se estivesse brincando com a ideia de estar chateada. -A gente aqui te esperando e, de repente, você puff! Sumiu.

-Ei, foi mal mesmo!- Liam disse, rindo junto, agora mais à vontade.

-Bom, só pra você saber,- continuou Yellow, com um brilho animado nos olhos, -logo depois que você foi embora, aconteceu uma coisa mágica. Do nada, começaram a aparecer pássaros de luz por todo o colégio. Foi tão lindo! Parecia um sonho.

-É sério?- Liam tentou disfarçar o nervosismo, mas a curiosidade no olhar das amigas fez com que ele entrasse no clima. -Nossa, então eu perdi o espetáculo?

Maylem assentiu, fingindo drama. -Pois é, menino! Você perdeu a chance de ver a escola inteira coberta por aqueles pássaros de luz… foi como se a gente estivesse em outro mundo.

Yellow olhou para ele, conspiradora. -E sabe, dizem que isso pode estar ligado a uma lenda antiga de um clã que tinha o poder de invocar essas criaturas. Um clã que, teoricamente, foi extinto.

-Ah, claro,- Liam respondeu, rindo. -Porque lendas sempre acontecem no meu colégio, né?

As três riram, o momento ficando mais descontraído, até que Liam notou outra garota ao lado delas. Ela era imponente, com uma postura elegante e um ar de mistério. Antes que ele pudesse perguntar, ela se adiantou, estendendo a mão com um sorriso que misturava confiança e sutileza.

-Eu sou Sofhax, do clã Fomeger. Filha do imperador,- disse ela, com um tom que era ao mesmo tempo amigável e cheio de autoridade.

Liam ficou momentaneamente sem palavras, os olhos arregalados. -Filha… do imperador?- ele gaguejou, olhando de Sofhax para as amigas.

Yellow riu, dando um leve tapa no braço dele. -Calma, Liam! Ela é nossa amiga. Sofhax é meio que… o nosso escudo aqui no colégio. Com ela, ninguém mexe com a gente.

Sofhax sorriu, seus olhos fixos em Liam. -Exatamente. Você está seguro com a gente, Liam. Prometo que, enquanto estiver com o grupo, ninguém vai te incomodar.

Liam respirou aliviado, e Maylem, percebendo a tensão dele, deu uma risada leve. -Relaxa, vai. A gente tá aqui pra aproveitar o dia, não pra ficar com medo. Confia na gente.

Liam sorriu, finalmente relaxando de verdade. -Tudo bem. Mas… a gente tá esperando aquele tal de felix, não tá?

Sofhax ergueu uma sobrancelha e soltou uma risadinha. -Ele? Nem precisamos dele agora. Ele que fique pra trás se quiser.- Ela deu de ombros, como se a presença de felix fosse irrelevante.

Maylem deu um leve empurrão em Liam, rindo. -Vem logo, Liam! Vamos curtir o dia sem se preocupar com os outros. E quem sabe? Talvez mais pássaros de luz apareçam só pra você.

Liam deu uma risada e assentiu. -Tá bom, tá bom, tô dentro!

Com risadas e conversas animadas, os quatro entraram juntos no colégio, o clima leve e cheio de camaradagem, como se nada pudesse quebrar aquele laço que começava a se formar entre eles.

No refeitório, após as aulas, Félix estava sentado com Jhox e os sete melhores soldados escolhidos por seu pai. A mesa deles estava separada das demais, uma posição estratégica que permitia a Félix observar todos os alunos com uma presença autoritária e intimidante. Os outros alunos mantinham distância, cientes de que aquele grupo exalava poder e perigo.

Jhox, distraído, observava o refeitório até que seus olhos pousaram em uma mesa próxima. Lá estava Sofhax, a irmã de Félix, conversando alegremente com dois amigos. Um deles era um garoto de cabelos laranja vibrantes, que ria despreocupadamente, e a visão dele capturou a atenção de Jhox.

-Ei, Félix,- Jhox murmurou, inclinando-se para seu primo com um olhar intrigado. -Quem é aquele garoto fofo ali? Sentado na mesa da sua irmã?- Ele sorriu de lado, com um brilho de interesse nos olhos. -Ele faz bem meu tipo.

Félix seguiu o olhar de Jhox e viu Liam, rindo ao lado de Sofhax e seus amigos. O rosto de Félix se fechou, a fúria começando a borbulhar em seu interior. -É o garoto de ontem,- disse ele com um tom duro.

Jhox franziu a testa, confuso. -Que garoto de ontem? Félix, ontem a única pessoa que eu vi foi você. Depois da nossa briga, você me levou até a enfermaria e… mais nada.- Ele riu, tentando entender. -Como assim ‘o garoto de ontem’? Que história é essa?

Félix o encarou, perplexo. -Jhox, você não lembra dele? Você bateu nele ontem. Ele chegou gemendo de dor na minha sala depois de tudo o que você fez!-

Jhox balançou a cabeça, ainda mais confuso. -O quê? Eu? Não, Félix, eu não fiz isso. Eu jamais bateria em alguém tão… lindo e doce como ele,- ele disse, com um tom quase sonhador, os olhos voltados para Liam.

Félix ficou imóvel, sua mente tentando processar o que estava acontecendo. Como assim Jhox não se lembrava? Ele estava lá, Félix o vira arrastando Liam pelos corredores, espancando-o sem piedade. Mas agora, Jhox parecia genuinamente confuso, como se aquelas memórias simplesmente não existissem. Algo estava errado.

Félix cerrou os punhos, sentindo a raiva crescendo ainda mais. -O que diabos está acontecendo aqui?- murmurou para si mesmo, suas mãos tremendo de frustração. -E ainda por cima… ele é amigo da Sofhax. Não posso fazer nada contra ele, não com esse maldito acordo.- Félix soltou um suspiro pesado, cheio de raiva contida.

Sem conseguir suportar mais, ele se levantou abruptamente, o barulho da cadeira arrastando chamando a atenção de todos ao redor. Ele começou a sair do refeitório, tentando acalmar a tempestade em sua mente, quando, de repente, na saída, esbarrou com Liam, que também estava saindo.

Liam olhou para cima, surpreso ao encontrar Félix tão de perto. Seus olhos se encontraram por um momento, e Félix sentiu um misto de raiva e confusão ao encarar o garoto que, de alguma forma, parecia ser a fonte de todas essas emoções turbulentas.

CONTINUA....

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