Quando Liam chegou em casa, sentiu um alívio imediato ao ver a pequena cabana no meio da floresta, longe de toda a agitação e do julgamento que enfrentava na cidade. A cabana era humilde, mas para ele, aquele lugar era seu verdadeiro refúgio, onde encontrava o amor e o cuidado que lhe eram negados no mundo exterior.
Sua avó o acolhera desde pequeno, após a morte trágica de seu pai, que havia dado a vida para proteger sua mãe dos inimigos. Mas a própria avó de Liam também pagara um preço alto. Ela havia sido uma mulher poderosa, uma vez conectada à magia do clã, mas, para mantê-la sob controle, o clã cortara seus cabelos, privando-a de sua conexão com a magia e deixando-a viver sem o poder que antes fazia parte de sua essência.
Ao abrir a porta, Liam encontrou sua avó em frente ao fogão, preparando o jantar. Seus cabelos, agora curtos e desgastados, lembravam a dor e o sacrifício que ela havia feito para protegê-lo. Ela estava concentrada na comida, mexendo os ingredientes com cuidado, como se cada refeição fosse um presente especial para ele. Liam sentiu as lágrimas se acumularem em seus olhos ao observá-la, uma mistura de gratidão e dor se formando em seu coração.
Percebendo sua presença, a avó se virou, e seus olhos brilharam com alegria ao vê-lo.
-Oh, minha pequena tangerina chegou!- ela disse com a voz suave, um sorriso carinhoso em seu rosto. Liam tentou sorrir, escondendo a tristeza que sentia. -Sim, vovó, sua tangerina chegou.
Ela riu levemente, secando as mãos no avental antes de se aproximar. -E então, como foi o primeiro dia no novo colégio?- Ela olhou-o nos olhos, percebendo rapidamente as marcas de lágrimas em seu rosto. -Você estava chorando, meu pequeno? Aconteceu alguma coisa?
Liam hesitou, sentindo o peso da preocupação em seu olhar. Ele sabia o quanto ela já havia sacrificado por ele e não queria aumentar suas preocupações. Com um sorriso trêmulo, ele respondeu: -Eu… só estava com saudades de você, vovó. Só isso.
A avó sorriu, embora seus olhos refletissem um leve desconforto, como se ela pudesse sentir que algo não estava certo. -Bom, vá se trocar então, querido, e depois venha me ajudar com o jantar.
Liam assentiu e foi para o quarto. Assim que fechou a porta, a máscara que usara desmoronou. Ele se encostou na parede e deixou que as lágrimas finalmente caíssem, abafando os soluços enquanto a dor e a angústia do dia o consumiam. Tudo o que havia enfrentado, as humilhações, as ameaças, o peso de um destino que ele mal compreendia… tudo isso vinha à tona.
Do outro lado da porta, sua avó ouviu os sons abafados de seu sofrimento. Com o coração apertado, ela se aproximou, colocando uma mão gentil na madeira da porta, como se pudesse transmitir seu amor e consolo através dela.
-Meu pequeno,- ela murmurou, a voz cheia de ternura e compreensão. -A vovó está tão feliz por você… por finalmente ter a coragem de enfrentar seus medos. Mas você não precisa carregar essa dor sozinho. Conte para a vovó o que está doendo. Deixe-me ajudar com essa dor.
Liam ouviu a voz da avó e sentiu o coração se aquecer com o amor e o conforto que ela oferecia. Mas, por mais que quisesse abrir-se, a vergonha e o medo o impediram. Ele permaneceu em silêncio, tentando sufocar os soluços, enquanto a presença de sua avó do outro lado da porta lhe lembrava que, apesar de tudo, ele não estava completamente sozinho.
O território do clã Fomeger era uma visão imponente e ao mesmo tempo assustadora, uma cidade de proporções épicas que se erguia como um reino de sombras e fogo. As casas, enormes e imponentes, pareciam castelos antigos, com pedras negras e torres altas que rasgavam o céu. Cada construção parecia mais grandiosa que a anterior, irradiando uma aura de poder e dominância. No centro do local, um rio cortava o terreno, suas águas escuras refletindo a luz inquietante que vinha das janelas e portas das mansões, onde chamas bruxuleavam, como se cada residência tivesse seu próprio fogo eterno.
As árvores que ladeavam o rio eram de folhas vermelhas, como se tivessem absorvido o próprio sangue das lendas que cercavam o clã Fomeger. Seus galhos se entrelaçavam no ar, formando sombras estranhas e sinistras sobre as casas. Havia algo no ar que parecia vivo, um temor quase palpável que se infiltrava em cada rua e esquina. As pessoas que caminhavam pelas ruas andavam com a cabeça baixa, os olhos evitavam encarar as construções, como se temessem atrair o olhar dos que habitavam aquelas fortalezas de pedra e fogo.
Félix entrou no centro da cidade em seu carro, acompanhado de seu primo, e o veículo avançava lentamente, cortando o silêncio pesado que dominava o ambiente. As pessoas nas calçadas pararam ao ver o carro passar, suas expressões de medo e respeito se transformando em um gesto de reverência, cada um baixando a cabeça em uma saudação silenciosa. Era como se a simples passagem de Félix fosse suficiente para trazer à tona o temor que cada habitante daquele lugar carregava no coração.
O carro seguia em direção à maior de todas as mansões, localizada no centro da cidade. A construção, de um negro profundo, destacava-se com suas torres ainda mais altas e suas paredes enfeitadas com brasões antigos do clã Fomeger. Chamas saíam das janelas e dos brasões como se fossem parte da própria estrutura, uma extensão viva da mansão. Era uma fortaleza imponente, quase intimidante, que fazia com que até as grandes casas ao redor parecessem menores e insignificantes.
Ao se aproximar da mansão, Félix olhou para a construção com uma expressão fria, enquanto seu primo, sentado ao seu lado, permanecia em silêncio. A grande mansão não era apenas uma casa – era um símbolo de poder absoluto, uma lembrança constante de que o clã Fomeger governava aquele território com autoridade inquestionável.
Félix caminhava pelo corredor imponente da mansão, cada passo ressoando como um eco sombrio no piso de pedra. Ele sentia o peso das paredes ao seu redor, cada centímetro daquele lugar transpirando poder e controle absoluto. O salão do imperador, seu pai, era o ponto culminante de toda essa grandeza, um espaço vasto e ornamentado com brasões e símbolos antigos do clã Fomeger. Naquele ambiente, o ar parecia denso, carregado de um respeito sombrio e de uma obediência inquestionável.
Ao entrar no salão, Félix encontrou o lugar lotado com conselheiros, todos posicionados ao redor de seu pai. Jhox, seu primo, se deteve na entrada, enquanto Félix avançou em direção ao trono onde o imperador estava sentado. O semblante de seu pai era severo, com uma expressão sóbria e rígida que não permitia dúvidas sobre a gravidade do momento.
Félix se aproximou e permaneceu em silêncio, esperando que o imperador se pronunciasse. O olhar de seu pai era afiado, quase cortante, enquanto ele observava o filho com uma intensidade fria. Finalmente, ele falou, a voz ecoando com autoridade.
-Eu sou o imperador deste mundo, e não admito que meu próprio filho tenha a audácia de me deixar sem respostas. Diga-me, Félix, o que aconteceu no colégio hoje.
Félix hesitou, mas antes que pudesse responder, o imperador levantou a mão em um gesto brusco, e uma bola de fogo surgiu em sua palma. Ele lançou o projétil diretamente contra Félix, mas, surpreendentemente, a chama não causou dano algum ao filho, dissipando-se como uma onda de calor ao tocá-lo.
-Papai… eu também não sei o que aconteceu,- começou Félix, a voz cheia de uma cautela respeitosa. -Quando estava com Jhox na enfermaria, algo estranho aconteceu… pássaros de luz surgiram, sobrevoando o colégio inteiro. Eles estavam em toda parte, e não fazíamos ideia de quem ou o quê estava invocando aquilo.
O imperador estreitou os olhos, absorvendo as palavras de Félix. Ele fez um gesto para Jhox, que se aproximou e confirmou a história do primo com um aceno, reforçando a estranheza da situação. A expressão do imperador ficou ainda mais sombria, e ele olhou em volta, fixando o olhar nos conselheiros à sua volta, cada um deles aguardando com ansiedade o veredito de seu líder.
Um silêncio pesado se instaurou no salão, até que o imperador declarou, em um tom baixo, quase sussurrado, mas carregado de uma gravidade que deixava todos tensos. -Um Brix… sobreviveu. Dezoito anos atrás, pensamos que havíamos eliminado cada um deles.- Ele levantou o olhar, uma determinação fria e mortal em seu rosto. -Mas agora, devemos matar o último deles.
Um dos conselheiros se inclinou para frente, o rosto pálido e preocupado. -Senhor, pelo nível de invocação que presenciamos, é essencial eliminá-lo imediatamente. Ele representa uma ameaça. Para isso, eu selecionei sete dos nossos melhores soldados.
O imperador assentiu, um brilho de satisfação em seus olhos. -Muito bem. Quem são eles?
Com um aceno, o conselheiro chamou sete figuras para dentro do salão. Os sete soldados entraram em fila, altos, fortes, e com uma beleza imponente que parecia projetar autoridade e perigo. O conselheiro apresentou cada um deles, com uma reverência.
-Este é Jix, Vix, Nix, Tix, Wix, Yix e Six.
O imperador estudou cada um deles com um olhar afiado, sua aprovação evidente. Finalmente, ele acenou com a cabeça, satisfeito, e voltou-se para os soldados.
-amanhã, vocês sete, junto com meu sobrinho Jhox, ajudarão meu filho Félix a localizar e eliminar o último dos Brix.
CONTINUA...
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Atualizado até capítulo 66
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