Liam estava sentado em uma rocha no alto da colina, banhado pela luz da lua que invadia aquele lugar com sua serenidade prateada. Seu coração estava pesado de culpa; ele se sentia responsável pelo sofrimento dos Brix de luz, criaturas a quem sentia uma conexão inexplicável, e as lágrimas começavam a rolar por seu rosto, silenciosas e amargas. Ele passou a mão nos olhos, tentando conter o choro, mas a dor em seu peito era profunda.
De repente, um dos Brix de luz, ferido e vacilante, desceu do céu e se aproximou dele. A pequena criatura, em um gesto de carinho, passou a língua nas mãos de Liam, transmitindo-lhe conforto e perdão. Liam olhou para o ser brilhante com admiração e arrependimento, sussurrando um pedido de desculpas: -Eu sinto muito… por tudo.
Em resposta, outras dezenas de Brix começaram a sobrevoar ao redor dele, emitindo uma melodia suave e reconfortante, como se quisessem acalmá-lo e abraçá-lo. O olhar de Liam encontrou o da pequena criatura à sua frente, e nos olhos do ser havia um roxo brilhante que capturou sua atenção. Aos poucos, o próprio olhar de Liam começou a mudar, assumindo o mesmo tom de roxo, profundo e reluzente. Sua pele começou a refletir a luz da lua, e seu cabelo, antes laranja, lentamente se tornou branco como a neve.
A visão de uma antiga melodia voltou à mente de Liam, a mesma que ouvira na caverna. Sem pensar, ele ergueu a flauta e começou a tocá-la. As notas se espalharam pela colina e reverberaram pelo reino, e ao seu redor, pequenas esferas de luz começaram a surgir, flutuando suavemente. Era como se cada uma delas fosse um fragmento do próprio espírito dos Brix de luz. Os seres subiram ao céu, suas formas brilhando intensamente, parecendo estrelas gigantes que atravessavam o firmamento. A música de Liam era tão poderosa que atraía cada vez mais luz ao redor, até que o céu parecia um oceano repleto de criaturas luminosas.
Liam, agora completamente transformado em sua forma Brix, ergueu-se no ar enquanto tocava a flauta. Ele era uma visão magnífica, cercado por uma multidão de seres luminosos, e o céu do reino parecia vivo, com animais feitos de pura luz desfilando sobre todos os cantos do clã. Abaixo, todos observavam com olhos encantados e corações tocados.
Yellow, com lágrimas nos olhos, sussurrou: -É a coisa mais linda que já vi…
Maylem, tomada pela emoção, murmurou: -Isso é um sonho… algo além da nossa compreensão.
Sofhax, em êxtase, comentou: -O Liam parece um cisne branco no céu.
Um a um, todos aqueles que estavam observando começaram a cair em um sono profundo, embalados pela melodia mágica e pela paz que ela trazia.
Félix, no entanto, lembrou-se das palavras de seu pai: a ordem para destruir o último Brix e impedir que a lenda se cumprisse. Em um ímpeto de obediência e raiva, ele se ergueu e lançou um sinal de fogo ao céu. Imediatamente, milhares de soldados, escondidos ao redor do reino, surgiram, prontos para atacar.
O céu, que antes era preenchido com luz e harmonia, tornou-se um campo de batalha. Os soldados disparavam suas armas e poderes contra as esferas de luz, destruindo uma a uma. Liam continuava a tocar, tentando acalmar os Brix, mas o ataque era implacável. Félix, consumido por sua missão, acumulou toda a força de seu poder de lava e o lançou em todas as direções, criando uma onda de destruição que transformava os Brix de luz em estátuas duras, que caíam ao chão como pedras.
Com olhos cheios de determinação, Félix voou em direção a Liam, pronto para o golpe final. -Esse é o seu fim, Brix!-gritou, elevando o braço para desferir o ataque.
No entanto, ao abrir os olhos, Liam olhou diretamente para Félix, e nesse momento, uma visão o invadiu. Félix viu duas crianças, sorridentes e alegres, chamando-o de “papai.” A visão era tão real e intensa que o fez hesitar. Os rostos das crianças eram envoltos em uma luz suave, e elas riam com carinho e inocência. Félix sentiu um calor no peito, algo que o fez parar no ar, a mão ainda erguida, sem conseguir atacar.
Quando ele piscou, a visão desapareceu, e a cena ao redor havia mudado completamente. Todos os soldados estavam abatidos no chão, e os Brix de luz haviam desaparecido, sumindo como uma miragem ao amanhecer.
Félix ficou parado, tentando entender o que havia acontecido, enquanto Liam, esgotado, pousava de volta na colina, com um semblante de paz e tristeza misturados.
O dia começava a nascer, e os primeiros raios de sol iluminaram o reino, trazendo consigo um ar de renovação. Todos que haviam adormecido ao som da canção de Liam começaram a acordar, confusos, como se tivessem saído de um sonho. O rei observou o reino ao redor e notou, com um aperto no coração, que todos os Brix de luz haviam se transformado em estátuas de pedra, imóveis, como um vestígio doloroso da noite anterior.
O rei se aproximou das criaturas petrificadas, seus olhos sombrios enquanto tentava entender o que havia acontecido. Ele se virou para Félix, que permanecia em silêncio, segurando Blue em seus braços. Félix evitava o olhar de todos, sem coragem de contar o que realmente se passara na noite anterior.
Ao redor, os alunos despertavam e olhavam para o campo, atordoados, perguntando uns aos outros sobre o que acontecera. Nenhum deles conseguia se lembrar do espetáculo que presenciaram nem do que desencadeou aquela tragédia.
Maylem, ao se levantar, olhou ao redor, percebendo a ausência de Liam. Com uma sensação de urgência, ela se virou para Yellow, que já estava acordada, e sussurrou: -Precisamos encontrá-lo. Algo me diz que ele precisa de nós agora.-
Yellow assentiu, e Sofhax, ainda um pouco atordoada, se juntou a elas enquanto as três corriam pelo reino. Elas atravessaram o campo onde os Brix de luz estavam transformados em pedra, sentindo uma mistura de tristeza e desespero. Foi então que Maylem lembrou-se dos colares que Liam havia dado a elas. Ela tocou o colar, e ele começou a brilhar suavemente, como se mostrasse o caminho.
Guiadas pelo brilho das penas, elas seguiram até uma caverna próxima. Chamaram o nome de Liam enquanto entravam, o eco de suas vozes se perdendo na escuridão da caverna.
Finalmente, ao avançarem mais um pouco, viram uma figura deitada no chão. Liam estava ali, inconsciente, com seu cabelo laranja como sempre, mas com um semblante pálido e cansado. As três correram até ele, preocupadas, e Maylem se ajoelhou ao seu lado, tocando seu rosto suavemente.
-Ele é o último Brix,- sussurrou Maylem, um tom de reverência em sua voz. -Precisamos guardar segredo sobre isso. Se alguém descobrir, ele estará em perigo.
Yellow assentiu, com uma expressão de seriedade. -Sim. Ninguém pode saber o que aconteceu aqui, especialmente… o pai de Sofhax.
As duas olharam para Sofhax, que as observava em silêncio. -Por favor, lembre-se da nossa amizade,- pediu Maylem, o olhar cheio de sinceridade. -Prometa que não contará nada ao seu pai, Sofhax.
Sofhax suspirou, tocada pela confiança das amigas. Com um olhar decidido, ela disse: -Por que acham que eu contaria? Nós somos melhores amigos. Eu juro, nunca contarei nada a ninguém.
As meninas cuidadosamente levaram Liam para fora da caverna, e, à medida que a luz do dia envolvia o grupo, ele começou a abrir os olhos. Ainda confuso, ele olhou ao redor e viu os Brix de luz transformados em estátuas de pedra. O coração de Liam apertou, e lágrimas começaram a escorrer por seu rosto enquanto ele murmurava pedidos de desculpa, sentindo-se responsável pelo que havia acontecido.
Antes que pudesse se perder em sua culpa, as meninas se aproximaram e o envolveram em um abraço acolhedor. Yellow, com uma voz suave, sussurrou: -Você deu a eles a última canção, Liam.
Ele olhou para ela, surpreso, e perguntou, confuso: -Mas… como vocês sabem? Vocês deveriam ter esquecido tudo.- Ele então olhou para os colares no pescoço das três e compreendeu. -Os colares… eles mantiveram a lembrança viva.
Maylem assentiu e sorriu. -Não precisa se preocupar, Liam. Fizemos uma promessa de guardar segredo. Prometemos uma à outra que ninguém saberá disso.
Liam virou-se para Sofhax, hesitante. Ela o olhou com firmeza e disse, com um sorriso sincero: -Prometo, Liam. Nossa amizade vem em primeiro lugar. Confie em mim.
Tomado pela emoção, Liam começou a chorar, tocado pela lealdade e pelo apoio de suas amigas. -Obrigado… por tudo,- ele sussurrou, sua voz embargada pela gratidão.
Com as três ao seu lado, Liam sentiu que, mesmo em meio ao mistério e à dor, ele não estava sozinho. A amizade e o apoio delas o deram forças para enfrentar o que viria, e ele sabia que, juntos, eles protegeriam o legado do clã Brix.
Com um último gesto de carinho, Liam estendeu a mão e tocou a cabeça de um dos Brix de luz, como se quisesse confortá-lo uma última vez. No instante em que o fez, uma onda de memórias e segredos ancestrais o invadiu, revelando visões e fragmentos do clã Brix. Ele viu imagens de pergaminhos antigos, cantos místicos e magias há muito esquecidas, enquanto as histórias do seu clã se revelavam em sua mente.
De repente, uma figura de aparência sábia e serena surgiu em sua visão: um ancião do clã Brix, com olhos profundos e um semblante cheio de propósito. O ancião começou a entoar a mesma canção que Liam ouvira antes, e com uma voz firme, transmitiu a mensagem que ecoou em sua mente como um comando inescapável.
-Você deve trazê-los ao mundo, Liam. Tenha um filho com o garoto das trevas… Félix. Este é o seu destino. Somente assim você trará paz e equilíbrio ao mundo, unindo luz e trevas e restaurando a harmonia entre os elementos. Isso não é um pedido; é o propósito que carrega, e seu tempo está acabando.
Liam sentiu o peso da mensagem sobre si, um destino que ele jamais havia imaginado. Era um caminho que desafiava tudo o que conhecia, mas, ao mesmo tempo, sentia que aquelas palavras não podiam ser ignoradas.
Maylem chamou por ele, puxando-o de volta à realidade. -Vamos, amigo. Precisamos voltar para casa.
Liam olhou para o castelo à distância, e ali, no alto, viu Félix observando-o. Havia uma aura ao redor de Félix, algo que Liam nunca tinha visto antes: uma visão de um dragão colossal, com milhões de cabeças entrelaçadas, como um símbolo de poder e mistério. Ele então olhou para suas amigas e percebeu que também havia auras ao redor delas, mas eram pequenas e delicadas em comparação com a de Félix.
Ele deu um sorriso silencioso, sentindo que uma nova jornada estava apenas começando. Ao caminhar para longe, murmurou para si mesmo, quase como um suspiro: “Faça o que deve ser feito."
CONTINUA.....
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 66
Comments