Assim que terminou seu discurso, Félix virou-se para seu primo Jhox, que o observava com um sorriso de cumplicidade e uma pitada de diversão nos olhos.
-O que você pretende fazer com aquele garoto, Félix?- Jhox perguntou, inclinando-se ligeiramente para sussurrar, mas com uma entonação que deixava claro que ele estava interessado em algo mais. -Ele claramente não entende a importância da hierarquia. Aparecer aqui assim, como se fosse um de nós... Ele só pode estar brincando com o próprio destino.
Félix respirou fundo, tentando controlar a raiva que fervilhava em seu peito. Seus olhos queimavam com a indignação, e ele murmurou, com voz contida mas carregada de intenção: -Eu vou ensinar a ele onde é o lugar dele. Garotos como ele acham que podem desafiar o sistema, mas estão enganados. Esse clã Laranjer... sempre com essa alegria tola, como se fossem superiores às tradições. Eles não entendem o peso que carregamos aqui. A estrutura que nossos antepassados construíram não é algo que alguém como ele possa ignorar.
Jhox soltou uma risada seca, apreciando a determinação de Félix. -Pois é. Você, Félix, é da primeira geração. Você carrega o nome da família e o peso da honra dos nossos antecessores. Deixar esse garoto caminhar por aqui sem saber seu lugar é como cuspir na tradição. Lembra quando vovô sempre dizia que os outros clãs existem porque nós, Fomeger, permitimos? É o nosso clã que decide quem tem o direito de começar qualquer coisa. Ele quebrou a primeira lei, Félix. Se não fizer nada, ele vai continuar desrespeitando a hierarquia. Imagine o que vovô diria se soubesse.
Félix cerrou os punhos, a fúria queimando em seu peito. -O vovô sempre nos ensinou que o respeito à ordem dos clãs é sagrado. Que a hierarquia é o que mantém tudo em equilíbrio. Deixar alguém como ele desafiar isso é colocar tudo em risco. Eu vou garantir que ele nunca mais esqueça onde pertence.
Jhox assentiu, um brilho de aprovação nos olhos. -Então faça isso. Mostre a ele o que significa estar no colégio dos grandes clãs. Ensine a ele as regras da hierarquia de uma vez por todas. E não se preocupe com vovô... ele não precisa saber de todos os detalhes. O importante é que você mantenha a ordem.
Com um olhar sombrio e uma determinação inabalável, Félix começou a caminhar na direção de Liam. Cada passo ecoava pelo corredor, e Liam, parado, observava a aproximação de Félix com o coração acelerado. Era como se o ar ao redor de Félix emanasse uma energia quente e intensa, quase sufocante. A cada metro que Félix se aproximava, Liam sentia o próprio corpo arder, como se estivesse sendo consumido por um fogo invisível, uma pressão implacável.
Finalmente, quando Félix estava a poucos passos de distância, prestes a confrontar Liam de uma vez por todas, uma voz suave e alegre ecoou pelo corredor, quebrando o clima pesado.
-Amigo! Quanto tempo!- Liam virou-se e viu uma figura envolta em uma presença quase mágica, como se ela fosse parte da própria natureza. Seus cabelos escuros caíam em ondas que se misturavam com pequenas folhas e vinhas, como se a floresta houvesse a abraçado e se entrelaçado a ela. Seus olhos, profundos e enigmáticos, refletiam uma sabedoria que parecia de outra era, e seu semblante exalava força e serenidade.
Ela sorriu para Liam, ignorando completamente a tensão no ar, e sua voz trouxe uma calma instantânea ao ambiente, como se fosse capaz de dissipar as emoções intensas ao seu redor. Vestida com tons de verde e adornos que pareciam feitos de folhas e galhos, ela era uma figura que irradiava vida e conexão com a natureza.
A chegada dela fez Félix parar por um instante, claramente desconcertado pela interrupção, enquanto Liam a observava, sentindo-se inesperadamente aliviado, como se aquele encontro tivesse sido um sinal de que tudo ficaria bem.
Assim que a garota se aproximou de Liam, ela abriu um sorriso caloroso, como se estivesse reencontrando um velho amigo. Ignorando completamente o clima tenso, ela colocou a mão suavemente no ombro dele e disse com uma voz tranquila:
-Amigo, você saiu de perto de nós. Eu lhe disse para não sair.- Seu tom era afetuoso, mas havia uma firmeza subjacente em suas palavras. Ela lançou um breve olhar para Félix, antes de continuar. -Vamos pedir desculpas ao Félix.
Liam, ainda um pouco confuso, olhou para Félix. Por um breve instante, seus olhos brilharam em um tom roxo intenso, uma cor que parecia exalar uma força adormecida. Mas, surpreendentemente, Félix não reagiu; seu olhar permaneceu firme, sem demonstrar nenhuma curiosidade ou surpresa com a mudança repentina nos olhos de Liam.
Obedecendo ao pedido da garota, Liam abaixou a cabeça junto com ela, ambos em um sinal silencioso de desculpas. O gesto era humilde, mas ao mesmo tempo parecia carregar algo inexplicável, uma espécie de dignidade que desarmou momentaneamente a tensão.
Em seguida, a garota segurou a mão de Liam e o guiou para longe daquele corredor, afastando-o da intensidade do olhar de Félix. Eles caminharam juntos, desaparecendo rapidamente da vista de Félix e Jhox, deixando ambos sem entender exatamente o que havia acontecido.
Félix ficou parado, observando a cena com um misto de confusão e uma raiva ainda mais profunda. A intervenção inesperada da garota não apenas impediu seu plano de ensinar uma lição a Liam, mas também deixou uma sensação de inquietação, como se, por um momento, o controle que acreditava ter sobre a situação tivesse escapado de suas mãos.
Assim que Liam e a garota desapareceram no corredor, Jhox aproximou-se de Félix com um sorriso debochado e malicioso nos lábios. Ele cruzou os braços e olhou para Félix de cima a baixo, balançando a cabeça lentamente.
-Então é isso?- Jhox começou, sua voz carregada de ironia. -Você aceitou um pedido de desculpas tão simples assim? Um mero abaixar de cabeça e pronto? Eu esperava mais de você, Félix. Isso foi... patético.
Félix cerrou os punhos, os músculos de seu maxilar se contraindo. A raiva que antes estava controlada agora começava a escapar como um fogo incontrolável. Jhox, percebendo o efeito de suas palavras, continuou, implacável.
-Por que você não usou sua autoridade, Félix? Você é da primeira geração! Aquele garoto e essa garota são de clãs diferentes, e eles quebraram as regras logo na sua frente. E você… simplesmente deixou eles irem?- Jhox soltou uma risada seca e debochada. -Francamente, parece que você é o fraco aqui.-
Félix sentiu o sangue subir ao rosto, a fúria tomando conta de cada fibra de seu corpo. Sem dizer uma palavra, virou-se e começou a caminhar, os passos firmes e decididos, tentando afastar-se das provocações do primo. Mas Jhox não parou, a voz dele ecoando no corredor.
-Fraco!-Jhox chamou, rindo, enquanto Félix se afastava. -Você está mostrando fraqueza, Félix! Vovô ficaria decepcionado!
As palavras de Jhox queimavam em sua mente, cada sílaba aumentando a ira de Félix. Ele sabia que a provocação do primo havia sido deliberada, uma tentativa de ferir seu orgulho e, naquele momento, Félix estava mais determinado do que nunca a provar sua força – não apenas para os outros, mas para si mesmo.
A garota de cabelo verde levou Liam até um canto mais isolado, onde uma outra menina os aguardava. Ela tinha cabelos de um tom amarelo vibrante, presos em um estilo delicado que combinava perfeitamente com seus brincos grandes e redondos, como pequenos sóis. Seus olhos o analisaram com curiosidade, enquanto a primeira garota soltava um suspiro irritado.
-Você tem sorte de estar vivo ainda,- murmurou a garota de cabelo verde, visivelmente frustrada. "Estou ferrada agora por sua causa. Meu pai vai me matar por isso." Ela passou a mão pela cabeça, tentando acalmar-se, e então olhou diretamente para ele. -Qual é o seu nome?
-Liam,- ele respondeu, com um leve sorriso, tentando esconder o nervosismo.
A garota de cabelo amarelo inclinou a cabeça, os olhos fixos em Liam com um brilho de suspeita. -Você não é do clã Laranjer, né? Eu tenho certeza disso.
Liam sentiu um aperto no peito e, numa tentativa de defender sua identidade, respondeu de imediato: -Eu sou sim! Sou do clã Laranjer.
A garota de cabelo amarelo, que se apresentou como Yellow, soltou uma risada leve, mas sem desviar o olhar inquisitivo. -Então me explica uma coisa, Liam. Como é que você não sabe as regras da hierarquia? Foi o seu clã que as escreveu.
Liam desviou o olhar, sentindo o peso da vergonha. -Minha família foi expulsa antes de eu nascer,- explicou ele, a voz um pouco trêmula. -Eu nunca tive acesso a essas leis, e honestamente… não imaginei que estaria em apuros por isso.
Yellow trocou um olhar rápido com a garota de cabelo verde, antes de se voltar novamente para Liam. Ele, tentando suavizar o clima, lançou um sorriso tímido e perguntou: -E qual é o nome de vocês?
A garota de cabelo amarelo sorriu, agora mais gentil. -Eu sou Yellow, do clã Sow,- disse ela. Em seguida, apontou para a garota de cabelo verde. -E ela é Maylem, do clã Very.-
Liam assentiu, sentindo-se um pouco mais aliviado por ter alguém que, ao menos por enquanto, parecia estar do seu lado.
Félix estava sentado na poltrona de couro da sala VIP do colégio, cercado pelo luxo e pela sombra de seu próprio poder. Seus olhos fixaram-se em Jhox, estreitos e frios, enquanto o silêncio pesado entre eles parecia vibrar no ar. Finalmente, ele quebrou o silêncio, sua voz baixa, mas carregada de uma autoridade quase palpável.
-Traga aquele garoto para mim. Quanto aos Crumples, você pode cuidar deles.
Jhox ergueu uma sobrancelha, claramente divertindo-se com a raiva que percebia em Félix. Ele cruzou os braços, sorrindo de maneira insolente, como se estivesse se preparando para provocar ainda mais. -Ah, sério? Ainda remoendo o pedido de desculpas? Achei que a primeira geração tivesse mais... controle.- Ele soltou uma risada seca. -Ou será que a garota te intimidou, Félix?
Por um breve momento, o rosto de Félix permaneceu inexpressivo, uma máscara de gelo. Mas então, como uma explosão repentina, ele se levantou e avançou em direção a Jhox. Antes que Jhox pudesse reagir, sentiu o impacto de um soco brutal, a dor irradiando do ponto de contato como uma onda. Félix não parou por aí; agarrou Jhox pela gola, puxando-o para mais perto, os olhos dele brilhando com uma fúria intensa, quase animalesca.
-Você vai aprender a respeitar seu lugar, Jhox,- sussurrou Félix, a voz baixa e mortal, cada palavra saindo como uma lâmina afiada. -Eu não sou alguém que você provoca. Não sou alguém que você desafia. E definitivamente, não sou alguém que aceita deboches.- Ele deu mais um empurrão, fazendo Jhox tropeçar para trás.
Jhox levou a mão à boca, sentindo o gosto de sangue, mas o orgulho ferido ardia ainda mais do que a dor. Ele lançou um olhar de ódio para Félix, mas soube que não podia responder, pelo menos não ali e agora. O poder de Félix, somado à sua posição como membro da primeira geração, tornava qualquer retaliação um risco elevado.
-Vai buscar o garoto. Agora,- Félix ordenou, sua voz carregada de uma calma perigosa, como um vulcão prestes a explodir.
Por um segundo, Jhox considerou ignorá-lo, mas a intensidade do olhar de Félix o fez pensar duas vezes. Ele respirou fundo, tentando engolir a humilhação, e assentiu, recuando com passos tensos em direção à porta. Ao sair, ele lançou um último olhar cheio de rancor, prometendo a si mesmo que encontraria uma maneira de devolver aquela humilhação.
Mas, por enquanto, ele obedeceu.
CONTINUA.....
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Atualizado até capítulo 66
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