Capítulo 10

...🌻Augusto Avlis🌻...

Ela estava lá. Lívia.

E quando vi ela atravessar o salão, por um momento, o som ao redor sumiu. Como se o mundo inteiro tivesse sido deixado no mudo, só para que eu pudesse ver ela e, cara, ela estava ainda mais linda do que eu lembrava. O vestido preto, com aquele brilho sutil, e o jeito com que ela carregava aquilo tudo, como se fosse dona do lugar… Me vi incapaz de desviar o olhar.

Eu pensei que já tinha superado. Foram anos, com tanta coisa acontecendo, e tantas vezes achei que aquele sentimento tinha ficado para trás. Mas, agora, vendo-a ali, toda a certeza que eu tinha desmoronou. Cada detalhe dela me lembrava porque, um dia, achei que ela era a única pessoa no mundo que entendia o que eu sentia, o que eu queria alcançar.

Meus amigos notaram o meu silêncio e seguiram meu olhar.

— Aquela não é…? — Bruno perguntou, me dando um empurrãozinho, um sorriso malicioso estampado no rosto.

Balancei a cabeça, tentando manter a calma.

— É, cara. É ela. — tentei soar despreocupado, mas a verdade é que cada segundo que eu olhava para ela, era como se o passado e o presente se misturassem numa confusão de lembranças.

— Então vai falar com ela — Bruno insistiu, rindo.

Suspirei, sabendo que eu devia, mas parte de mim temia. Nossa última conversa, anos atrás, não foi exatamente o fim que eu esperava. Mas, antes que eu pudesse decidir, ela desviou o olhar e continuou conversando com as pessoas ao redor, como se eu fosse apenas mais um rosto ali, alguém que talvez ela quisesse evitar.

Senti um misto de alívio e frustração. Parte de mim queria ir até ela e perguntar como tinha sido todo esse tempo, saber sobre sua vida, ouvir o que ela tinha para dizer. A outra parte, a que ainda sentia a dor daquela despedida, me dizia que era melhor ficar onde estava. Afinal, nós dois tínhamos seguido caminhos diferentes, e talvez fosse melhor assim.

Mesmo assim, toda vez que eu olhava para ela, tudo o que passamos juntos me voltava como uma avalanche. A garota de quem me despedi anos atrás tinha se transformado em uma mulher incrível, e parte de mim ainda se perguntava como seria se o destino tivesse nos levado em outra direção.

A noite continuou, mas a sensação de ter Lívia tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante, não me deixava. Eu conversava com algumas pessoas, fingia que estava atento às perguntas e aos elogios sobre o campeonato, mas minha cabeça estava em outra dimensão.

Em uma fração de segundo, eu a via do outro lado do salão, rindo de algo que alguém ao lado dela disse, e aquilo me acertava de um jeito que eu não esperava. Era aquele riso leve, o mesmo que ela tinha quando falávamos sobre qualquer coisa, e parecia que nada ao nosso redor importava.

Bruno se aproximou de novo, percebendo minha inquietação, e dessa vez seu tom era mais sério.

— Augusto, não acha que já chegou a hora? De deixar isso claro pra ela? Pelo menos, saber o que realmente sobrou entre vocês dois?

Olhei para ele, respirando fundo. Por mais que eu quisesse evitar, sabia que ele estava certo. Aquilo não era só uma festa, nem um reencontro casual. Era uma chance, talvez a última, de falar o que eu nunca disse: o quanto ela ainda significava para mim, mesmo depois de todo esse tempo.

Decidi não pensar muito e caminhei em direção a ela, o coração acelerado. Quando cheguei perto, vi o momento em que ela me notou, os olhos dela se arregalando levemente antes de disfarçar e tentar se recompor. Ela mantinha aquele ar de calma, mas eu sabia, pelo brilho nos olhos, que ela sentia algo também. Algo que ainda estava ali, adormecido, mas vivo.

— Oi, Lívia. — minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia, quase um sussurro.

Ela sorriu, mas era aquele sorriso controlado, como se tentasse manter a pose.

— Augusto, oi… parabéns pelo campeonato. — disse, e sua voz soava firme, quase distante, como se estivesse tentando se proteger.

Eu não sabia por onde começar. Anos haviam se passado, e o que eu sentia parecia muito mais forte agora, como se tudo que estivesse guardado finalmente pedisse para sair.

— Obrigado. Eu… só queria te dizer que fiquei muito feliz por tudo que você conquistou. Você está brilhando, Lívia.

Ela desviou o olhar, parecendo emocionada, mas logo voltou a me encarar.

— Eu também fico feliz por você, Augusto. Tudo que você conquistou… você merece.

Ficamos em silêncio, uma pausa longa, onde parecia que cada palavra não dita se acumulava entre nós.

— Eu ainda penso em você, sabia? — acabei confessando, antes que pudesse me segurar.

Ela ficou quieta por um momento, como se estivesse pesando cada palavra. Quando finalmente falou, seu tom era suave, quase como uma carícia.

— Acho que uma parte de mim sempre vai pensar em você também.

Aquelas palavras, simples, mas tão sinceras, me deixaram sem chão. Era como se todo o tempo que passou não tivesse apagado nada, apenas mantido as coisas em um estado de espera.

— Então… o que isso significa pra nós? — perguntei, sentindo meu coração batendo forte.

Ela sorriu, um sorriso triste, como quem já conhecia a resposta.

— Augusto, nossas vidas mudaram. A gente mudou. Talvez… talvez seja melhor que guardemos isso como uma lembrança. Algo bonito que viveu e que ainda vive, mas em outro lugar.

A dor de ouvir aquilo era maior do que eu queria admitir. Mas, de alguma forma, eu entendia. Sabia que, apesar do que ainda sentíamos, nossas vidas tinham seguido direções diferentes. Ela, uma estilista mundialmente conhecida, com sua própria carreira. E eu, com o vôlei, carregando um peso e um ritmo que também eram parte de mim.

— Se é isso que você quer… — respondi, sentindo um nó na garganta.

Ela assentiu, e o olhar dela era de despedida, mas também de paz.

Quando nos afastamos, senti que algo dentro de mim havia se fechado. Era como se, finalmente, eu estivesse pronto para deixar aquele capítulo descansar. Eu sempre a teria em mim, como uma lembrança preciosa, mas, talvez, fosse hora de seguir em frente.

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