Capítulo 07

...🌻Lívia Fiore🌻...

Paris tinha uma magia própria, algo que me fazia sentir viva e capaz de tudo. Apresentar minha coleção ali, num dos maiores eventos de moda do mundo, era um sonho que, por muito tempo, parecia impossível. Mas agora estava acontecendo.

Cada tecido, cada corte, cada detalhe ganhava vida na passarela, sob os holofotes. Ver o resultado final, rodeada por críticas positivas e elogios de estilistas renomados, era quase surreal.

Após o desfile, os convidados se reuniram no coquetel, e eu estava rodeada de colegas e admiradores do trabalho, todos celebrando o sucesso da coleção. O celular vibrava com mensagens e notificações, parabenizações e notícias sobre o evento. A sensação de realização era indescritível, e por mais que estivesse exausta, a felicidade me mantinha firme, sorrindo a cada brinde, a cada palavra de apoio.

Enquanto me misturava às conversas, Marc, meu colega e parceiro em alguns projetos, aproximou-se com duas taças de champanhe, oferecendo uma a mim.

— Brindando ao sucesso da noite? — perguntou, me encarando com um sorriso satisfeito.

— E por tudo que vem pela frente — respondi, tocando minha taça na dele.

Quando o evento terminou e o salão ficou em silêncio, saí para caminhar um pouco pelas ruas iluminadas de Paris. Era uma noite fresca e calma, e a cidade, com sua beleza imponente, trazia um sentimento de paz que eu tanto precisava.

Caminhei sozinha, refletindo sobre o caminho até ali, e sobre como, em momentos como esse, eu desejava compartilhar minha felicidade com alguém que compreendesse verdadeiramente a intensidade dessa jornada.

...[...]...

O avião pousou em São Paulo de manhã bem cedo. A sensação de estar de volta era quase estranha. Com a correria da carreira, fazia duas semanas que eu não pisava no Brasil, e logo ao sair do aeroporto, senti aquele misto de saudade e familiaridade.

A voz animada de Thalita me chamou assim que saí pelo portão de desembarque. Ela estava lá, acenando como se fosse uma celebração, com aquele sorriso enorme que eu conhecia tão bem. Corri para abraçá-la, e foi como se uma parte de mim voltasse ao lugar. Thalita sempre soube como me trazer de volta para o que realmente importava.

— Eu nem acredito que você voltou! Paris não queria te devolver não? — ela brincou, me apertando com força.

— Quem diria, né? Eu precisava de um tempo longe de tudo isso — respondi, rindo.

Fomos direto para o carro dela, e no caminho, Thalita começou a me atualizar sobre cada detalhe da vida dela e das novidades de São Paulo, com aquele jeito animado e envolvente.

Passamos pelas ruas que sempre conheci, e era uma sensação reconfortante ver que o tempo parecia ter desacelerado ali. Enquanto ela contava as histórias e as fofocas, fui sentindo que estar de volta era exatamente o que eu precisava.

Quando chegamos ao meu prédio, peguei as malas e, ao entrar no apartamento, fui surpreendida com pequenas surpresas que Thalita tinha deixado. Flores sobre a mesa, um vinho esperando por nós e até uma playlist das músicas que adorávamos ouvir durante a faculdade.

— É um reencontro com você mesma, amiga — Thalita disse, entregando-me uma taça de vinho.

Sorri, emocionada com o cuidado dela. Sentamos no sofá, conversando e rindo como nos velhos tempos. Ela era a amiga que me conhecia como ninguém, que entendia as partes de mim que ficaram guardadas. E ali, com a simplicidade do momento, soube que voltar ao Brasil não era apenas um descanso — era um reencontro com a vida que me lembrava quem eu realmente era.

— Meu celular não para de vibrar, tive que silenciar o Twitter. – disse pegando meu celular.

— é sobre...

— É sobre o campeonato, né? — Thalita perguntou, com um sorriso de canto de boca.

Assenti, soltando um suspiro.

— Sim… E, claro, sobre o passado também. — Tentei desviar o olhar, mas o rosto de Thalita mostrava que ela tinha compreendido.

Meu celular estava lotado de notificações, fãs relembrando nosso passado, "shippando" o que um dia fomos. Era engraçado como algumas pessoas nunca esqueceram daquela história. Em cada foto nova que Augusto postava, em cada vitória, eu ainda estava de alguma forma conectada a ele, mesmo que o tempo tivesse levado cada um para um caminho diferente.

A curiosidade alheia, o desejo de que ainda estivéssemos juntos… Era como se o mundo inteiro tivesse um pedacinho de memória nossa, e agora parecia que, mais do que nunca, todos faziam questão de me lembrar disso.

— E como você se sente sobre isso? — Thalita perguntou com um tom suave, sem julgamentos.

— É estranho, Tha. — Dei uma risada curta, quase sem humor. — Fico feliz pelo sucesso dele, de verdade. Ele merece. Só que às vezes me sinto presa em algo que ficou para trás, sabe? As pessoas não me veem pelo que sou hoje… Elas ainda me veem como alguém ligada ao Augusto.

Thalita segurou minha mão, me encarando com um olhar compreensivo.

— Você conquistou tanto, Lívia. Você é uma das maiores designer do mundo agora, uma mulher que transformou seus sonhos em realidade. Eles podem comentar o quanto quiserem, mas isso não muda nada. Você sabe quem é.

Essas palavras me confortaram mais do que eu podia admitir. Saber que eu tinha alguém ao meu lado que realmente entendia minha trajetória, sem deixar que o passado me definisse, me fazia sentir mais leve.

— Você tem razão, Tha. O que vivemos foi lindo, mas ficou no passado. Agora, preciso viver o meu presente, do jeito que sempre quis.

Ela sorriu, levantando a taça de vinho num brinde silencioso. E naquele instante, decidi que, independentemente dos rumores e do que as pessoas esperassem de mim, o mais importante era seguir em frente, construir a minha história sem deixar que sombras do passado interferissem no que eu queria para o futuro.

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